Durante muito tempo se acreditou que as emoções mais atrapalhavam do que ajudavam.
Dizia-se que para se tomar uma boa decisão a pessoa deveria ser racional,
manter a mente fria e não se deixar levar pelos sentimentos. Bom, se é verdade
que as emoções muitas vezes nos colocam em encrencas também é verdade que
são essas mesmas emoções que nos salvam de muitas enrascadas.
O segredo reside em entender e aceitar as emoções, sem, no entanto, deixar-se cegar por elas. Todos conhecemos adultos que derrapam quando se trata de controle emocional, então, que tal educar emocionalmente as crianças para que elas enfrentem os desafios e superem com mais facilidade os percalços da adolescência e da vida adulta? Aqui vão algumas dicas:
1.Fale
sobre as emoções, sobre os diversos tipos delas. Jogos, filmes, revistas e as
situações vividias no dia a dia apresentam diversas oportunidades que podemos (e
devemos) aproveitar para conversar com as crianças sobre as emoções, chamando a
atenção para a expressão facial e o tipo de comportamento que acompanha cada
uma delas.
2.Seja
o modelo. Os pais sempre desejam que seus filhos sejam comportados e
obedientes. Dizem coisas como “Não entendo quando você grita. ” ou “Fale
educadamente”, embora nem sempre ajam conforme nossas próprias
instruções. Mas é bom ficar atento. Se os pais gritam, as crianças
aprendem a gritar. Se xingam, elas aprendem também a xingar. Se, por outro
lado, falam com respeito e não mentem, elas seguirão seus passos. Claro que
crianças podem muitas vezes tirar qualquer um do sério, mas lembre-se de
“colocar sua máscara de oxigênio antes” de resolver a situação, ou seja, se
acalme para que a criança possa se espelhar de forma positiva em quem a educa.
3.É
muito mais fácil para a criança falar sobre os sentimentos dela quando os pais
conseguem falar sobre seus próprios sentimentos, reconhecem as emoções dos
outros (inclusive a dela) e conversam com ela sobre o que outras pessoas devem
estar sentindo em uma dada situação. Então seja aberto e curioso sobre as
emoções que surgem dentro de você e a sua volta.
4.Deixe
para conversar sobre emoções e sentimentos quando tudo está calmo. Embora seja
tentador, não adianta querer discutir essas questões quando um problema surge e
a criança já está chorando, gritando ou esperneando. O ideal é abordar o
assunto de forma constante, aproveitando as diversas situações que se
apresentam como um desentendimento retratado em um desenho animado, uma
situação reproduzida em um filme. Quando o estresse já se instalou e a criança
já perdeu o controle ou está prestes a perde-lo, o ideal é oferecer aceitação,
acolhimento e proteção. Isso não significa aceitar o mal comportamento, mas sim
aceitar como normal a emoção que o disparou.
5.Deixar
claro que ninguém é mau por ter emoções ruins de forma que até essas devem ser
aceitas. Muitos estudiosos concordam que existem seis emoções básicas: alegria,
tristeza, medo, surpresa, raiva e nojo. Por razões evolutivas, existem mais
emoções desagradáveis do que agradáveis, ou seja, mesmo aquelas consideradas
“inconvenientes” são necessárias e não devem ser reprimidas. Emoções que são
empurradas para baixo do tapete podem retornar a qualquer momento de forma
abrupta e sem aviso prévio. Além disso, muitas vezes minimizamos o que a
criança sente na vã tentativa de fazê-la se sentir bem mais rápido, mas isso só
faz a criança sentir que sua emoção é errada. Então, aposente esse hábito e da
próxima vez que seu filho ou filha ralar o joelho e vir chorando até você, não
diga que não foi nada.
6.As
emoções são transitórias e podemos sentir mais de uma ao mesmo tempo. Emoções
disparam reações em nossos corpos sobre as quais não temos controle algum. Elas
surgem após percepções dos nossos sentidos e, antes mesmo que possamos pensar a
respeito, o sistema nervoso autônomo pode produzir uma secura na boca no
caso do medo ou um aperto no estômago no caso de susto, por exemplo. Algumas
reações automáticas do corpo podem assustar uma criança e ela pode ter
dificuldade para lidar com essa questão. Explicar que as emoções passam como as
nuvens e oferecer apoio vai aumentar o vínculo e a confiança entre vocês.
7.O
cansaço pode dificultar o manejo das emoções. Isso ocorre porque todas as
células do nosso corpo precisam de energia para funcionar e as células
cerebrais não são diferentes. Então, não espere um controle emocional primoroso
quando as crianças estão cansadas. Vale mais oferecer um momento e um local
para que as energias sejam recuperadas.
8.Crie
estratégias para enfrentar e superar os momentos difíceis. Pais e filhos podem
verificar juntos algumas questões: Quais situações costumam incomodar a
criança? Quando ela inicia uma birra? O que costuma acontecer no momento que
antecede uma bronca? Identificar os pontos de tensão ajuda a definir o que se
pode fazer para prevenir um problema ou mesmo resolvê-lo. As estratégias são
extremamente pessoais mas pode ser ouvir música, apertar um bichinho de
pelúcia, respirar, colorir, escrever, tomar um copo de água ou mesmo receber um
abraço apertado e demorado.
9.Leve
a criança a pensar nas consequências de seus atos. É bem verdade que não
controlamos o que sentimos, mas podemos sim controlar como agimos. Então,
relacione a reação dela com o que aconteceu depois e mencione as reações de
outras pessoas. Será que passou dos limites? Poderia ter agido de forma melhor?
Como outras pessoas se sentiram? Ela mudaria alguma coisa se vivesse a mesma
situação novamente? Brinque de teatrinho, ensaiando as diversas possibilidades
de enfrentamento e resolução do problema. Essa prática permite com que a
criança viva a frustração de forma segura, pratique a tolerância e fixe em seu
repertório de respostas a capacidade de se adaptar às mais diversas situações.
Fazer um desenho também pode ajudar muito neste processo e as crianças
amam.
10.
Flagre seu filho fazendo a coisa certa e o
elogie por isso. Uma criança quer se sentir querida, valorizada e apoiada por
seus pais, então, nada melhor do que eu elogio – sincero, claro! – para
aumentar a probabilidade de um comportamento bom se repetir. Não espere
mudanças repentinas e mantenha os olhos abertos para observar as pequenas
conquistas diárias pois elas formarão o alicerce de um adulto bem-sucedido
emocionalmente. E não desista frente a primeira (ou segunda, ou terceira...)
dificuldade. Um novo hábito demora para ser instalado. Ensinar formas de lidar
com estresse e frustrações é com toda a certeza melhor do que disciplinar e
impor sanções.
Cristiane
Carvalho - Mãe e fundadora da TeraPlay Brinquedos
Terapêuticos cujo foco é proporcionar educação emocional para crianças típicas
e atípicas de forma divertida e constante, contribuindo para a melhora da
comunicação, aumento da qualidade dos relacionamentos interpessoais, resolução
de conflitos e autoconhecimento. Autora de três livros infantis, “ Faísca
Explica: as emoções”, “Faísca explica: quando é bom pedir um tempo” e “Quase
tudo sobre mim” e criadora de diversos brinquedos terapêuticos. Fez magistério, se formou em Direito
pela USP e se apaixonou pelo tema do Autismo quando ele surgiu em sua
casa. Fez diversos cursos na área e pesquisa assuntos relacionados
à neuropsicomotricidade, saúde mental e educação emocional há mais de 10
anos.
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