Parcerias do
Sebrae com entidades de peso, como CNI, Apex-Brasil e Conampe, reforçam o
conteúdo e o ferramental disponível para os empreendedores que almejam a
internacionalização
Quais são as chances de um típico produto
brasileiro como pão de queijo, café e molhos fazer sucesso fora do país? Não
importa o tamanho do negócio, o certo é que para exportar qualquer um desses
produtos, é preciso pensar em vários detalhes, desde o formato da embalagem
(nos Estados Unidos e Europa, por exemplo, os produtos são expostos na
vertical), além de aspectos como transporte, adaptação à legislação local,
entre outros.
Orientações como essas fazem parte do apoio do
Sebrae para às micro e pequenas empresas que estão começando a pensar na
internacionalização até as que já exportam, mas querem ampliar sua presença no
exterior. E por que razão o Sebrae como instituição que cuida desse nicho de
negócios está envolvido numa pauta como essa? A resposta é que a possibilidade
de chegada ao mercado internacional já é por si só um fator de aumento de
competitividade, para os empreendimentos e consequentemente para o país, ainda
que nem todos cheguem efetivamente a exportar. Quando a pequena empresa
envereda por esse caminho precisa repensar toda sua estrutura interna e, ao
rever seu modelo de negócio, assegura um salto em sua gestão.
“Ao olhar para dentro, surge nas empresas o desejo
de resolver os pontos de falha, antes mesmo de levar adiante a ideia da
exportação, que originou a arrumação da casa. E, se nessa caminhada a
comercialização para o mercado internacional não se concretizar, os ganhos já
poderão ser vistos”, diz Gustavo Reis, analista de competitividade do Sebrae.
Mas, após esse repensar para o mercado doméstico,
para aqueles que pretendem seguir adiante ele cita diversos pontos de
adequação, com destaque para o fator equipe, lembrando que é preciso ter
pessoas que conheçam o mercado em questão, que falem a língua local, que tratem
dos trâmites aduaneiros e logísticos, sem falar do câmbio e da possível necessidade
de adaptação do processo produtivo. “Para um plano de mercado no Brasil, de um
estado para outro o investimento é em Real. Quando falamos em mercados
internacionais, por exemplo, Alemanha, ter uma pessoa que conheça esse mercado
o investimento ocorrerá, em Euro. Tem que ter gente capacitada para fazer
isso”.
Mas além do fomento à competitividade, o incentivo
do Sebrae nessa pauta se baseia em um outro aspecto, que é o baixíssimo valor
agregado às atividades de exportação de micro e pequenas empresas no Brasil.
Dados do DataSebrae (https://datasebrae.com.br/comercioexterior/)
mostram que, das quase 22 mil empresas que exportam no país, 41% são pequenos
negócios, o que, num olhar pouco atento, pode parecer um bom número, mas que
representa menos de 1% do valor total exportado. De acordo com Gustavo, as oito
mil micros e pequenas empresas que vendem produtos para o exterior são focadas
em madeira, calçados, móveis, produtos manufaturados, o que pode influenciar a
questão dos custos, deixando o valor não tão competitivo, por exemplo, numa
comparação com a China. Além disso, há uma questão macro, que é a expertise
brasileira na exportação de commodities. “Os olhos do comércio exterior estão
voltados para os grandes negócios. Com um tíquete médio alto e operações
longas, enquanto que o referente aos pequenos empreendimentos é de US$ 150 mil
e operação de curto prazo. E ainda que a questão do valor agregado seja
gritante, o número de quem exporta também é baixo. Nossa economia é formada por
quase 20 milhões de empresas, onde 99% são pequenas, sendo que só 8 mil
exportam. É um desafio mudar esse quadro”.
O suporte oferecido pelo Sebrae aos donos de micro e
pequenas empresas que pensa na internacionalização passa por consultorias,
cursos (atualmente com mais ênfase na modalidade de ensino à distância - EAD),
palestras, seminários e mentorias. Também são disponibilizados materiais no
site da entidade, como e-books temáticos sobre exportação e alguns com foco em
setores como cachaça ou moda, por exemplo. “Claro que o Sebrae não tem 100%
dessa expertise e, por isso, além de todo esse ferramental de capacitação, nós
lançamos mão de parceiros de peso, como a Confederação Nacional da Indústria
(CNI) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos
(Apex-Brasil)”, pondera Gustavo. Ele fala ainda que uma outra frente vem sendo
formada com a Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas e dos Empreendedores
Individuais (Conampe), justamente pelo entendimento de que o comércio
internacional é possível para qualquer tipo de empresa. “Hoje, trabalhamos
basicamente para desmistificar temas relacionados ao comercio exterior”,
completa.
Gustavo traz na ponta da língua três pontos básicos
do que chama de script para quem almeja a internacionalização:
1 – Cultura da exportação: desmistificar que para
começar a exportar é necessário que a empresa alcance o mercado do bairro,
depois da cidade e assim sucessivamente. É possível vender produtos para outros
países independentemente do tamanho ou da capilaridade da empresa, e até mesmo
criar negócios com foco exclusivo no mercado internacional. É a desmistificação
citada por ele mais acima.
2 – Planejamento: preparar o negócio para alcançar
a capacidade de levar o produto do ponto A para o ponto B, levando em conta
todas as peculiaridades envolvidas. Não adianta achar que é possível exportar
de uma hora para outra ou que o produto que faz sucesso aqui vai automaticamente
fazer sucesso lá fora. Existe um processo, de médio a longo prazo, e buscar
entidades de apoio, como o Sebrae, pode fazer toda a diferença.
3 - Entender qual é a maturidade do negócio para
lidar com o mercado internacional: ter consciência do próprio produto e
processos para, aí, então, ver o que precisa ser melhorado.
Uma pequena produtora da planta medicinal moringa,
no Rio Grande do Norte, sabe bem disso. Iniciou seu processo de
internacionalização, por conta do sucesso dos negócios ao vender mensalmente
100 quilos de folha desidratada no mercado interno, mas, com o projeto ainda em
andamento, veio a proibição da venda de moringa no Brasil caiu como um balde de
água fria e só fez por acelerar a preparação para a exportação, único caminho
possível a partir de 2019. Tamar Medeiros conta que o Seridó é a região mais
seca do Brasil e que ela e sua família iniciaram em 2014 a cultura da planta
que precisa de pouca água e tem boa adaptação ao semiárido, aproveitando a
experiência do marido, engenheiro agrícola da Embrapa, e do filho, engenheiro
agrônomo. Nascia, aí, a Moringa Seridó. Eles foram para o Canadá estudar aquele
mercado e, após contato com a Câmara de Comércio Brasil-Canadá, foi iniciado
estudo sobre o interesse do país nas propriedades da moringa. A resposta não
poderia ser melhor e, com a ajuda do Sebrae, a família já iniciou as vendas
para o exterior. “O papel do Sebrae foi muito importante no nosso processo de
internacionalização e nossa experiência foi a melhor possível. Foram cursos, consultorias
e, o mais importante, viabilização rápida das certificações internacionais
necessárias, com o financiamento de 30% de cada uma delas”, comemora Tamar.
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