Que tal explorar junto com os alunos os
aprendizados da natureza?
A
natureza pode ser nosso grande mestre. Mas é preciso desenvolver olhos e
ouvidos no coração da criança. Observá-la, aprender com ela e imitá-la não são
novidades. Desde Goethe e sua crença na harmonia inseparável entre homem e
natureza e no paralelismo da natureza com a arte, tão bem descrito no livro “A
metamorfose das plantas”, diversos cientistas, inventores e artistas
incorporaram a arte de contemplar as soluções que o planeta encontra para os
seus diversos desafios.
A
Biomimética vê a natureza de três perspectivas distintas: como um modelo
(estudar os modelos da natureza e imitá-los ou usá-los como inspiração, com o
intuito de resolver os problemas humanos), como uma medida (usar o padrão
ecológico para avaliar a relevância e o benefício das nossas inovações. Após
bilhões de anos de evolução, a natureza descobriu o que funciona, o que é mais
apropriado e o que mantêm) e como uma mentora (nova forma de observar e avaliar
a natureza. Preocupar-se não no que podemos extrair do mundo natural, mas no
que podemos aprender com ele).
A
partir desses três pontos, fica claro que a Biomimética propõe uma verdadeira
revolução nas relações que nutrimos com o ambiente.
Frequentemente
as crianças sabem mais sobre isso do que nós, adultos, pois elas não perderam a
destreza da observação. É o caso de Boyan Slat, um jovem que se alicerçou nos
giros oceânicos que estudara para inventar uma nova forma de coletar lixo
marítimo. Uma possibilidade é estimular os educandos a criarem projetos de
aprendizagem que se abasteçam da Biomimética para resolver as questões que mais
lhes preocupam.
Crianças
exploram o mundo à sua maneira, em busca de conhecer, integrar-se, interagir,
sentir, experimentar e, ainda que se utilizem de ações que aos nossos olhos
parecem repetitivas, para elas, sempre trazem novos elementos e possibilidades,
enquanto essas ações lhes fizerem sentido.
A
natureza é um rico universo de aprendizagens. Por ser um espaço prazeroso e
misterioso, é natural que desperte na criança a alegria de pertencer e cuidar
dele, aprendendo sobre sustentabilidade, ciclo de vida, origem dos elementos,
cuidado, respeito, amor, cooperação, colaboração, resistência, persistência,
solidariedade e resiliência.
A
escritora de Ciências Naturais Janine M. Benyus defende, em seu livro
“Biomimética: Inovação Inspirada pela Natureza”, que esta busca vem contra a
tendência moderna de dominar ou melhorar a natureza, e se mostra como uma
verdadeira revolução na interação Homem e Meio ambiente.
Compreende-se,
portanto, que a natureza constitui-se de um importante meio para o
desenvolvimento infantil em todos os aspectos (físico, emocional, social,
cognitivo e espiritual). Observá-la é um exercício estratégico, pois nos seus
elementos é possível encontrar grandes soluções para problemas que afligem a
humanidade.
A
natureza pode ser nosso grande mestre, mas é preciso observar. Para insetos
sociais, por exemplo, o trabalho em equipe é predominantemente auto
organizado. Coordenados principalmente através das interações de membros
individuais da colônia, os insetos podem resolver problemas complexos, embora
cada interação seja muito simples.
A
Biomimética é uma área multidisciplinar e por isso pode contribuir para
diversos campos do saber. Sua lógica é considerada totalmente inversa à da
exploração, pois acredita que a natureza deve ser consultada observada e não apropriada
ou domesticada. Isso é um reforço fantástico na ideia de eficiência e
sustentabilidade.
Sob
essa ótica, é possível refletir: há forma mais didática de se aprender sobre
ciclo de vida do que a oportunidade de observarmos o nascimento, crescimento e
morte de um girassol, por exemplo? Seu ciclo dura cerca de 12 meses, a partir
do plantio das sementes e mesmo quando a flor parece esgotada até mesmo para
enfeitar o jardim com sua graça e beleza, lá estão novas sementes que darão
vida a novas flores.
Se
nos ambientes urbanos encontram-se os elementos mais definidos, prontos
(brinquedos, objetos, entre outros), nos ambientes naturais pode-se mais
livremente dar asas à imaginação, por exemplo, olhando um graveto e imaginando
que ele é um barco para viajar sem limites.
A
natureza é um rico espaço que também alimenta o imaginário infantil e favorece
à criança criar e ressignificar brinquedos e brincadeiras. Um espaço que
lhe traz elementos que podem se transformar no que ela desejar - pedras, folhas
secas, flores, sons, terra, insetos - favorecendo brincadeiras mais criativas,
interessantes e cooperativas.
A
riqueza de possibilidades é tão intensa que, mesmo nesses tempos de
distanciamento social, é possível explorar oportunidades que naturalmente façam
parte do ambiente da casa, como plantas na varanda ou no quintal.
Então
pare! Olhe ao seu redor. Qual foi a última vez que você efetivamente parou e
observou como as coisas acontecem na natureza?
Prof. Carlos Walter Dorlass - Diretor Geral do Colégio Marista
Arquidiocesano.
Profa. Rosana Marin -
coordenadora de Educação Infantil do Colégio Marista Arquidiocesano.
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