É consenso nacional que a política brasileira tem baixo conceito e
quase nenhuma credibilidade junto à sociedade. Não precisa ser cientista
político para perceber, basta ser um cidadão atento e razoavelmente informado.
A questão é: por que isso é assim há tanto tempo e não muda?
Acredito que em parte se deve à legislação (por isso a reforma
política é pauta permanente) e também pela deterioração do sistema e do caráter
da maioria que entra na vida pública. Política, no Brasil, é sinônimo de
carreirismo, de profissão. Disso decorre boa parte dos problemas que afetam a
própria política e ricochetam no país, na população.
A grande maioria dos políticos é formada de carreiristas de pouco
espírito público e muito de interesse pessoal. Quem entra prova o gosto do
poder e das regalias e não sai mais. E para permanecer faz todos os esforços
possíveis, até alguns nada decentes, como temos visto. Assim se formam os
caciques, donos de partidos, influentes em qualquer governo.
Parlamentares que acumulam há décadas mandatos e montam esquemas
tão duradouros e poderosos que se alguma liderança nova quiser enfrentá-los
desiste. A força é desigual, os políticos profissionais sempre têm grandes
recursos para gastar em uma eleição, mesmo que tal investimento nunca seja
coberto com os subsídios recebidos durante o mandato, o que é no mínimo
suspeito. Então, essa situação prejudica e até impede a renovação.
Portanto, política aqui é profissão, meio de vida, forma de
enriquecer construir grandes patrimônios. Não deveria ser assim, deveria ser
forma de servir ao país e ao povo, cumprir uma missão e depois voltar à
profissão de origem, cuidar de seus negócios anteriores.
Todavia, na maioria das vezes os políticos brasileiros permanecem
vitaliciamente na atividade e se saírem não saberão exercer a antiga profissão
por estarem desatualizados e também não saberão gerir um negócio próprio na
iniciativa privada. E, como geralmente saem milionários da política nem
precisam se preocupar.
Gostei muito do que disse Eric Cantor na revista Veja: “Nos EUA,
uma pessoa não entra na carreira pública para ficar rica. Se fizer isso, vai
para a cadeia. Você tem de sair da vida pública para ganhar dinheiro. Deveria
ser assim também no Brasil”.
Cantor foi líder da maioria republicana na Câmara dos Estados
Unidos entre 2011 e 2014 e quando deixou o parlamento foi trabalhar como
advogado de um grande banco de investimentos. Na entrevista ele fez outra
observação: na Câmara Legislativa do estado da Virgínia os deputados recebem
cerca de 17 mil dólares por ano. “Ou seja, você precisa trabalhar, o
Legislativo não basta. Todos têm um emprego.”
Voltando ao Brasil, a pergunta é: por que os políticos se
perpetuam nos governos ou nos legislativos? A resposta mais simples, e correta,
é: 1) Nos governos, pela sedução que o poder exerce, altos salários, mordomias
e o exercício da influência em proveito pessoal. Sempre que alguém é convidado
para cargo executivo acaba transformando esse cargo em profissão, dificilmente
o deixará; se muda o governo muda junto, se não puder continuar no federal vai
para uma estatal ou para um governo estadual. Isso se não usar o cargo público
como trampolim para se eleger deputado ou senador; 2) No legislativo
(municipal, estadual e federal) há uma prerrogativa legal, o estatuto da
reeleição, o parlamentar pode se reeleger quantas vezes quiser. Aí, caberia ao
eleitor ter discernimento e capacidade de avaliar os candidatos, mas exigir
isso seria exigir demais.
Luiz
Carlos Borges da Silveira - empresário, médico e professor. Foi Ministro da
Saúde e Deputado Federal.