Com
a arrecadação abaixo do esperado e a frustração com as receitas
extraordinárias, o governo federal teve que rever o tamanho do rombo
orçamentário autorizado pelo Congresso. O déficit para 2017 passou de R$ 139
bilhões para R$ 159 bilhões e o de 2018 aumentou de R$ 129 bilhões para R$ 159
bilhões. A volta do saldo superavitário que estava previsto para 2020 teve sua
previsão adiada para 2021.
A
revisão das metas fiscais evidencia a calamidade das contas públicas no país e
impacta negativamente no endividamento do governo. A dívida bruta do setor
público em relação ao PIB bateu em 73,1% em junho deste ano e pode chegar a 81,1%
em 2020.
A
fragilidade financeira do governo influencia negativamente a economia do país.
A percepção de insegurança cresce, assim como o risco de calote do poder
público. Por conta disso, o custo do crédito para as empresas que captam
recursos no exterior tende a aumentar e os títulos de longo prazo emitidos pelo
governo têm que pagar um retorno maior aos investidores, o que eleva o custo da
dívida pública. Ademais, a retomada do crescimento econômico fica comprometida,
já que a confiança dos empreendedores tem relação com a capacidade do governo
em manter o orçamento em equilíbrio.
O
indicado para eliminar o gigantesco rombo das contas públicas seria começar a
cortar gastos públicos que pouco ou nada agregam à sociedade. Porém, no Brasil
é difícil cortar despesa governamental por causa da exacerbação do
corporativismo, da cultura do “direito conquistado”, da demagogia, do populismo
e da ditadura do “politicamente correto”. Nesse cenário estão contemplados
gastos obrigatórios e discricionários. Questões objetivas de eficiência e
eficácia acham-se subordinadas à lógica da transferência de renda, as supostas
metas de combate à desigualdade e à manutenção de privilégios do funcionalismo
e de grupos empresariais.
É
preciso agir em três frentes para recuperar as finanças públicas, sob pena de
um aprofundamento da crise econômica. É necessário eliminar o rombo
orçamentário, fazer reformas estruturais e implantar um modelo orçamentário que
avalie periodicamente a relação custo – benefício dos gastos públicos.
Para
combater o rombo fiscal a saída pode vir de uma medida amarga, porém
necessária. Mas, vale dizer que ela pode ser o embrião de uma reforma
tributária na sequência. Um Imposto sobre a Movimentação Financeira (IMF) com
alíquota de 0,69% geraria uma receita de R$ 159 bilhões e cobriria o déficit.
Em uma segunda etapa esse tributo seria utilizado para substituir vários
tributos, criando um imposto único.
Junto
com o IMF pode ser implementada a reforma da Previdência. Através dela seria
possível rever a alíquota do IMF para baixo por conta do controle da explosiva
despesa do INSS, que em 2016 teve déficit de R$ 149,7 bilhões.
A
terceira ação seria adotar o orçamento base zero, que tornaria rotineira a
prática de identificar atividades que poderiam ser extintas ou redimensionados
e suas dotações canalizadas, total ou parcialmente, para custear outras
despesas ou reduzir a dívida pública. Com ele é possível cortar gastos
públicos.
O
Brasil vive uma crise inédita e não há mágica para enfrentar a situação.
É
preciso um ajuste forte e definitivo. Algumas medidas listadas são duras de
início, mas farão a diferença depois. Há um estrago a ser reparado e agir com
demagogia e populismo é caminhar rumo ao abismo. É melhor um fim com dor do que
uma dor sem fim.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela
Universidade Harvard (EUA), professor titular da Fundação Getulio Vargas. É
autor do projeto do Imposto Único. É presidente da Finep (Financiadora de
Estudos e Projetos).
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