Onde quer que vá, todo
mundo está colado em seu “smartphone”. Em aeroportos, restaurantes ou na rua,
as pessoas estão quase permanentemente coladas nestes dispositivos, obcecadas
com a ideia de que não podem existir sem estarem conectadas ao mundo
cibernético. Assim, enviam textos e tuítes, e-mail e Google, ‘seguem’ e
‘curtem’ no esforço de estar constantemente online. Isso se tornou parte da
existência “normal” no mundo pós-moderno atual.
No entanto, nem todos
estão conectados. Um número crescente de dissidentes dos smartphones está
vendendo seu passe para o mundo digital. Estão comprando telefones burros que
só fazem aquilo que os telefones costumavam: receber e fazer chamadas. Estes
rebeldes não são ex-jogadores eletrônicos pós-modernos ou pessoas
tecnologicamente inaptas. São pessoas inteligentes que usam telefones ‘burros’.
E vêem sua decisão de desligar como uma experiência libertadora que lhes
permite viver suas vidas livres da mediação de dispositivos eletrônicos.
Os telefones burros
constituem um segmento pequeno mas robusto do mercado de telefonia. Ao
comprarem um telefone barato de 30 dólares, seus proprietários poderão
juntar-se ao um por cento que constitui este grupo de elite. Na realidade,
muitos ‘refuseniks’, que rejeitam os smartphones são profissionais, alguns até
moram no Vale do Silício, onde ajudam a projetar os dispositivos e aplicativos
dos famigerados smartphones. Assim, muitos executivos podem mais facilmente
responder e encomendar um simples Jitterbug flip-telefone, respondendo a um
anúncio no The Wall Street Journal.
Os membros deste um
por cento dão muitas razões para a sua decisão. Estes telefones duráveis nunca precisarão ser atualizados com um modelo mais novo e melhor. Sua pilha dura
(sem falar) algumas semanas (até 38 dias) e não exigem um plano de dados caro.
Podem ser dados a crianças ou idosos para chamarem em caso de emergência ou
necessidade, sem grande investimento.
Não há necessidade
constante de verificar e-mails, atualizações de status ou notificações. É um
simples telefone. O fato de ter este modelo básico produz nas pessoas um
sentimento de grande alívio por não terem de responder e se distrair a todo
momento.
Há outras razões mais
cogentes para desligar o smartphone que vão além da mera conveniência pessoal.
Sociólogos e outros estudiosos estão preocupados com as consequências que o uso
crônico de smartphones temal Newport causado nas mentes e relacionamentos.
Em seu excelente livro, Deep
Work (trabalho
profundo), afirma que smartphones e outros dispositivos acostumam o cérebro a
estar constantemente distraído. O usuário vive em um estado de atenção dividida
e não consegue se concentrar para fazer seu verdadeiro trabalho. O autor
constata que tais dispositivos deterioram a capacidade da pessoa de pensar e
trabalhar em profundidade.
Alega-se que os
smartphones são possantes conectores do usuário com mundo, mas na verdade, são
dispositivos que inibem uma profunda conexão com os outros. O recurso constante
a mensagens de texto, por exemplo, elimina as expressões faciais, tom e
inflexão de voz que ajudam a firmar relações e a transmitir nuances. A mera
presença de um smartphone em uma conversa é um convite a prestar menos atenção,
uma vez que o smartphone pode causar frequentes interrupções.
Alguém poderia dizer
que tais razões não fazem ninguém perder o sono. Na verdade, os smartphones são
também causa de insônia. Muitas pessoas (44 por cento entre 18 e 24 anos
de idade) dormem segurando seus smartphones. Quando veem notificações sonoras,
as pessoas respondem, interrompendo o seu sono (e seus padrões de sono). A luz
emitida pela tela também interrompe os ritmos circadianos que ajudam as pessoas
a dormir bem. Além disso, a primeira coisa que muitos fazem ao acordar é
verificar seus telefones.
Finalmente, há a
enorme quantidade de tempo que as pessoas passam coladas às suas máquinas.
Muitas gastam uma média de oito horas por dia em todos os seus dispositivos.
Estão constantemente verificando seus e-mails, tweets e mensagens centenas de
vezes por dia. Perdem a noção do que se passa ao seu redor, se esquecem dos
afetos familiares e passam facilmente a viver fora da realidade.
Com tantas razões para
cortar, seria de admirar que muitos têm aderido ao um por cento que declarou
sua independência digital? Muitos deles chegam a comprar telefones burros.
Outros “emburrecem” seus telefones inteligentes. Ainda outros usam aplicativos
para controlar sua utilização do smartphone. É tudo parte de uma reação contra
um problema muito real e bem mais profundo.
O abuso de smartphones
é produto de uma sociedade frenética e desequilibrada. Não se trata somente do
telefone, mas daquilo que poderia ser chamado de intemperança frenética, onde
todos tem que ter tudo, instantaneamente e sem esforço. Chegou a hora de uma
volta à família, à comunidade, à fé — coisas permanentes que realmente importam
e não devem ser interrompidas.
Realmente, chegou a
hora de um retorno à ordem. Talvez o primeiro passo seja evitar que os
smartphones emburreçam as pessoas.
John
Horvat II
(Transcrito de Crusade
Magazine)
(*) Tradução de
José Aloisio Aranha Schelini
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