Fumo
é o principal responsável pelo surgimento de câncer de pulmão, tipo que mais
mata em todo o mundo; Vaporizadores atraem consumidores jovens e as
consequências do novo hábito para a saúde preocupam
Todos os anos, em 31 de maio, é celebrado o Dia Mundial Sem Tabaco. E diante dos
desafios impostos pela pandemia, a data é marcada por um alerta relacionado aos
novos tipos de fumo, que têm atraído cada vez mais os mais jovens. Segundo o
Ibope Inteligência, o número de pessoas que usam cigarro eletrônico no Brasil
já havia dobrado nos doze meses que antecederam a Covid-19. A pesquisa
demonstrou que os praticantes deste tipo de tabagismo saltou de 0,3% da
população para 0,6%, tendo registrado aumento ainda maior em São Paulo e no Rio
de Janeiro. São cerca de 600 mil usuários brasileiros da tecnologia que, dizem
os especialistas, é capaz de causar tanto dano quanto o cigarro tradicional. O
design moderno e a produção menor de fumaça são alguns dos atrativos deste
produto. Esse cenário acende um alerta para os riscos relacionados a complicações
respiratórias e potencial impactos nos índices de incidência de doenças graves,
como o Câncer.
O oncologista clínico Bruno Ferrari, fundador e presidente do Conselho de
Administração do Grupo Oncoclínicas, alerta para os riscos do chamado vape. "Nós
vemos novas formas de tabagismo chegando, como esse dispositivo tecnológico,
por exemplo. E apesar de muitas pesquisas apontarem para os malefícios causados
pelos cigarros tradicionais, as alternativas como os cigarros light,
eletrônicos ou narguilés também podem ser prejudiciais à saúde. Eles têm
atraído principalmente os adolescentes, pelo formato, pela novidade e pela
falta de informação também sobre o impacto nocivo deles. Estamos vendo uma
geração ‘livre’ do cigarro aderir a versões mais modernas do mesmo mal".
O médico explica que o cigarro eletrônico vaporiza um líquido que contém uma
grande quantidade de nicotina e seu uso deve ser um ponto de alerta para a
sociedade. Não há estudos definitivos que indiquem a extensão do impacto desses
novos tipos de fumo no desenvolvimento de cânceres, o que está relacionado à
própria existência recente desses dispositivos e também porque seu uso é muito
variado: há pessoas que fumam apenas ele, outras que consomem cigarros
eletrônico e convencional, aquelas que nunca fumaram cigarro convencional e
foram direto para o eletrônico, as que substituíram o convencional pelo
eletrônico.
"Em teoria, os e-cigarros seriam menos nocivos à saúde por conter uma
quantidade de ‘ingredientes’ com potencial cancerígeno muito inferior ao do
cigarro tradicional. Todavia, mesmo sem contar com itens como o tabaco em sua
composição, esses dispositivos eletrônicos possuem outros elementos que podem
ser altamente prejudiciais", comenta Carlos Gil Ferreira, médico líder de
oncologia torácica do Grupo Oncoclínicas e presidente do Instituto
Oncoclínicas.
De acordo com ele, de fato o que deve ficar claro é que este produto não é
desprovido de malefícios. "Mesmo não queimando tabaco, o dispositivo
eletrônico tem substâncias nocivas. Ainda não temos como saber quais serão as
consequências do consumo desse tipo de cigarro a médio e longo prazos. Teremos
que esperar talvez 20 anos para medir isso, o que pode ter consequências para a
vida e o bem-estar de toda uma geração".
Por isso, os especialistas são categóricos em afirmar que o aumento no consumo
de cigarros eletrônicos representa um retrocesso para o Brasil. O país é
reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um exemplo no combate
ao tabagismo, tendo um dos menores índices de fumantes do mundo: cerca de 10%
da população acima de 18 anos, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
"Mesmo com os avanços obtidos a partir de campanhas contra o fumo, os
desafios não param de chegar. Depois de anos diminuindo o número de fumantes,
principalmente entre jovens - o que é super importante, já que a maioria dos
que continuam fumando começaram nessa época da vida -, o aumento grande de
pessoas usando o cigarro eletrônico não pode ser ignorado. O apelo tecnológico
é uma das coisas que atraem os mais novos e é preciso conscientizar a população
que, mesmo eles, são potencialmente tóxicos e levam à dependência", frisa
Bruno Ferrari.
Tabagismo ainda é a principal causa de câncer
O tabagismo continua sendo o maior responsável pelo câncer de pulmão em todo o
mundo. Aliás, não apenas deste tipo de tumor: o fumo em qualquer uma de suas
formas contribui de forma significativa para o desenvolvimento de câncer de
cabeça e pescoço, esôfago e pâncreas, assim como para muitas outras condições,
como acidentes cerebrovasculares e ataques cardíacos mortais.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões
de pessoas por ano. Mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto
deste produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes
expostos ao fumo passivo. A OMS afirma ainda que cerca de 80% dos mais de um
bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda. No Brasil,
443 pessoas morrem a cada dia por causa do tabagismo e, ao todo, mais de 50 mil
brasileiros perdem a vida todos os anos em decorrência de cânceres causados
pelo hábito - quase metade deles por tumores de pulmão, conforme dados do INCA.
A entidade aponta ainda que mais de 161 mil mortes poderiam ser evitadas anualmente
se o tabaco fosse evitado.
"Todo ano, cerca de dois milhões de pessoas são diagnosticadas com câncer
de pulmão ao redor do globo. E quem fuma tem de 20 a 30 vezes mais chances de
desenvolver esse tipo de tumor. Em 79% dos casos de câncer de pulmão, por
exemplo, os pacientes eram fumantes, ou ex-fumantes. Isso porque as substâncias
químicas presentes no cigarro danificam e provocam mutações no DNA das células
pulmonares, fazendo com que deixem de ser saudáveis e se transformem em células malignas", diz Carlos Gil.
O hábito de fumar também contribui para o aumento no risco de
ocorrência de ao menos outros 12 tipos de câncer: bexiga, pâncreas, fígado, do
colo do útero, esôfago, rim e ureter, laringe (cordas vocais), na cavidade oral
(boca), faringe (pescoço), estômago e cólon, leucemia mielóide aguda.
Adicionalmente, o tabagismo é um dos hábitos relacionados a formas mais graves
de infecção pelo novo coronavírus.
Luta contra o fumo
Nunca é tarde demais para abandonar o vício,Os oncologistas são também
categóricos ao mencionar que pacientes com tumores de pulmão que abandonam o
cigarro obtêm uma melhora na capacidade de oxigenação que favorece a redução de
possíveis efeitos colaterais das terapias empregadas , o que contribui para uma
melhor resposta ao tratamento e com ganhos evidentes para a qualidade de vida.
"Pessoas que abandonam o cigarro podem colher os benefícios duas vezes:
prevenindo mais danos às células pulmonares relacionados a esse hábito nada
saudável e dando aos pulmões a chance de se recuperar dos danos
existentes", frisa Bruno Ferrari.
Essa realidade pode ser colocada em forma de linha do tempo: apenas 20 minutos
após interromper o consumo de tabaco, a pressão arterial volta ao normal e a
frequência do pulso cai aos níveis adequados. Em 8 horas, os níveis de monóxido
de carbono no sangue ficam regulados e o de oxigênio aumenta. Passadas 24
horas, o risco de se ter um acidente cardíaco diminui. E após 48 horas, as
terminações nervosas começam a se recuperar e os sentidos de olfato e paladar
melhoram.
Passados três meses, a circulação sanguínea melhora e caminhar torna-se mais
fácil com a função pulmonar se recupera em até 30%. A partir de um a nove
meses, os sintomas como tosse, rouquidão e falta de ar ficam mais tênues. Em
cinco anos, a taxa de mortalidade por câncer de pulmão de uma pessoa que fumou
um maço de cigarros por dia diminui em pelo menos 50%. Quinze anos após parar
de fumar, torna-se possível assegurar que os riscos de desenvolver câncer de pulmão
se tornam praticamente iguais aos de uma pessoa que nunca fumou.
https://www.grupooncoclinicas.com/
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