O solo não possui somente um, mas um número astronômico que demonstram a importância da vida microbiana nos solos. Esses diferentes microrganismos (bactérias, fungos, protozoários, etc.) somam mais de um bilhão de bactérias e cinco quilômetros de micélio fúngico em um único grama de solo. Apesar de pouco conhecidos, as bactérias e fungos presentes no solo desempenham, no entanto, um papel essencial, influenciando na qualidade e na produtividade do solo.
O solo é um
ecossistema por si só. Além de cumprir funções físicas (substrato) e químicas
(nutrição), é um ótimo habitat para muitos organismos. A atividade e a
diversidade desses microrganismos têm efeitos fantásticos na qualidade do solo
e na ciclagem de nutrientes, como nitrogênio e fósforo. Os solos agrícolas não
são exceção.
Os
microrganismos estão presentes para melhorar as plantas em sua nutrição, mas
também na ajuda a resistência ao estresse e na luta contra pragas e doenças.
A pesquisa
tem desenvolvido produtos com objetivo de encontrar microrganismos que tragam
benefícios reais às plantas, bem como preservar o equilíbrio do solo. Os
bilhões de microrganismos desempenham uma ou mais funções no solo. A mesma
função pode ser realizada por diferentes microrganismos.
Porém, a
imensa quantidade desses microrganismos não é garantia de qualidade nos
"serviços" prestados ao ecossistema. A noção de diversidade é tão
importante, se não a mais. Entre as milhares de espécies de bactérias do solo,
algumas são identificadas e reconhecidas por seu papel benéfico na agricultura.
É o caso, por exemplo, das bactérias do gênero Bradyrhizobium, que se associam
às leguminosas formando nódulos e convertendo o nitrogênio atmosférico em
amônio, fonte de nitrogênio que pode ser aproveitada pela planta.
Outras
bactérias também são capazes dessa transformação de nitrogênio, como os gêneros
Azotobacter e Azospirillum. Uma vez que estes não vivem diretamente em simbiose
com a planta, mas estão livres no solo. O nitrogênio que esses microrganismos
transformam pode, portanto, beneficiar diferentes tipos de plantas.
Os
microrganismos são a primeira riqueza do solo e do agricultor.
As
bactérias do gênero Bacillus são bastante valorizadas por sua função de
aumentar a disponibilidade de fósforo no solo, tornando o fósforo indisponível
em formas disponíveis para a planta. Este microrganismo torna-se importante
para melhorar a eficiência da adubação fosfatada, aumentando o aproveitamento
do fertilizante, o que provoca aumento no rendimento das culturas.
Outros
microrganismos permitem aumento no desenvolvimento das raízes das plantas,
gerando um maior volume de solo explorado pelas plantas, garantindo melhor
suprimento de água e nutrientes essenciais, otimizando o crescimento das
plantas.
Este é
particularmente o papel dos fungos micorrízicos, que aumentam a prospecção das
raízes das plantas. A associação do micélio do fungo ligada as raízes das
plantas permitem que volume do sistema radicular dobre. Essa simbiose é uma
grande vantagem para solos de baixa disponibilidade de nutrientes e solos com
déficit hídrico, conferindo melhor resistência à seca, evitando a estagnação da
produtividade das culturas.
Depois de
perceber os serviços prestados pelas comunidades microbianas em seus solos, o
agricultor pode querer "cultivá-los".
Os
microrganismos têm grande atuação na manutenção da fertilidade do solo através
da ciclagem de nutrientes, mas também influenciando a disponibilidade de formas
insolúveis de nutrientes. Desempenham um papel essencial na decomposição da
matéria orgânica, tornando os microrganismos do solo fundamentais na
fertilização do solo.
Em função
dos benefícios dos microrganismos e o conhecimento das importantes atividades
que desempenham no solo em prol da nutrição das plantas, ainda é fundamental a
necessidade de adubar as culturas, pois nossos os solos tropicais são pobres em
nutrientes. Vale ressaltar que a reposição de nutrientes ao solo através dos
fertilizantes é necessária, principalmente, para devolver ao solo os nutrientes
que são exportados pela colheita de produtos agrícolas.
Os
microrganismos melhoram o aproveitamento dos fertilizantes, mas não criam
nutrientes no solo.
Com o uso
de biológicos vamos ter uma maior eficiência das adubações. A fixação do
nitrogênio pelos microrganismos é um caminho para reduzir ou mesmo não aplicar
fertilizante nitrogenado em leguminosas como a soja e o feijão. Parte do
fósforo aplicado via fertilizante é fixado por componentes do solo, tornando
indisponível às plantas. Alguns microrganismos têm a capacidade de excretar
ácidos orgânicos ou enzimas que solubilizam o fósforo fixado, possibilitando,
assim, a absorção pelas plantas. Associar o uso de fertilizantes com a ação dos
microrganismos permite melhorar o aproveitamento dos fertilizantes pelas
plantas e respeito a sustentabilidade ambiental.
Com
objetivo de melhorar a percepção da população em relação às funções e os
benefícios dos fertilizantes, foi estabelecida no Brasil, em 2016, a iniciativa
Nutrientes Para a Vida (NPV). A NPV possui visão, missão e valores análogos aos
da coirmã americana, a Nutrients For Life. Sua principal missão é destacar e
informar a respeito da relevância dos fertilizantes para o aumento da qualidade
e segurança da produção alimentar, colaborando com melhores quantidades de
nutrientes nos alimentos e, consequentemente, com uma melhor nutrição e saúde
humana.
Valter
Casarin - engenheiro agrônomo, coordenador científico da iniciativa Nutrientes
para a Vida (NPV)
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