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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Pesquisa da FGV indica que dois em cada três produtos oferecidos e consumidos nas cantinas das escolas têm baixo valor nutricional



Pães de queijo, refrigerantes e biscoitos estão entre os produtos de baixo valor nutricional mais consumidos pelos estudantes


Crianças e adolescentes de vários estados se alimentam muito mal na hora do recreio. É o que revela a pesquisa "Hábitos Alimentares de Crianças e Adolescentes em Cantinas de Escolas Privadas no Brasil em 2016", realizada pelo Center for Behavioral Research (CBR) da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV EBAPE), em parceria com a NUTREBEM. Os dados e a classificação do valor nutricional dos alimentos consumidos foram fornecidos pela NUTREBEM. A análise dos dados ficou a cargo dos pesquisadores da FGV.

O levantamento analisou mais de 1,2 milhão de compras realizadas em 2016, por mais de 19 mil alunos em cantinas de 97 escolas localizadas em 25 cidades de sete estados brasileiros (SP, RJ, MG, RS, PA, SC e BA), além do Distrito Federal.

A pesquisa da FGV mostrou que aproximadamente dois terços do que é consumido nas cantinas das 97 escolas é de baixo valor nutricional. Também em torno de dois terços dos salgados, doces e bebidas disponíveis nas cantinas são de baixo valor nutricional. A oferta e o consumo de produtos de alto valor nutricional, como frutas e sucos naturais, não chegam a 10%. O restante, em torno de 20%, foi classificado como de médio valor nutricional.

Para Eduardo Andrade, professor da FGV EBAPE e coordenador do Center for Behavioral Research, estes dados preocupam "É na infância e na adolescência que formamos muitos de nossos hábitos alimentares. Se nos habituamos a comer mal e o consumo na cantina pode iniciar ou reforçar esse hábito, mais tarde teremos dificuldade em adotar uma dieta mais saudável".

Os números revelam também que há uma forte relação entre a quantidade de produtos nutritivos ofertados e o que é consumido em uma mesma escola. A aquisição de produtos nutritivos aumenta em escolas onde a sua oferta é maior, chegando a 70% do consumo em uma das escolas. Em outras, onde as opções saudáveis são escassas, o percentual de consumo saudável não chega a 20%.

O trabalho revela ainda que, pelo menos na amostra analisada, o consumo de produtos de baixo valor nutricional é maior no Rio de Janeiro (76,9%) do que em São Paulo (59,3%). Outras diferenças que chamam a atenção são os produtos consumidos pelos estudantes desses dois estados. No Rio de Janeiro, refrescos de guaraná industrializados são as bebidas de baixo valor nutricional mais populares. Em São Paulo, os preferidos são os refrigerantes, seguidos dos achocolatados. Já o pão de queijo é o salgado de baixo valor nutricional mais consumido na maioria das unidades que participaram da pesquisa.

Quando analisados por idade e gênero, os dados mostram que os padrões de consumo variam ligeiramente, sendo a proporção de consumo de produtos nutritivos maior entre as meninas a partir da adolescência.

Ainda segundo o coordenador do Center for Behavioral Research, o levantamento mostra a necessidade da sociedade discutir e implementar alternativas para que as crianças possam seguir uma dieta mais saudável. "Em uma situação de quase monopólio, como é o caso das cantinas na hora do recreio, a oferta faz muita diferença. O problema é que produtos menos nutritivos são, em geral, mais lucrativos para as cantinas e mais palatáveis aos jovens consumidores. Portanto, a menos que haja engajamento dos pais, das escolas e do governo, as cantinas continuarão a oferecer uma quantidade desproporcional de produtos de baixo valor nutricional, e as crianças e adolescentes continuarão a consumi-los", concluiu Eduardo.






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