A Dona Irene, senhora do
cafezinho, me disse uma vez: “Esse povo não quer trabalhar, só quer emprego”.
Sábia, essa dona Irene. Afinal, enquanto alguns profissionais buscam sempre
atualização e novos caminhos para liderar mudanças efetivas em seus mercados,
há também os profissionais medianos, ou seja, aqueles que preferem a zona de
conforto de fazer meramente o necessário e seguir uma rotina que tem a duração
exata da jornada de trabalho acordada na sua contratação.
E não é difícil identificar
esse tipo de colaborador nas empresas. Na verdade, há cinco características que
não podem faltar em um típico profissional mediano:
1. Trabalhe das 8h às
18h
Seja
pontual! Entre às 8h e saia sempre às 18h, mesmo sabendo que vai interromper
uma linha de raciocínio ou que poderia finalizar algo importante. Prefira
deixar tudo para o dia seguinte apenas porque deu 17h59 no relógio. Esta é uma
prática comum de quem quer ficar na média, tem medo de se destacar e de superar
expectativas. Este é o caminho para virar o melhor profissional mediano.
Estar
disponível para a empresa, para a equipe, ou ainda para finalizar algo
importante quando mais oportuno – independentemente do horário de trabalho
previamente acordado – não significa necessariamente ser workaholic.
É
essencial ter equilíbrio e prioridades: filhos, esposa, família, amigos sempre
deverão estar no topo dessa lista. Mas o melhor profissional não é aquele que
expressa em sua marcação de ponto a qualidade da pontualidade. O melhor
profissional esquece de bater ponto porque estava entusiasmado em uma
atividade. É aquele que faz suas entregas com qualidade e dentro do prazo –
independente do horário que chegou ou saiu. Afinal, uma empresa não quer apenas
pontualidade, mas entregas de valor.
2. Muro das
lamentações
Reclame.
Do dia, da chuva, do sol, do verão, do inverno, do horário, do café, do chefe,
do RH. Se não tiver motivos para reclamar, invente um. Aproveite para reclamar
da empresa ou falar mal de alguém, principalmente naqueles momentos de
interação com a equipe ou com outras áreas – oportunidades onde poderia estar
trocando experiência, destacando-se, compartilhando e adquirindo conhecimento.
Não perca a chance de ser um excelente profissional mediano. O melhor de todos!
A
empresa na qual você trabalha pode não ser perfeita, assim como tudo na vida,
mas sempre há algo a se fazer para melhorar continuamente. E existem dois tipos
de pessoas: as que se envolvem com a mudança e as que reclamam dela. Qual
desses é você?
Nem
sempre é possível apertar todos os parafusos quando queremos. Precisamos
priorizar, aguardar o melhor momento, tomar decisões, deixar de comprar algo
para privilegiar a educação dos filhos, por exemplo, ou realizar um
investimento. O mesmo acontece na empresa onde trabalhamos. E quanto maior ela
for, maiores são os problemas e maiores os impactos das decisões. Leve sempre
isso em consideração e lembre-se de que, para além do comportamento mediano, há
sempre a possibilidade de transformar problemas em oportunidades.
3.
Terceirize a sua carreira
Quem
não se capacita ou não se preocupa em aperfeiçoar seus conhecimentos — acha
que sabe tudo, ainda mais com a infinidade de opções disponíveis
na internet gratuitamente – é um profissional mediano, que nunca vai deixar de
ser uma lagarta para virar borboleta, para fazer uma analogia bem simples. E,
se você responsabiliza a empresa por não oferecer treinamentos, estará sempre
em segundo plano, na sombra de quem realmente se destaca.
Independentemente
dos processos de capacitação ou dos benefícios oferecidos, a carreira é do CPF,
não do CNPJ. E, para sermos honestos, a empresa não tem obrigação nenhuma com a
carreira de ninguém. O que ela oferece, quando pode oferecer, é lucro. O
conhecimento que adquirimos é nosso, não da empresa. As certificações que
conquistamos são nossas, não da empresa. A rede de contatos que cultivamos é
nossa, não da empresa. Bem como a experiência que adquirimos.
Tudo
isso enriquece o nosso currículo e nos torna melhores, com carreiras
sustentáveis diante do mercado de trabalho.
O
conhecimento que você adquiriu em um passado distante, em cursos de formação ou
técnicos, provavelmente o levaram ao cargo atual. E hoje, quais as capacitações
que você está buscando para conquistar os próximos cargos? Isso é o que
acredito ser a melhor maneira de construir uma carreira sustentável.
4.
Seja dependente da sua empresa
Quem
trabalha com medo de perder o emprego ou com o pensamento de que precisa dele
somente para pagar as contas, é definitivamente um profissional mediano. É
sobre isso que a dona Irene se refere com a frase citada lá no começo deste
texto.
O
medo é provocado por uma incerteza, que vem da falta de segurança. Essa
insegurança é resultado da insuficiência de conhecimento para exercer com
esmero a função. Isso acaba em um trabalho sem convicção, mediano.
Se
você sabe ou sente que lhe falta competências para realizar com excelência suas
atividades, é porque realmente falta. Estude para aperfeiçoar a prática. Não
deveríamos pensar que dependemos da empresa, mas que ela depende de nossos
conhecimentos, habilidades e atitudes. A remuneração deve ser consequência, não
razão do trabalho. E quando a remuneração, o comprometimento e o resultado não
estão em harmonia, talvez seja hora de procurar algo melhor, em vez de perder
tempo reclamando da lama enquanto afunda nela.
5.
Faça somente o que é pago para fazer
Faça
somente o que estiver na descrição do seu cargo. Quando houver espaço para demostrar
que é capaz de fazer além, questione: “Eu não sou pago para fazer isso”. Com
certeza assim você será o melhor profissional mediano que existirá na sua
empresa.
Quem
sempre faz somente o que deve ser feito não cria evidências que justifiquem uma
promoção. Não demonstra que é capaz de ir além dos requisitos do cargo que
ocupa. Nesse contexto, não vale o “pagar para ver”. É justamente o contrário: é
preciso apresentar resultados favoráveis para ter mérito.
Um
reajuste ou promoção não vem do nada. O gestor não acorda determinado dia com
vontade de dar aumento ou promover alguém. Tudo deve ser argumentado, com
evidências que comprovem o mérito. O papel do gestor é ser o mensageiro da
solicitação.
Como
dá para ver, não é tão difícil assim se tornar um profissional mediano. Mas
também não é difícil fugir desse estigma. Para encontrar o caminho da renovação
profissional é preciso, acima de tudo, ter um propósito, que será alcançado
somente com o investimento em conhecimento e aprimoramento. Apesar da zona de
conforto parecer um ambiente seguro, na realidade ela acaba limitando o nosso
potencial de crescimento. É preciso sempre ter em mente que você é o
protagonista de sua história dentro da empresa, e que é capaz de construir
grandes benefícios para todos: você e a sua empresa.
Fábio
Jascone - coordenador de Sistemas da Senior, uma das maiores empresas
especializadas em tecnologia para gestão do País
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