Pães
de queijo, refrigerantes e biscoitos estão entre os produtos de baixo valor
nutricional mais consumidos pelos estudantes
Crianças e adolescentes de vários estados se
alimentam muito mal na hora do recreio. É o que revela a pesquisa "Hábitos
Alimentares de Crianças e Adolescentes em Cantinas de Escolas Privadas no
Brasil em 2016", realizada pelo Center for Behavioral Research (CBR) da
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio
Vargas (FGV EBAPE), em parceria com a NUTREBEM. Os dados e a classificação do
valor nutricional dos alimentos consumidos foram fornecidos pela NUTREBEM. A
análise dos dados ficou a cargo dos pesquisadores da FGV.
O levantamento analisou mais de 1,2 milhão de
compras realizadas em 2016, por mais de 19 mil alunos em cantinas de 97 escolas
localizadas em 25 cidades de sete estados brasileiros (SP, RJ, MG, RS, PA, SC e
BA), além do Distrito Federal.
A pesquisa da FGV mostrou que aproximadamente dois
terços do que é consumido nas cantinas das 97 escolas é de baixo valor
nutricional. Também em torno de dois terços dos salgados, doces e bebidas
disponíveis nas cantinas são de baixo valor nutricional. A oferta e o consumo
de produtos de alto valor nutricional, como frutas e sucos naturais, não chegam
a 10%. O restante, em torno de 20%, foi classificado como de médio valor
nutricional.
Para Eduardo Andrade, professor da FGV EBAPE e
coordenador do Center for Behavioral Research, estes dados preocupam
"É na infância e na adolescência que formamos muitos de nossos hábitos
alimentares. Se nos habituamos a comer mal e o consumo na cantina pode iniciar
ou reforçar esse hábito, mais tarde teremos dificuldade em adotar uma dieta
mais saudável".
Os números revelam também que há uma forte relação
entre a quantidade de produtos nutritivos ofertados e o que é consumido em uma
mesma escola. A aquisição de produtos nutritivos aumenta em escolas onde a sua
oferta é maior, chegando a 70% do consumo em uma das escolas. Em outras, onde
as opções saudáveis são escassas, o percentual de consumo saudável não chega a
20%.
O trabalho revela ainda que, pelo menos na amostra
analisada, o consumo de produtos de baixo valor nutricional é maior no Rio de
Janeiro (76,9%) do que em São Paulo (59,3%). Outras diferenças que chamam a
atenção são os produtos consumidos pelos estudantes desses dois estados. No Rio
de Janeiro, refrescos de guaraná industrializados são as bebidas de baixo valor
nutricional mais populares. Em São Paulo, os preferidos são os refrigerantes,
seguidos dos achocolatados. Já o pão de queijo é o salgado de baixo valor
nutricional mais consumido na maioria das unidades que participaram da
pesquisa.
Quando analisados por idade e gênero, os dados
mostram que os padrões de consumo variam ligeiramente, sendo a proporção de
consumo de produtos nutritivos maior entre as meninas a partir da adolescência.
Ainda
segundo o coordenador do Center for Behavioral Research, o levantamento mostra
a necessidade da sociedade discutir e implementar alternativas para que as
crianças possam seguir uma dieta mais saudável. "Em uma situação de quase
monopólio, como é o caso das cantinas na hora do recreio, a oferta faz muita
diferença. O problema é que produtos menos nutritivos são, em geral, mais
lucrativos para as cantinas e mais palatáveis aos jovens consumidores.
Portanto, a menos que haja engajamento dos pais, das escolas e do governo, as
cantinas continuarão a oferecer uma quantidade desproporcional de produtos de
baixo valor nutricional, e as crianças e adolescentes continuarão a
consumi-los", concluiu Eduardo.
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