Uma
abordagem completa sobre os principais métodos contraceptivos disponíveis hoje
no país elevou o oitavo curso de anticoncepção do pré-congresso a um dos
eventos mais concorridos entre os especialistas, durante o XXII Congresso
Paulista de Ginecologia e Obstetrícia.
O curso
reuniu os palestrantes altamente gabaritados da Escola Paulista de Medicina,
UNIFESP, UNICAMP, Centro Persona de Ginecologia e Saúde da Mulher, Faculdade de
Medicina do ABC, Faculdade de Medicina da USP e UNIFEV.
Na
abordagem “Anticoncepção e Tratamento do Sangramento do Útero Aumentado”, a
professora Ilza Maria Urbano Monteiro, livre-docente do Departamento de
Tocoginecologia da UNICAMP, destacou que a opção de uso do sistema intrauterino
com liberação de levonorgestel (SIU-LNG), apresenta uma melhora acentuadamente
do padrão menstrual, embora com diminuição discreta do volume uterino. “O SIU
pode, em geral, evitar a histerectomia em pacientes jovens”, disse. Importante,
de acordo com ela, é o que o médico considere o tamanho do mioma para só assim
definir pelo tratamento clínico ou cirúrgico.
Jarbas
Magalhães, do Centro Persona, chamou atenção no módulo “Anticoncepção na
Perimenopausa”, para a saúde da mulher com mais de 45 anos. Estima-se que nos
próximos dez anos cerca da 60% da população brasileira terá mais de 50 anos,
fazendo-senecessária uma ampla abordagem aos métodos anticoncepcionais com foco
em mulheres acima de 45 anos. “Essas mulheres não estão tendo prescrição de
anticoncepcional e passam pela gestação não planejada”, afirmou. Além disso
existe o aumento da taxa de abortamento e infecções genitais como HPV e HIV.
Entre as tendências da atualidade na anticoncepção acima dos 45, Magalhães
chama atenção para o uso dos anticoncepcionais combinados e para a escolha de
progestogênios mais seletivos. Para a escolha de um anticoncepcional é
importante considerar o aspecto metabólico e não só o efeito contraceptivo,
visto que pesquisas apontam que de 5% a 10% da população feminina apresenta
Síndrome do Ovário Polístico (SOP). Mulheres com SOP apresentam risco aumentado
de diabetes, resistência insulínica, doenças cardiológicas e câncer de
endométrio. A síndrome é também a principal causa de infertilidade anovulatória
e hirsutismo.
Entre as
contraindicações aos métodos com estrogênios, o médico observa que estão os
múltiplos fatores de risco para doença cardiovascular, hipertensão arterial,
trombofilias, cirurgias maiores com imobilização e dislipidemias. Portanto,
para a escolha do contraceptivo à mulher com SOP os critérios de elegibilidade
devem ser priorizados. Os contraceptivos orais combinados são efetivos no
tratamento das manifestações androgênicas, regularização do ciclo menstrual e
prevenção da hiperplasia endometrial.
Em relação
a alteração de humor com o uso de anticoncepcionais Cristina Aparecida Falbo
Guazzelli, da UNIFESP, chamou atenção para o atendimento da paciente,
destacando que anamnese tem que ser adequada para identificar se a paciente já
é mais predisposta à depressão. As pacientes podem ser influenciadas pela
anticoncepção, por exemplo, as que já têm diagnóstico de depressão. Estudos,
segundo ela, apontam que os anticoncepcionais orais combinados auxiliam as
deprimidas.
As
infecções genitais e a volta das DSTs
O curso
pré-congresso sobre infecções genitais, que aconteceu na manhã de quinta-feira,
abordou o cenário das infecções e os caminhos para prevenção e tratamento, além
de chamar para uma reflexão: o olhar 360º para as Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST). Para Adriana Bittencourt Campaner, Mestre e Doutora em
Tocoginecologia, que coordenou o curso, falar da importância desse olhar mais
amplo no diagnóstico e no tratamento das DST está em linha com o atual cenário
dessas doenças. “As DSTs estão voltando. Já temos um aumento de
1.000% nos casos de sífilis”, destaca.
Uma nova
abordagem em tratamento também esteve no discurso da ginecologista Iara Moreno
Linhares, que apresentou a palestra: Microbioma, Probióticos e
Infecções Urogenitais: Onde Estamos? Na ocasião, Dra. Iara mostrou o
funcionamento dos microbiomas (totalidade de micróbios, seus elementos e
interações) em mulheres saudáveis, a importância dos lactobacilos dentro desse
organismo e a eficácia dos probióticos para o tratamento de infecções - que
comprovadamente apresentou uma redução de recidivas.
Embora existam alguns
estudos, a especialista chama a atenção para a importância de estudar mais a
questão dos probióticos, a fim de incluí-los nos tratamentos de infecções. “Há
uma necessidade de inovação e isso é olhar com mais atenção para os
probióticos”.
Desmistificar
o HPV, visto como o principal responsável pelo câncer de colo de útero, foi o
mote da palestra: Infecção Genital e Carcinogênese: Sempre o HPV?,
ministrada pela Dra. Adriana Bittencourt Campaner. “É muito importante
esclarecer e reforçar que 90% das pessoas que contraírem o HPV, vão ter o vírus
eliminado”. Esse alerta foi feito para reforçar a importância de se olhar as
demais doenças infecciosas, como a clamídia e vaginose bacteriana - que fazem
diminuir a imunidade, aumentando a proliferação do vírus HPV. “Uma DST não vem
sozinha”, afirma Dra. Adriana.
A higiene
genital também esteve em pauta no curso pré-congresso. Rose Luce Gomes do
Amaral, Doutora em Tocoginecologia, falou do papel fundamental que a higiene
genitália tem na prevenção e controle das doenças vaginais. Segundo a
especialista, mais do que um debate da classe médica, essa é uma questão
demandada pelas próprias pacientes. “As mulheres querem saber se devem fazer a
higiene vaginal e como isso deve ser feito de forma saudável”, destaca.
Para Dra.
Amaral, manter o equilíbrio é uma boa decisão. “Uma vagina com má higiene pode
apresentar riscos de infecção da mesma forma que a higiene excessivamente feita
pode expor esse organismo”, destaca a médica que também relaciona fatores como
impactantes para o ecossistema vaginal, como: atividade sexual, alimentação e o
próprio ciclo menstrual.
Os
marcadores da infertilidade conjugal e os limites biológicos
No primeiro
dia do XXII Congresso Paulista de Obstetrícia e Ginecologia, um dos cursos
pré-congresso mais disputados apresentou o tema “Infertilidade Conjugal e
Reprodução Assistida”. Sob a coordenação dos médicos Newton Eduardo Busso
e Leopoldo de Oliveira Tso, os palestrantes trouxeram novidades sobre a
identificação da infertilidade, indicações de exames como a
histerossalpingografia, pesquisas sobre o fator ovariano e as técnicas para
realizar a Fertilização In-Vitro (FIV).
Com o aumento
da longevidade humana e adiamento da decisão da gravidez, principalmente em
decorrência da maciça entrada da mulher no mercado de trabalho, surgem novas
discussões sobre como driblar o relógio biológico feminino e chegar ao melhor
resultado possível: um nascido vivo a termo com peso adequado.
Apesar dos
avanços técnicos e científicos apresentados, tais como aperfeiçoamento do uso
de hormônios, inseminações intra-uterinas e criopreservação dos embriões, o
grande desafio na área da medicina reprodutiva continua sendo o limite imposto
pela idade da mulher. Durante sua explanação sobre Avaliação Crítica dos
resultados da Fertilização In-Vitro, o doutor Leopoldo de Oliveira Tso afirmou:
“o envelhecimento celular vai impactar negativamente nas chances do sucesso da
fertilização”.
Os
especialistas destacaram que a reprodução assistida deve considerar as
idiossincrasias físicas e genéticas de cada casal, incluindo as uniões
homoafetivas, custos envolvidos nos tratamentos e até mesmo os riscos da
Síndrome de Hiperestímulo Ovariano, podendo comprometer a saúde feminina.
Os
cuidados nos tratamentos das disfunções sexuais femininas
A sala
cheia para assistir o debate sobre Tratamento Farmacológico das Disfunções
Sexuais durante o XII Congresso Paulista de Ginecologia e Obstetrícia traduz
uma grande curiosidade dos médicos para melhor atender a saúde integral da
mulher.
Nos dias de
hoje, grande parte das mulheres se sentem merecedoras de uma vida sexual ativa
e satisfatória, e a visita ao ginecologista é o momento de buscar soluções para
as possíveis disfunções sexuais que elas venham apresentar.
Durantes as
várias etapas da vida reprodutiva, a mulher enfrenta desafios diários em suas
tarefas como esposa, mãe, profissional, além dos seus conflitos pessoais, o que
acabar por afetar o seu desempenho no momento do sexo. Os profissionais que
lidam com a saúde feminina se deparam diariamente com queixas das disfunções
sexuais, tais como falta de libido, frigidez, anorgasmia ou mesmo vaginismo e
aversão sexual.
Descartando
os fatores físicos e hormonais, ligados ao diabetes, doenças neurológicas ou
uso excessivo de álcool e drogas, a disposição sexual feminina é influenciada
pelas diferentes fases do ciclo menstrual, gravidez e menopausa. A oscilação do
desejo sexual da mulher muitas vezes entra em desacordo com a libido masculina,
mais frequente e constante, gerando insatisfações perante expectativas não
atingidas.
O debate,
sob a coordenação dos médicos Gerson Pereira Lopes e José Renato Sampaio
Tosello, focou no desafio do médico ginecologista em administrar ou não
medicamentos para sua paciente recuperar plenamente sua função sexual. A
psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, referência do assunto no país, afirmou que
“o critério é o sofrimento pessoal, e não a tentativa de satisfazer o parceiro
ou ter uma atividade sexual sem desejo, afinal a mulher pode ser assexual,
classificação em que se enquadram cerca de 7% delas”.
Os
palestrantes, incluindo a médica Flávia Fairbanks Marino, foram unânimes em
afirmar que a diminuição do desejo não acontece de repente, e em geral, é
consequência de alguma mudança significativa na vida desta paciente, elemento
que muitas vezes não é percebido como causador desta falta de apetite sexual.
Já o doutor
Théo Lerner declarou que os ginecologistas têm a permissão para receitar
antidepressivos e ansiolíticos para paciente com alguma disfunção sexual, no
entanto este tratamento deve ser bastante criterioso. Lerner defende o uso de
psicoterapia e particularmente prefere encaminhar a paciente para um colega
psiquiatra, para uma melhor avaliação e possível medicação de forma efetiva.
Nos casos
em que o médico ginecologista opte por introduzir qualquer fármaco, uma
avaliação cuidadosa da saúde física e mental desta mulher é vital para atingir o
melhor custo-benefício, minimizando os efeitos colaterais, com menor impacto em
aspectos como sono, humor, apetite ou eventual ganho de peso.
O debate
sobre o uso de fármacos no tratamento das disfunções sexuais mostrou como cada
vez mais o médico ginecologista precisa estar capacitado para ocupar o papel de
conselheiro na vida desta mulher moderna, que procura atenção para sua saúde na
totalidade, incluindo a satisfação sexual.
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