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segunda-feira, 3 de maio de 2021

Lesões na prática esportiva: como tratar?

O trauma é um evento muito comum em nossas vidas. Quem nunca levou aquela canelada numa partida de futebol? Quem nunca torceu o tornozelo? Todos sabemos que as quinas das camas odeiam nossos dedinhos dos pés, não é mesmo? Brincadeiras à parte, infelizmente os traumas leves acontecem muito, e todos devemos saber lidar com esses eventos.

 
Por muitos anos utilizamos, no meio médico, para esses traumas leves, o acrónimo "PRICE", que propõe como protocolo a proteção (P), repouso (R), ice/gelo (I), compressão (C) e elevação (E). Porém, nos últimos anos, outros conceitos vêm sendo estudados e um conceito moderno propõe a alteração do protocolo de lesão de partes moles e leves para o acrónimo chamado de "PEACE and LOVE".
 
O que motivou essa mudança foi o entendimento da complexidade do tratamento das lesões de partes moles em etapas: agudas, subagudas e crônicas. Assim, começou-se a abranger todas essas etapas de forma individualizada, buscando melhorar a cicatrização tecidual e a reabilitação. Os colegas canadenses Blaise Dubois e Jean François, em 2019, descreveram no British Journal of Sport Medicine esse novo conceito, onde o acrónimo "PEACE" seria realizado no momento agudo e "LOVE" no momento subsequente.
 
Na fase aguda, o “PEACE” é explicado da seguinte forma. O “P” é de proteção. Orientamos nos primeiros dias (do 1º ao 3º dia) cuidados com descarga do peso e restrição do movimento, para minimizar a distensão das fibras lesadas e reduzir os riscos de agravar a lesão. Porém, o repouso é controlado e minimizado, uma vez que o prolongamento pode comprometer a qualidade do tecido em cicatrização. Baseamos essa orientação e cessação da proteção conforme evolução dos sintomas álgicos.
 
O “E” é de elevação, realizada para promover a melhora do fluxo de fluidos nos tecidos. Lembre-se que a elevação do membro deve ser realizada acima do nível do coração, para promover um efeito satisfatório. Já o “A” 
é anti-inflamatório. Sabemos que os anti-inflamatórios não esteroides e o gelo são importantes no controle da inflamação, porém o seu uso deve ser limitado à fase aguda, pois a inibição da inflamação prolongada pode afetar negativamente a cicatrização desses tecidos.
 
Por sua vez, o “C” significa compressão. A pressão mecânica com bandagens elásticas limitam o edema intra-articular e a hemorragia tecidual, o que favorece o controle da dor. Por fim, o “E” quer dizer educação. Educamos os pacientes nas abordagens com tratamentos ativos, gerenciamento de cargas e mobilização precoce.
 
Logo após a fase aguda inicial (3° ou 4° dia em diante), aplicamos o “LOVE”. Iniciando com o “L”, que vem de “load”, carga em português. Sugerimos, portanto, abordagens ativas com exercícios e cargas progressivas assim que os sintomas permitirem. Em seguida, o “O” é de otimismo. Expectativas otimistas estão associadas a melhores resultados comparando com pacientes com fatores psicológicos depressivos ou ansiosos, em que preponderam o medo e desconfiança. A boa relação médico-paciente é essencial, procure sempre um profissional que ofereça segurança e demonstre conhecimento em todas suas dúvidas.
 
“O V” é de vascularização. Atividades aeróbicas devem ser estimuladas, de maneira progressiva, assim que as dores permitirem. O aumento do fluxo sanguíneo nestes tecidos lesionados melhoram o progresso da cicatrização. Finalizando, o “E”, de exercício. Com a melhora das dores, o fortalecimento muscular ajuda a mobilidade, força, propriocepção e no retorno às atividades laborais e esporte. 

Sempre que necessário procure seu médico ortopedista. Apesar da pandemia que passamos hoje, os traumas são eventos que devem ter atenção redobrada, pois infelizmente podem acarretar lesões ligamentares e fraturas que podem trazer consequências e sequelas importantes.

 


Vitor Corotti - médico ortopedista, especialista em medicina esportiva, e chefia a equipe de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC)


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