Pesquisadores indicam ainda que maiores níveis de estresse, ansiedade e depressão durante a pandemia são identificados em solteiros
De acordo com a 46º edição das Estatísticas do
Registro Civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
tempo médio de duração dos casamentos no Brasil reduziu de 17,5 anos para 13,8
anos, ou seja, cerca de quatro anos a menos, em dez anos (2009-2019). Quase
metade dos casamentos que foram desfeitos em 2019 duraram menos de 10 anos. Na
contramão desses números, porém, um estudo publicado no Journal of Marriage and
Family (JMF) sugere que pessoas em relacionamentos conjugais parecem ser mais
saudáveis, tendem a procurar menos um serviço médico e, nos casos de
internamento hospitalar, o tempo de permanência no hospital é menor.
A publicação americana mostra que pessoas
divorciadas e separadas têm o pior estado de saúde. Pessoas viúvas estão em
segundo lugar, seguidas pelas solteiras. Esse também é o tema de um estudo da
psicóloga Janete Knapik, professora do curso de Psicologia da Universidade
Positivo. "Relacionamentos de casal têm demonstrado benefícios como a
melhora na saúde mental, na qualidade de vida, na saúde emocional e
física", afirma. Segundo ela, esses resultados podem ser explicados pelos
papéis conjugais assumidos e pelo estilo de vida dos casais.
Uma das hipóteses é de que existe uma seletividade
na escolha do parceiro que leva a comportamentos mais saudáveis - isto é,
indivíduos casados podem ser autosselecionados com base em características
relacionadas à saúde, atitudes em relação à saúde ou fatores comportamentais -
e outra hipótese é a de que casais passam adotar comportamentos mais regrados
de atenção à saúde, ou seja, ao menor sinal de mal-estar ou adoecimento, as medidas
de cuidado são tomadas antes de maiores agravamentos. "Existe uma forte
relação social entre o casal que pode resultar em melhor saúde, pois os
cônjuges - principalmente as mulheres - atuam como cuidadores, fornecendo
suporte físico e emocional", revela.
A professora lista quatro fatores que podem
justificar que pessoas em um relacionamento conjugal tendem a ser mais
saudáveis: o aumento dos recursos materiais, que são somados; menores níveis de
estresse; maior adesão a comportamentos seguros e saudáveis e não exposição a
riscos; e maior apoio social. "Os cônjuges podem atuar como zeladores
domésticos, evitando assim a necessidade de assistência médica formal. Dessa
forma, eles podem auxiliar na adesão à medicação, preparando e incentivando o
consumo de refeições saudáveis ou garantindo o comparecimento às consultas
médicas", exemplifica.
Além disso, a professora explica que a união de
casais pode suscitar uma "capacidade sobressalente", que é a
habilidade de dedicação de tempo, esforço e recursos de saúde disponíveis para
melhorar a saúde, como resultado da divisão do trabalho e responsabilidades
dentro de casa. "Aumenta o envolvimento no compartilhamento de recursos e
investimentos mútuos. Existem efeitos psicológicos e físicos para a saúde da
coabitação conjugal", ressalta. A professora observa, no entanto, que os
benefícios do relacionamento conjugal não são percebidos em relações abusivas,
já que nesses casos existe uma relação de poder e não de partilha de
cuidado.
Segundo a professora, idosos divorciados e viúvos
apresentam maior chance de demência e maior chance de prejuízo nos domínios
cognitivos; idosos que nunca foram casados têm maior chance de prejuízo na
memória e adultos com mais de 40 anos e solteiros, especialmente aqueles que
não estão em um relacionamento, tendem a ser menos ativos fisicamente do que
pessoas casadas. Outro dado interessante é que as mulheres solteiras
experimentaram diminuição da qualidade de vida em relação à saúde e uma
recuperação mais lenta no primeiro ano em casos de cirurgia cardíaca.
"Além disso, diversas pesquisas em diferentes países do mundo que estão
avaliando a saúde mental das pessoas na pandemia da Covid-19 têm evidenciado
que indivíduos solteiros estão experimentando maiores níveis de estresse,
ansiedade e principalmente depressão durante a pandemia", revela Janete.
Universidade
Positivo
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