sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Atualidades em anticoncepção



Uma abordagem completa sobre os principais métodos contraceptivos disponíveis hoje no país elevou o oitavo curso de anticoncepção do pré-congresso a um dos eventos mais concorridos entre os especialistas, durante o XXII Congresso Paulista de Ginecologia e Obstetrícia. 

O curso reuniu os palestrantes altamente gabaritados da Escola Paulista de Medicina, UNIFESP, UNICAMP, Centro Persona de Ginecologia e Saúde da Mulher, Faculdade de Medicina do ABC, Faculdade de Medicina da USP e UNIFEV. 

Na abordagem “Anticoncepção e Tratamento do Sangramento do Útero Aumentado”, a professora Ilza Maria Urbano Monteiro, livre-docente do Departamento de Tocoginecologia da UNICAMP, destacou que a opção de uso do sistema intrauterino com liberação de levonorgestel (SIU-LNG), apresenta uma melhora acentuadamente do padrão menstrual, embora com diminuição discreta do volume uterino. “O SIU pode, em geral, evitar a histerectomia em pacientes jovens”, disse. Importante, de acordo com ela, é o que o médico considere o tamanho do mioma para só assim definir pelo tratamento clínico ou cirúrgico. 

Jarbas Magalhães, do Centro Persona, chamou atenção no módulo “Anticoncepção na Perimenopausa”, para a saúde da mulher com mais de 45 anos. Estima-se que nos próximos dez anos cerca da 60% da população brasileira terá mais de 50 anos, fazendo-senecessária uma ampla abordagem aos métodos anticoncepcionais com foco em mulheres acima de 45 anos. “Essas mulheres não estão tendo prescrição de anticoncepcional e passam pela gestação não planejada”, afirmou. Além disso existe o aumento da taxa de abortamento e infecções genitais como HPV e HIV. Entre as tendências da atualidade na anticoncepção acima dos 45, Magalhães chama atenção para o uso dos anticoncepcionais combinados e para a escolha de progestogênios mais seletivos.  Para a escolha de um anticoncepcional é importante considerar o aspecto metabólico e não só o efeito contraceptivo, visto que pesquisas apontam que de 5% a 10% da população feminina apresenta Síndrome do Ovário Polístico (SOP). Mulheres com SOP apresentam risco aumentado de diabetes, resistência insulínica, doenças cardiológicas e câncer de endométrio. A síndrome é também a principal causa de infertilidade anovulatória e hirsutismo. 

Entre as contraindicações aos métodos com estrogênios, o médico observa que estão os múltiplos fatores de risco para doença cardiovascular, hipertensão arterial, trombofilias, cirurgias maiores com imobilização e dislipidemias. Portanto, para a escolha do contraceptivo à mulher com SOP os critérios de elegibilidade devem ser priorizados. Os contraceptivos orais combinados são efetivos no tratamento das manifestações androgênicas, regularização do ciclo menstrual e prevenção da hiperplasia endometrial. 

Em relação a alteração de humor com o uso de anticoncepcionais Cristina Aparecida Falbo Guazzelli, da UNIFESP, chamou atenção para o atendimento da paciente, destacando que anamnese tem que ser adequada para identificar se a paciente já é mais predisposta à depressão. As pacientes podem ser influenciadas pela anticoncepção, por exemplo, as que já têm diagnóstico de depressão. Estudos, segundo ela, apontam que os anticoncepcionais orais combinados auxiliam as deprimidas. 


As infecções genitais e a volta das DSTs

O curso pré-congresso sobre infecções genitais, que aconteceu na manhã de quinta-feira, abordou o cenário das infecções e os caminhos para prevenção e tratamento, além de chamar para uma reflexão: o olhar 360º para as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Para Adriana Bittencourt Campaner, Mestre e Doutora em Tocoginecologia, que coordenou o curso, falar da importância desse olhar mais amplo no diagnóstico e no tratamento das DST está em linha com o atual cenário dessas doenças. “As DSTs estão voltando. Já temos   um aumento de 1.000% nos casos de sífilis”, destaca. 

Uma nova abordagem em tratamento também esteve no discurso da ginecologista Iara Moreno Linhares, que apresentou a palestra:  Microbioma, Probióticos e Infecções Urogenitais: Onde Estamos? Na ocasião, Dra. Iara mostrou o funcionamento dos microbiomas (totalidade de micróbios, seus elementos e interações) em mulheres saudáveis, a importância dos lactobacilos dentro desse organismo e a eficácia dos probióticos para o tratamento de infecções - que comprovadamente apresentou uma redução de recidivas.

 Embora existam alguns estudos, a especialista chama a atenção para a importância de estudar mais a questão dos probióticos, a fim de incluí-los nos tratamentos de infecções. “Há uma necessidade de inovação e isso é olhar com mais atenção para os probióticos”. 

Desmistificar o HPV, visto como o principal responsável pelo câncer de colo de útero, foi o mote da palestra: Infecção Genital e Carcinogênese: Sempre o HPV?, ministrada pela Dra. Adriana Bittencourt Campaner. “É muito importante esclarecer e reforçar que 90% das pessoas que contraírem o HPV, vão ter o vírus eliminado”. Esse alerta foi feito para reforçar a importância de se olhar as demais doenças infecciosas, como a clamídia e vaginose bacteriana - que fazem diminuir a imunidade, aumentando a proliferação do vírus HPV. “Uma DST não vem sozinha”, afirma Dra. Adriana.

A higiene genital também esteve em pauta no curso pré-congresso. Rose Luce Gomes do Amaral, Doutora em Tocoginecologia, falou do papel fundamental que a higiene genitália tem na prevenção e controle das doenças vaginais. Segundo a especialista, mais do que um debate da classe médica, essa é uma questão demandada pelas próprias pacientes. “As mulheres querem saber se devem fazer a higiene vaginal e como isso deve ser feito de forma saudável”, destaca. 

Para Dra. Amaral, manter o equilíbrio é uma boa decisão. “Uma vagina com má higiene pode apresentar riscos de infecção da mesma forma que a higiene excessivamente feita pode expor esse organismo”, destaca a médica que também relaciona fatores como impactantes para o ecossistema vaginal, como: atividade sexual, alimentação e o próprio ciclo menstrual.



Os marcadores da infertilidade conjugal e os limites biológicos

No primeiro dia do XXII Congresso Paulista de Obstetrícia e Ginecologia, um dos cursos pré-congresso mais disputados apresentou o tema “Infertilidade Conjugal e Reprodução Assistida”.  Sob a coordenação dos médicos Newton Eduardo Busso e Leopoldo de Oliveira Tso, os palestrantes trouxeram novidades sobre a identificação da infertilidade, indicações de exames como a histerossalpingografia, pesquisas sobre o fator ovariano e as técnicas para realizar a Fertilização In-Vitro (FIV).

Com o aumento da longevidade humana e adiamento da decisão da gravidez, principalmente em decorrência da maciça entrada da mulher no mercado de trabalho, surgem novas discussões sobre como driblar o relógio biológico feminino e chegar ao melhor resultado possível: um nascido vivo a termo com peso adequado.

Apesar dos avanços técnicos e científicos apresentados, tais como aperfeiçoamento do uso de hormônios, inseminações intra-uterinas e criopreservação dos embriões, o grande desafio na área da medicina reprodutiva continua sendo o limite imposto pela idade da mulher.  Durante sua explanação sobre Avaliação Crítica dos resultados da Fertilização In-Vitro, o doutor Leopoldo de Oliveira Tso afirmou: “o envelhecimento celular vai impactar negativamente nas chances do sucesso da fertilização”.

Os especialistas destacaram que a reprodução assistida deve considerar as idiossincrasias físicas e genéticas de cada casal, incluindo as uniões homoafetivas, custos envolvidos nos tratamentos e até mesmo os riscos da Síndrome de Hiperestímulo Ovariano, podendo comprometer a saúde feminina.


Os cuidados nos tratamentos das disfunções sexuais femininas

A sala cheia para assistir o debate sobre Tratamento Farmacológico das Disfunções Sexuais durante o XII Congresso Paulista de Ginecologia e Obstetrícia traduz uma grande curiosidade dos médicos para melhor atender a saúde integral da mulher.

Nos dias de hoje, grande parte das mulheres se sentem merecedoras de uma vida sexual ativa e satisfatória, e a visita ao ginecologista é o momento de buscar soluções para as possíveis disfunções sexuais que elas venham apresentar.

Durantes as várias etapas da vida reprodutiva, a mulher enfrenta desafios diários em suas tarefas como esposa, mãe, profissional, além dos seus conflitos pessoais, o que acabar por afetar o seu desempenho no momento do sexo. Os profissionais que lidam com a saúde feminina se deparam diariamente com queixas das disfunções sexuais, tais como falta de libido, frigidez, anorgasmia ou mesmo vaginismo e aversão sexual.

Descartando os fatores físicos e hormonais, ligados ao diabetes, doenças neurológicas ou uso excessivo de álcool e drogas, a disposição sexual feminina é influenciada pelas diferentes fases do ciclo menstrual, gravidez e menopausa. A oscilação do desejo sexual da mulher muitas vezes entra em desacordo com a libido masculina, mais frequente e constante, gerando insatisfações perante expectativas não atingidas.

O debate, sob a coordenação dos médicos Gerson Pereira Lopes e José Renato Sampaio Tosello, focou no desafio do médico ginecologista em administrar ou não medicamentos para sua paciente recuperar plenamente sua função sexual. A psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, referência do assunto no país, afirmou que “o critério é o sofrimento pessoal, e não a tentativa de satisfazer o parceiro ou ter uma atividade sexual sem desejo, afinal a mulher pode ser assexual, classificação em que se enquadram cerca de 7% delas”.

Os palestrantes, incluindo a médica Flávia Fairbanks Marino, foram unânimes em afirmar que a diminuição do desejo não acontece de repente, e em geral, é consequência de alguma mudança significativa na vida desta paciente, elemento que muitas vezes não é percebido como causador desta falta de apetite sexual.

Já o doutor Théo Lerner declarou que os ginecologistas têm a permissão para receitar antidepressivos e ansiolíticos para paciente com alguma disfunção sexual, no entanto este tratamento deve ser bastante criterioso. Lerner defende o uso de psicoterapia e particularmente prefere encaminhar a paciente para um colega psiquiatra, para uma melhor avaliação e possível medicação de forma efetiva.

Nos casos em que o médico ginecologista opte por introduzir qualquer fármaco, uma avaliação cuidadosa da saúde física e mental desta mulher é vital para atingir o melhor custo-benefício, minimizando os efeitos colaterais, com menor impacto em aspectos como sono, humor, apetite ou eventual ganho de peso.

O debate sobre o uso de fármacos no tratamento das disfunções sexuais mostrou como cada vez mais o médico ginecologista precisa estar capacitado para ocupar o papel de conselheiro na vida desta mulher moderna, que procura atenção para sua saúde na totalidade, incluindo a satisfação sexual.






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