Segundo relatório recentemente divulgado pela
Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o deslocamento forçado de pessoas em
todo o mundo, causado por guerras, violência e perseguições, atingiu em 2016 o
número mais alto já registrado em todos os tempos. São 65,6 milhões de pessoas
que tiveram de fugir de suas casas, cidades e países.
Brasileiro que emigrou para os Estados Unidos,
fiquei muito tocado pelas estatísticas relativas aos refugiados. Já não é fácil
deixar seu país em condições boas como as que vivenciei ao mudar em 2014 para a
cidade de Coral Gables, onde fui bem recebido na Universidade da Flórida, no
mercado de trabalho e na comunidade. Embora perfeitamente integrado, são
inevitáveis alguns acessos de banzo, este sentimento atávico que herdamos da
alma e da inigualável cultura africana, essência de nosso jeito único de sentir
saudade.
Fico imaginando, então, o quanto deve ser penosa
para as famílias de refugiados a experiência de uma abrupta mudança, sem terem
se preparado para isso, movidas unicamente pela emergência de sobreviver. Essas
pessoas desembarcam em nações distantes de sua terra, sem emprego, sem falar o
idioma e sem perspectivas. Merecem, portanto, gestos nobres de solidariedade,
fraternidade e atenção, para que possam reconstruir suas vidas e exercitar de
modo pleno as prerrogativas da cidadania.
Nesse contexto, são preocupantes e devem ser
rejeitadas as manifestações de xenofobia que parecem surgir de modo pontual em
alguns países. É algo a ser contido no nascedouro! Com certeza, o preconceito,
a intolerância e a discriminação de etnia, gênero, sexo, credo e ideologia não
fazem parte da agenda a ser cumprida na busca de um mundo melhor. A pauta do
Planeta está muito bem definida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) da ONU, que visam mitigar a miséria, melhorar a saúde, a educação e a
qualidade da vida e combater as desigualdades.
Felizmente, num contraste com manifestações
xenofóbicas isoladas, parece haver crescente sentimento universal sobre a
importância do acolhimento e da interação harmoniosa entre todos os seres
humanos. Como brasileiro e, agora, habitante dos Estados Unidos, sou um
privilegiado no tocante à convivência em sociedades pluralistas. Meus dois
países e, de modo ainda mais acentuado, meus dois Estados — São Paulo e Flórida
— têm em comum uma forte presença de imigrantes e a convivência pacífica e
fraterna de pessoas diferentes, mas unidas sob os ideais de liberdade,
oportunidades de trabalho e respeito aos direitos e deveres de todo cidadão.
Tais virtudes, tão presentes nas Américas, renovam
a cada dia as perspectivas de que o mundo possa superar a inusitada crise de
refugiados e buscar soluções para os conflitos que seguem causando mortes,
miséria e deslocamentos populacionais. A esperança está viva nas pessoas e
povos de boa vontade!
Emilio
Bonduki - mestrando em Gestão de Negócios Criativos pela Universidade da
Flórida, é Consultor de Moda e Negócios para The Webster, em Miami,
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