Orientar e trabalhar junto: gestão de
unidades é responsável por avaliar métodos e pesquisas para manter hospital em
plena atividade
Quem é atendido em um
hospital pode não saber exatamente quantos profissionais atuaram no seu
tratamento, e de como e porque os processos que envolvem a melhoria da sua
saúde foram adotados. Mas, há explicação. Ela está, em parte, nos bastidores,
na gestão do hospital.
Cuidar da equipe,
comandar e trabalhar junto na linha de frente. Assim devem agir os gestores de
unidades dentro de um hospital, que realizam o trabalho de organização de
pessoas, procedimentos e estruturas os quais mantém vivo o funcionamento pleno
dos centros médicos. Responsabilidades que cabem a profissionais experientes e
que ganham ainda mais peso durante o período quando se atravessa uma pandemia.
Os desafios, no entanto, fazem parte da carreira de cada um desses médicos que
atuam na função de gestor no Hospital Icaraí (HI), em Niterói, na zona
metropolitana do Rio de Janeiro, instituição que conta com mais de 2 mil
médicos cadastrados e 1,3 mil colaboradores, aproximadamente, com atendimentos
em emergências, unidades de tratamento intensivo (UTIs), centros de diagnóstico
e imagem, além de assistências especializadas, transplantes e cirurgias – cerca
de 1.100 por mês.
Se as dificuldades em
fazer um hospital de grande porte funcionar são constantes no dia a dia, na
situação atípica de combate ao novo coronavírus, por exemplo, as preocupações e
demandas se multiplicam. No início, muito por causa do desconhecimento da
doença e o pouco acesso aos protocolos a serem adotados. A doutora Patrícia
Martins, médica há 27 anos e gestora clínica da Unidade de Internação
Pediátrica e gerente médica do Escritório de Projetos do HI, considera que o
gestor deve entender os mecanismos que podem melhorar o desempenho do hospital
e estar atento às expectativas no mercado de saúde, aos avanços tecnológicos e
às pesquisas na área médica.
“Nessa fase atual nós
tivemos que nos adaptar a uma rotina intensa de tomada de decisões frente a um
enorme volume de informações que chegavam através de matérias e artigos ainda
em processo de validação, e conclusões por meio da experiência de países que já
atravessavam a pandemia há mais tempo”, explica. Para ela é necessário saber
ouvir os colegas. “Discussões com médicos e profissionais de outras categorias
para dividir percepções e constatações também acontecem a todo momento. Além
disso, é fundamental a constante atenção às recomendações e decretos dos órgãos
reguladores para adaptação de fluxos e adequação dos protocolos e políticas que
marcam este período”, completa.
Patrícia aponta ainda
que muito do trabalho de um gestor está no olhar sensível aos profissionais, e
que a prática clínica ajuda a reconhecer os pontos de ajustes necessários em
cada operação. A busca pela melhoria precisa ser uma ação constante.
Dentre as tarefas de um
gestor de unidade está a de monitorar treinamentos, implementar diretrizes e
projetos de acordo com os protocolos de atendimento e promover ações que
resultem na assistência médica segura e de qualidade. Aliada a tudo isso, está
a preocupação com a celeridade do atendimento médico, principalmente se a
gestão envolve a unidade de emergência, como é o caso do doutor Daniel Marques.
“A minha função impacta
diretamente todos os outros setores da instituição, já que grande parte dos
pacientes internados são admitidos pela nossa emergência. Então, precisamos
sempre administrar velocidade e qualidade, para que os pacientes não aguardem
tanto tempo na espera e tenham os seus diagnósticos definidos o mais
rapidamente possível. E claro, alinhar essa produção médica à qualidade
assistencial”, afirma Daniel, coordenador e gestor da emergência adulta da
unidade do Hospital Icaraí.
A gestão médica tem um
ponto de encontro com a administração, no sentido de que é importante ter, além
conhecimento clínico e médico, uma visão ampla sobre recursos humanos e
finanças.
“Na formação acadêmica
de um médico não existe nenhuma cadeira que promova educação em administração
ou gestão. O talento para gestão pode ser nato ou pode ser desenvolvido através
de qualificação. Aliar ambas condições é o ideal”, explica a doutora Patrícia
Martins.
Crise e união
Nos momentos de crise
como a atual, que representa um marco na vida pessoal e profissional de cada
agente da saúde, sobressai mais um ponto essencial para a boa prestação de
serviço do hospital: a união. Bem como em qualquer trabalho em equipe por
metas, no caso a vitória contra as enfermidades e a busca pelo bem-estar dos
pacientes, um time unido encurta os caminhos e o entrosamento faz as chances de
sucesso aumentarem.
“A Covid trouxe um
período muito complicado para mim e minha equipe, mas que serviu para mostrar
como estamos coesos e alinhados às propostas da instituição. Tivemos semanas
horríveis, com pacientes muito graves e em grande quantidade. Precisei me
desdobrar para aumentar a minha capacidade assistencial junto aos meus amigos
e, ao mesmo tempo, manter as minhas obrigações administrativas. Um desafio
enorme”, conta o doutor Daniel Marques, comemorando que todos os funcionários
do setor que adoeceram na batalha contra o novo coronavírus já estão plenamente
recuperados.
Vários outros setores do hospital também têm motivo para celebrar em meio ao caos, principalmente por causa do fortalecimento de laços e do sucesso contínuo do trabalho durante a pandemia. Thereza Granja é gestora da Emergência Pediátrica do Hospital Icaraí, desde quando foi inaugurada, e um dos seus maiores êxitos nessa trajetória é, segundo ela, seguir com grande parte da primeira equipe formada trabalhando em conjunto.
“São nove anos de envolvimento diário com a demanda
e qualificação do atendimento e com os colaboradores envolvidos na assistência
pediátrica. Conseguimos manter 60% dos profissionais que inauguraram a unidade
junto comigo. Diariamente sinto isso como um orgulho imenso para mim, por ter
formado essa família”, afirma a doutora Thereza.
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