Discussão que ganhou força com a série de protestos
no Brasil em junho de 2013 mais uma vez vem à tona: a gratuidade da passagem de
ônibus, o chamado passe livre. Seus defensores, no entanto, esquecem de alguns
pontos cruciais em torno do polêmico tema.
Se puxarmos pela memória, nos últimos cinco anos,
em qual deles não tivemos greve de motoristas e cobradores? Alguns leitores
dirão que isso é uma forma que empresários do setor fazem para pressionar o
poder público, buscando o aumento da tarifa e, consequentemente, de seus
ganhos. Concordo, até certo ponto. Já pararam para pensar que o empresário
precisa manter a empresa funcionando e somente consegue fazê-lo com recursos
vindos da tarifa? O leitor parou para pensar que o aumento insano dos
combustíveis, que pesa no seu bolso, impacta no bolso da empresa de transporte
também? Claro que não serei um defensor ferrenho do empresariado, mas de onde
vem essa verba senão da tarifa?
Ir a favor do passe livre é uma utopia e, mesmo que
pensemos no longo prazo, é algo distante de nossa realidade como sociedade e de
nossa economia. Quantos países desenvolvidos têm esse benefício? Pouquíssimos.
Isso mostra que a meta é inviável, principalmente em uma economia capenga como
a nossa.
Continuemos olhando a história recente de Curitiba.
Quando foi a última vez que andamos em ônibus novos? Observando os últimos
cinco anos, é bem difícil responder. Então, mesmo que julguem que os
empresários têm poder aquisitivo para tal, pergunto aos defensores da ideia:
eles injetariam dinheiro em algo que não teria retorno financeiro apropriado
para seu negócio gerar lucro? Não sejamos falsos moralistas. Sim, as empresas
devem gerar lucro e nenhuma empresa injetaria um centavo sequer para não ter
retorno. O lucro é o ganha-pão do empresário. Infelizmente, é assim que
funciona uma sociedade capitalista como a nossa.
Estamos aqui fazendo uma reflexão baseada em fatos,
não em desejos. Claro que eu adoraria entrar em um ônibus sem pagar. Claro que
gostaria de encher o tanque do carro com R$ 1. Mas não é nossa realidade. Na
Alemanha, um dos países mais desenvolvidos do mundo e onde o metrô da cidade de
Berlim não possui catraca, a passagem é paga e não há esse benefício. Por quê?
Simples: porque o negócio não se sustentaria. O transporte de passageiros é um
negócio como outro qualquer.
Talvez o leitor esteja se perguntando: e nossos
impostos? Concordo que são extremamente mal geridos em qualquer esfera e que,
de repente, poderiam até subsidiar a tarifa diretamente com o empresariado. Mas
há um problema: essa não é a realidade de nenhuma de nossas cidades. Quanto
mais se arrecada, menos vemos revertido em benefícios e, até isso mudar, o
passe livre onerará algum setor de nossa sociedade já escassa. Pois, se o poder
público, neste momento, comprar a briga, setores importantes como saúde e
educação sentirão ainda mais. Se o empresariado comprar essa briga, não mantém
a empresa funcionando – e o resultado disso é o fim do transporte público.
Glavio
Leal Paura - professor dos cursos de Engenharia da Universidade Positivo
(UP) e especialista em trânsito e mobilidade urbana.
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