O trauma é um evento muito comum em nossas vidas. Quem nunca levou aquela canelada numa partida de futebol? Quem nunca torceu o tornozelo? Todos sabemos que as quinas das camas odeiam nossos dedinhos dos pés, não é mesmo? Brincadeiras à parte, infelizmente os traumas leves acontecem muito, e todos devemos saber lidar com esses eventos.
Por muitos anos utilizamos, no meio médico, para esses traumas leves, o
acrónimo "PRICE", que propõe como protocolo a proteção (P), repouso
(R), ice/gelo (I), compressão (C) e elevação (E). Porém, nos últimos anos,
outros conceitos vêm sendo estudados e um conceito moderno propõe a alteração
do protocolo de lesão de partes moles e leves para o acrónimo chamado de
"PEACE and LOVE".
O que motivou essa mudança foi o entendimento da complexidade do tratamento das
lesões de partes moles em etapas: agudas, subagudas e crônicas. Assim,
começou-se a abranger todas essas etapas de forma individualizada, buscando
melhorar a cicatrização tecidual e a reabilitação. Os colegas canadenses Blaise
Dubois e Jean François, em 2019, descreveram no British Journal of Sport
Medicine esse novo conceito, onde o acrónimo "PEACE" seria realizado
no momento agudo e "LOVE" no momento subsequente.
Na fase aguda, o “PEACE” é explicado da seguinte forma. O “P” é de proteção.
Orientamos nos primeiros dias (do 1º ao 3º dia) cuidados com descarga do peso e
restrição do movimento, para minimizar a distensão das fibras lesadas e reduzir
os riscos de agravar a lesão. Porém, o repouso é controlado e minimizado, uma
vez que o prolongamento pode comprometer a qualidade do tecido em cicatrização.
Baseamos essa orientação e cessação da proteção conforme evolução dos sintomas
álgicos.
O “E” é de elevação, realizada para promover a melhora do fluxo de fluidos nos
tecidos. Lembre-se que a elevação do membro deve ser realizada acima do nível
do coração, para promover um efeito satisfatório. Já o “A” é anti-inflamatório.
Sabemos que os anti-inflamatórios não esteroides e o gelo são importantes no
controle da inflamação, porém o seu uso deve ser limitado à fase aguda, pois a
inibição da inflamação prolongada pode afetar negativamente a cicatrização
desses tecidos.
Por sua vez, o “C” significa compressão. A pressão mecânica com bandagens
elásticas limitam o edema intra-articular e a hemorragia tecidual, o que
favorece o controle da dor. Por fim, o “E” quer dizer educação. Educamos os
pacientes nas abordagens com tratamentos ativos, gerenciamento de cargas e
mobilização precoce.
Logo após a fase aguda inicial (3°
ou 4° dia em diante), aplicamos o “LOVE”. Iniciando com o “L”, que
vem de “load”, carga em português. Sugerimos, portanto, abordagens ativas com
exercícios e cargas progressivas assim que os sintomas permitirem. Em seguida,
o “O” é de otimismo. Expectativas otimistas estão associadas a melhores resultados
comparando com pacientes com fatores psicológicos depressivos ou ansiosos, em
que preponderam o medo e desconfiança. A boa relação médico-paciente é
essencial, procure sempre um profissional que ofereça segurança e demonstre
conhecimento em todas suas dúvidas.
“O V” é de vascularização. Atividades aeróbicas devem ser estimuladas, de
maneira progressiva, assim que as dores permitirem. O aumento do fluxo
sanguíneo nestes tecidos lesionados melhoram o progresso da cicatrização.
Finalizando, o “E”, de exercício. Com a melhora das dores, o fortalecimento
muscular ajuda a mobilidade, força, propriocepção e no retorno às atividades
laborais e esporte.
Sempre que
necessário procure seu médico ortopedista. Apesar da pandemia que passamos
hoje, os traumas são eventos que devem ter atenção redobrada, pois infelizmente
podem acarretar lesões ligamentares e fraturas que podem trazer consequências e
sequelas importantes.
Vitor Corotti - médico ortopedista, especialista em
medicina esportiva, e chefia a equipe de Ortopedia e Traumatologia do Hospital
Dona Helena, de Joinville (SC)
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