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Exemplos bem
sucedidos de inclusão em escola paulista - antes e durante a pandemia - viram
tema de livro
Manter a concentração durante as aulas remotas é um
desafio para a maior parte dos estudantes, de qualquer idade e em qualquer
nível escolar. Mas, para alunos com necessidades especiais, a experiência de só
ter contato com os professores e colegas por meio de uma tela de computador é
ainda mais complexa. No Colégio Educar Guarulhos, em São Paulo, dos 60 alunos
com necessidades especiais que estão atualmente matriculados, 15 são autistas.
Entre eles está Arthur, de 12 anos, aluno do 7º ano do Ensino Fundamental.
Diagnosticado desde cedo com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o menino
está na mesma escola há sete anos.
Daniela Navilli de Arauna, orientadora educacional
do colégio, afirma que, no caso de Arthur, a participação e aprendizagem por
meio do ensino remoto neste período de pandemia só estão sendo possíveis graças
aos avanços conquistados com o aluno ao longo dos últimos anos. "Quando
ele chegou aqui para nós, era agitado, nervoso, não parava muito tempo sentado,
levantava e saía o tempo todo da sala e precisava de intervenções constantes.
Praticar o ensino remoto com um aluno nessas condições seria quase inviável.
Após um intenso trabalho de acolhimento, de prática da escuta - da criança e
também da família - e estratégias individualizadas que atendessem
especificamente o aluno, a evolução e o desenvolvimento dele em relação ao seu
comportamento permitem que hoje ele consiga acompanhar as aulas e atividades
on-line sem prejuízo na aprendizagem e sem a necessidade de muitas adaptações
nas atividades propostas", conta a orientadora.
A mãe do menino, Ana Paula Rodrigues de Freitas,
confirma e comemora: "quando as aulas presenciais foram suspensas, fiquei
apreensiva, sabia que o convívio presencial com professores e colegas faria
muita falta e me preocupei se ele aceitaria bem o formato remoto. Para minha
surpresa, nas aulas on-line, ele se mostrou sempre muito interessado. A câmera
permanece sempre aberta, ele participa ativamente com perguntas e interage bem
com professores e demais alunos. Sabemos que isso é fruto de um longo trabalho
que vem sendo realizado pela escola, em parceria muito próxima com a família,
para o desenvolvimento dele. Não tenho dúvidas que o olhar atento dos
profissionais do colégio, o acompanhamento próximo e constante, oferecendo
sempre estratégias diferenciadas e as adaptações necessárias, nos permitiram
chegar hoje no patamar em que estamos", comemora a mãe.
A diretora do Colégio Educar, Renata Pereira
Batista, reforça que, para colher resultados como o de Arthur, neste período de
pandemia, foi preciso encarar o desafio da inclusão com um olhar ainda mais
cuidadoso. Educadores e equipe pedagógica do Colégio adaptaram práticas e
lançaram mão de todas as estratégias possíveis para manter a aprendizagem de
todos os seus alunos, incluindo aqueles com necessidades especiais. A
experiência da escola foi transformada em livro. A obra "Quando o querer
torna a prática possível" foi escrita e organizada por Renata, em conjunto
com os educadores Daniela Navilli de Arauna, Paula de Jesus Ribeiro e Adriano
de Oliveira Beserra. O livro traz relatos do dia a dia do colégio em diferentes
níveis de ensino, da Educação Infantil ao Ensino Médio, com estudo de casos que
mostram o trabalho com crianças de 5 anos até jovens de 17 anos.
Para Renata, abraçar a causa da educação inclusiva
é trabalhar diariamente para quebrar as barreiras que sempre se apresentam pelo
caminho. "Nossa maior causa sempre foi se pautar pelo respeito e
colaboração para desenvolver práticas pedagógicas que possam atingir todos os
nossos alunos, sem distinção. Esse sempre foi nosso maior desafio e certamente
que a pandemia e o ensino remoto acentuaram ainda mais essa luta, mas, quando
se trata de inclusão, não aceito a ideia do 'não é possível', 'é difícil' ou
qualquer outra muleta que possa ser usada como desculpa", esclarece a
diretora.
Conveniada ao Sistema Positivo de Ensino, a escola
trabalhou durante todo o último ano letivo de forma remota, garantindo àqueles
com necessidades especiais as adaptações necessárias para viabilizar o
aprendizado, mas sem deixar de lado uma premissa com a qual sempre trabalhou: o
aluno especial precisa estar inserido no mesmo contexto dos demais, sem
diferenciação na maior parte do tempo, apenas com a devida complementação
individual que cada caso em específico exige. "Sem essa condição, a
inclusão não acontece de fato. Não podemos apartar um aluno de seu grupo apenas
porque para ele a aula virtual é mais difícil. É claro que tivemos que fazer
adaptações, muitos materiais foram alterados e disponibilizados de forma
individualizada, atendendo às exceções e necessidades de cada estudante. Além da
participação do aluno nas aulas junto com a sua própria turma, abrimos espaço
no contraturno para atividades e momentos específicos para o estudante com
alguma necessidade especial e também para a família, porque ficou claro desde o
início que seria preciso acolher e trabalhar também de forma intensiva com
familiares e responsáveis por esses alunos", explica Renata.
Na obra, os autores relatam as práticas pedagógicas
e desafios diários pelos quais a escola passou. "Procuramos apresentar de
forma leve e o mais didática possível quais são os maiores desafios e como
realizamos nosso acompanhamento com cada um dos casos apresentados no livro.
Fizemos questão de detalhar as intervenções aplicadas para cada aluno para
mostrar que é, sim, possível. A inclusão nos lança em meio a um processo
cercado de detalhes que às vezes levamos tempo para enxergar ou dominar. Um
ponto fundamental para o sucesso é investir em um trabalho permanente de
formação e conscientização da comunidade escolar, do professor, passando pelos
demais colaboradores, incluindo todos os alunos e familiares",
ressalta.
Sem finalidade lucrativa, o livro está sendo
distribuído para mais de quatro mil professores do Brasil e Portugal. A
diretora do Colégio Educar - e uma das autoras da obra - defende que a Educação
só funciona e cumpre o seu papel quando as mentes estão abertas. "Nossa
luta é fazer com que as mentes de muitos se abram e assim permaneçam, e nossa
expectativa é que este livro contribua para isso também", completa.
Estudante autista e aprendizagem remota
A preocupação em garantir a inclusão de alunos com
necessidades especiais está entre os muitos desafios que escolas e educadores
enfrentam desde o início da pandemia para manter a continuidade do aprendizado.
A Lei de Inclusão, aprovada no Brasil em 2015, garante ao indivíduo com
necessidades especiais o direito e acesso à Educação. No caso de alunos com
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), existem inúmeras questões que surgem
quando se coloca um aluno autista para aprender por meio do ensino remoto: o
autista consegue permanecer em frente a uma tela e se concentrar para absorver
o conteúdo? Por quanto tempo isso é possível? Há que se considerar também as
dificuldades na comunicação virtual, não apenas no que diz respeito ao aluno
entender o que é dito, mas também no sentido dele se fazer entendido.
De acordo com a gerente de avaliações do Sistema
Positivo de Ensino e especialista em indicadores de risco de autismo em bebês,
Rita André, por maior que seja a preocupação em se adaptar a realidade atual
para que o ensino remoto também seja inclusivo aos autistas, é preciso levar em
conta que o isolamento e a suspensão das aulas presenciais afetam uma das
principais premissas da inclusão deste tipo de público, que é a socialização.
"Quando um aluno autista é inserido num processo de inclusão em uma
escola, a socialização é um dos principais objetivos desse processo, conseguir
fazer ele interagir com o outro. O ensino remoto para esse aluno vai exigir
estratégias diferenciadas, um olhar diferente para a aula que está sendo
oferecida para ele. O professor precisa aplicar uma metodologia, expressão
facial e corporal específicas para se conectar a esse aluno", explica
Rita. A especialista ressalta ainda que mesmo quando a prática pedagógica leva
todos esses aspectos em conta e garante a aprendizagem, o desenvolvimento do
estudante autista só será atingido se houver uma integração entre a escola e a
família que favoreça a interação do aluno com o meio social no qual ele está
inserido. "O processo de aprendizagem só atingirá sua finalidade se o
aluno for levado a interagir com os demais alunos da turma em atividades
cotidianas, o que lhe permitirá a socialização tão fundamental para seu
processo de inclusão", completa.
Sistema
Positivo de Ensino
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