Durante a presente reflexão pretende-se responder a seguinte questão: Como os novos professores em formação irão encarar a docência e o mundo acadêmico pós ensino remoto? Além disto, deseja-se saber se o professor continuará a ser feliz.
De início, deve-se lembrar que a formação de qualquer profissional sempre foi
um desafio aos responsáveis por esta missão. Desde os modelos mais antigos de
formação, até os atuais, o desafio está atrelado a esta responsabilidade.
Todavia, existem peculiaridades relativas a cada profissão, muitas das quais,
singulares, específicas, e o formador deve estar ciente disto.
Ao se pretender a formação de certo profissional, deve-se pensar inicialmente
sobre a real necessidade de sua existência e qual seria seu público alvo.
Portanto, as perguntas poderiam ser estas: Qual a real necessidade deste
profissional e por que deve-se investir em sua formação? Quem ele irá atender?
Particularmente, o professor não é um profissional que se pode prescindir. O
professor integra o rol de profissionais sempre presentes nas diferentes
demandas da humanidade, por isso, excepcionalmente, na formação de professores
já se tem, implicitamente ou tradicionalmente, a resposta para as duas
indagações anteriores. É notório o conhecimento da sociedade sobre a
importância do professor, daí esta certeza.
Entretanto, não obstante tal segurança, da necessidade e do público alvo, ao se
formar um professor, deve-se saber acerca de seu público alvo específico,
localidade onde atuará e as condições de trabalho que terá, dentre tantas
outras variáveis.
Verificando-se por meio da literatura de que há séculos, diversas nações têm
manifestado preocupação com relação à formação de seus professores, conclui-se
que o tema da presente discussão é praticamente atemporal, embora os objetivos
necessitem sempre de atualização, em face da necessidade contemporânea,
sobretudo quanto à especificidade do professor.
Diante deste universo, pensa-se no momento atual, vivenciado pela humanidade,
durante a travessia de uma crise político-social, decorrente de uma pandemia,
inimaginável e, portanto, imprevista pelos vários gestores, nos diferentes
segmentos da sociedade. Nesse contexto, apresenta-se então a questão exposta no
início desta reflexão: Como os novos professores em formação irão encarar a
docência e o mundo acadêmico pós ensino remoto? E se o professor continuará a
ser feliz.
Estas perguntas, por mais naturais que possam parecer, vêm acompanhadas de
questões subliminares, as quais poderiam ensejar um texto sobre o assunto.
Responder objetivamente a tal questionamento não é simples; mesmo porque, as
variáveis contidas nele são inúmeras e adensariam o conteúdo deste artigo.
Diante destas dúvidas, porém, como formador de formadores, ou formador de
pessoas que irão formar os cidadãos das próximas gerações, deve-se ser
otimista, pois um formador, um pesquisador da educação, um cientista da
educação que não for otimista, terá grande chance de esmorecer pelo caminho e
desistir da nobre missão que é a de formar professores, professores felizes. E
a que se deve ou se dá tal otimismo? O otimismo se dá no próprio contexto da
crise, uma vez que o empirismo não deixou de existir e o conhecimento continua
a ser obtido também empiricamente, conhecimento este que deve culminar com
saberes. O cientista sabe muito bem fazer isto: extrair das experiências
proveitos importantes para a obtenção de resultados e soluções de problemas.
A súbita necessidade da utilização de recursos tecnológicos digitais, com meios
remotos de comunicação, proporcionou aprendizados importantíssimos em tão pouco
tempo, que, não fosse a crise, talvez levar-se-ia anos para serem obtidos. Por
isso, em meio à pandemia, muito se aprendeu e os professores, formadores de
professores, estão entre estes aprendizes. Resultado: os próprios alunos destes
professores, futuros professores, oxalá pós-pandemia, terão sido formados não
só com uma fundamentação teórica, como costumava ser antes da hecatombe, mas
também com uma prática efetiva, uma prática de Metacognição.
Sabe-se que os currículos dos cursos de Licenciatura, como são chamados os
cursos de formação de professores no Brasil, já possuíam e continuam a possuir
ensaios, práticas docentes simuladas, estágios etc., todavia, o aprendizado
empírico adquirido neste tempo de crise ficará indelével para esta geração.
Certamente, os professores que estão se formando durante a atual realidade da
crise político-social serão bem diferentes de seus próprios professores, que
tiveram de se reinventar para poderem lograr o êxito desejado.
Os novos professores em formação irão encarar a docência e o mundo acadêmico
pós ensino remoto de forma muito mais pragmática e possivelmente menos
romântica, porém, não menos importante. Esta nova realidade levará a um novo
modelo de educação, a uma nova escola e a um novo comportamento da família
quanto ao desenvolvimento da criança e do adolescente. Diversas universidades,
sobretudo do hemisfério norte, onde o ano letivo se inicia por volta do mês de
agosto ou início de setembro, já estão com novos projetos pedagógicos para
serem implementados, fato que, de igual modo, também deverá ocorrer nas
universidades brasileiras num futuro próximo.
Nesse todo, apesar das intempéries e contratempos destacados, o lema "Ser
Professor é ser feliz" deve continuar.
Ítalo Francisco Curcio - doutor e
pós-doutor em Educação. Pesquisador no curso de Pedagogia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
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