É comum pessoas de sucesso atribuírem seus feitos à
sorte ou devido a ajuda de outras pessoas. Esse comportamento recebe o nome de
Síndrome do Impostor, revelando que muitos profissionais tendem a se considerar
indignos de tal conquista, se sentindo, muitas vezes, como uma fraude e nutrem
até mesmo uma sensação de a qualquer momento poderem ser desmascarados. A
desordem psicológica foi descoberta pelas psicólogas Pauline Rose Clance e
Suzanne Imes, nos anos 70, após um estudo feito com profissionais mulheres que
não se sentiam competentes ou qualificadas o bastante para determinada posição
ou trabalho.
Recentemente, Michelle Obama trouxe o assunto à
tona ao compartilhar suas próprias experiências com estudantes em Londres. Ela
revelou que precisou trabalhar bastante seu hábito de sempre se perguntar se
era boa o bastante para estar nas posições em que se encontrava. Depois deste
relato da ex-primeira-dama dos Estados Unidos, não só mulheres, mas jovens do
mundo todo têm compartilhado dos mesmos sentimentos em conversas e redes
sociais.
No Brasil, foi realizada uma pesquisa pela USP com
quase 500 estudantes. Cerca de 77% deles apresentavam sintomas da Síndrome do
Impostor. A maior parte destes eram jovens que tinham entre 17 e 24 anos. O
estudo revelou ainda uma forte ligação entre a síndrome e as diversas
cobranças, desde a infância desses jovens, por parte dos pais e pela própria
sociedade. Vivemos em uma sociedade de cobranças por excelência: devemos ser os
melhores alunos da escola e, na fase da adolescência, a obrigação de passar em
um bom curso em uma universidade renomada, também passa a assombrar os jovens
desde muito cedo. Somos cobrados o tempo todo por bons resultados e, quando
finalmente os conquistamos, achamos que não somos dignos deles ou mesmo que
qualquer um poderia ter chegado onde chegamos.
Outro ponto importante para trazermos para essa
discussão é que para passar por todas essas cobranças, muitas vezes, os jovens
se espelham em alguém que já conquistou grandes feitos e acabam por quererem
comparar suas conquistas às de seus ídolos. Isso naturalmente gera frustração
já que não se veem no mesmo patamar da pessoa admirada. Além disso, esse tipo
de comparação também gera autossabotagem, uma vez que, eles acreditam que só
conseguiram conquistar o que conquistaram porque foram ajudados por
alguém.
O mesmo comportamento de insegurança pode se
perpetuar na fase adulta, apresentando consequências no trabalho. Em ambientes
corporativos tóxicos, em que se costuma destacar apenas as metas e os
resultados individuais, a pressão só aumenta. Com as comparações acirradas e um
ambiente altamente competitivo, em que workaholics são vangloriados por
trabalharem horas e mais horas sem descanso, este sentimento de nunca ser bom o
bastante é alimentado. Isto acaba por trazer muitos prejuízos para a saúde
física e emocional dos funcionários, podendo inclusive agravar-se até se tornar
um caso da também conhecida Síndrome
de Burnout,
por exemplo.
Estas práticas de elevado desempenho a qualquer
custo não trazem vantagens nem para a empresa, nem para seus colaboradores,
visto que vivemos em uma sociedade em que as companhias são cada vez mais
valorizadas por proporcionarem qualidade de vida e equilíbrio entre a vida
profissional e pessoal dos funcionários, além de um propósito bem definido.
Para evitar estes ambientes, é necessário criar
espaços abertos para uma comunicação clara e transparente. E esse é um trabalho
que deve ser feito de forma conjunta, entre o RH e os gestores de cada área.
Para que todos se sintam incluídos e valorizados na equipe, o reconhecimento
deve ser feito continuamente.
A prática sistemática de feedback também ajuda
muito a fazer o profissional entender que suas conquistas são resultados de
seus esforços e que todos são capazes de crescer mais e mais rápido com a ajuda
uns dos outros, que a colaboração é sim benéfica e que cada integrante da
equipe tem um papel importante na entrega dos resultados como um todo.
Por fim, digo ainda que o profissional que perceber
comportamentos ou discursos próprios que desvalorizem seus feitos pode, por
iniciativa própria, procurar uma mentoria para ajudá-lo no planejamento,
adaptação e reconhecimento do seu valor. Além disso, caso o indivíduo
perceba que possui estes sintomas, procurar é indicado que ele busque ajuda
profissional, como um psicólogo, por exemplo. Reconhecer seus pontos fortes e
se julgar merecedor de seu sucesso é um passo importante e motivador para que o
alcance de um desenvolvimento contínuo.
Felippe
Virardi - formado em administração
de empresas, executivo com mais de 10 anos de experiência na área de marketing
e vendas e headhunter na Trend Recruitment, consultoria boutique de
recrutamento e seleção para marketing e vendas.
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