Durante quase toda minha vida ouvi a
frase: "Não existe opinião pública; o que existe é opinião
publicada". Dela fiz uso, muitas vezes, para mostrar que a imprensa
costumava atribuir à sociedade, como conteúdo de produção própria, ideias e
opiniões cuidadosamente cultivadas no que ela, imprensa, disponibilizava.
Nos anos mais recentes, a popularização
da Internet, dos smart phones e das redes sociais abriu um amplo espaço para as
fontes de opinião se expandirem em crescimento exponencial e em diversidade tal
que, pela primeira vez na história, se pode falar sobre opinião pública como
algo diversificado e democratizado.
O leitor destas linhas sabe. Nossa mídia
vem seguindo uma estratégia que, embora tendo Bolsonaro como alvo aparente de
suas matérias, visa, com efeito, restaurar seu antigo plantio e supremacia
contra as opiniões de conservadores e liberais. Durante sucessivas décadas
essas duas palavras eram usadas para injuriar pensadores, políticos,
professores. Bolsonaro é, apenas, o alvo fácil para esse ataque a um público
cuja opinião precisa sucumbir, novamente, no obscurantismo do movimento
revolucionário, "autorrotulado" progressista, que dominou a política
e a cultura brasileira com os péssimos resultados ainda hoje se fazendo
conhecidos... graças às redes sociais.
Os jornais desta manhã (26/06) trazem a
notícia de que o presidente da República discursou ontem no Palácio do
Planalto, em presença do ministro Dias Toffoli do STF e falou em colaboração e
harmonia entre os poderes de Estado. Do que li, colhi a impressão de que o
presidente recuava de sua atitude até então belicosa para ir ao encontro da
conduta fidalga dos demais poderes... No entanto, pasmem os leitores, ontem
mesmo, em entrevista à CNN, o
ministro Gilmar Mendes, com sua habitual falta de compostura (um defeito que a
mídia só vê em Bolsonaro) fez piadinha dizendo que as milícias do Rio podem
emprestar um soldado e um cabo"... (1). Também ontem, ao ser eleito para
presidir o STF a partir de 10 de setembro, o ministro Luiz Fux afirmou sua
disposição de manter o STF "no mais alto patamar das
instituições brasileiras" (2). Na véspera, em entrevista ao UOL, a
ministra Cármen Lúcia, falando do que não entende, havia afirmado: "Acho
difícil superar a pandemia com esse desgoverno" (3).
Diante
desses três fatos pergunto se você, leitor, viu na grande imprensa alguma
repercussão a essas frases que jamais seriam ouvidas de ministros que
respeitassem sua função e poder, zelosos pela harmonia imposta pela
Constituição? Desde quando ministros do STF estão liberados para fazer piadas
maliciosas carregadas de intenções políticas? Desde quando um futuro presidente
da Corte pode se comprometer com elevar seu poder acima das demais
instituições, quando a CF diz que os poderes são independentes e harmônicos,
sem que um se sobreponha aos outros? Desde quando uma ministra se permite fazer
crítica política frontal, sem cabimento nem fundamento, como a formulada pela
ministra Cármen Lúcia?
Quanta
irresponsabilidade numa missão de tamanha responsabilidade! Tudo isso num
intervalo de umas poucas horas, provavelmente em dia de folga dos loquazes
ministros Alexandre de Moraes e Celso de Mello, muito mais useiros e vezeiros
nesse tipo de manifestação de agravo ao Poder Executivo. Quanta parcialidade no
comportamento da imprensa! Ah, se fossem ditos do presidente, ou de alguém a
ele ligado!
Nenhum comentário:
Postar um comentário