As constantes modificações
das políticas públicas na educação, assim como reformulações e experiências no
sistema reforçam a tese de que a solução para o ensino está na Educação a
Distância (EAD). Minha experiência na área e análises de especialistas apontam
que o futuro é esse, as vantagens sobre o sistema tradicional são inúmeras,
favorecidas pelas deficiências crônicas principalmente na educação pública,
cujos projetos pedagógicos estão desatualizados. Alguns críticos até já
disseram que o modelo de ensino brasileiro se não está falido está próximo
disso e que o sistema presencial vai continuar perdendo terreno e pode até vir
a ser substituindo pelo ensino a distância. O futuro da educação é digital.
Na verdade, EAD não é coisa
nova, existe há praticamente um século, tendo começado pelos cursos por
correspondência, precursores em levar o ensino aos mais distantes pontos, onde
houvesse alguém interessado em adquirir conhecimento, geralmente com interesse
profissionalizante. Nas últimas décadas vem registrando vigorosa expansão, com
modernização e qualidade. Os chamados cursos online ganham espaço inclusive em
empresas, atraindo profissionais que buscam qualificação e aprimoramento.
Empregadores também despertaram e apostam em cursos virtuais para melhorar o
nível de conhecimento de funcionários e colaboradores, fatos que acentuam a
importância da EAD. “Recrutadores têm percebido que quem busca essa metodologia
é alguém focado em sua capacitação”, segundo afirmou um especialista em
recursos humanos.
Apesar de todas as
evidências e resultados positivos a metodologia ainda não é aproveitada em seu
potencial pleno no ensino público. Sabemos que por ser um país de extensão
continental o Brasil enfrenta desafios enormes para levar conhecimento a todas
as partes e a EAD surge como a alternativa, tem formato acessível ao público
com dificuldade de deslocamentos e que se preocupa com custos logísticos na
busca de qualificação profissional.
A utilização do ensino a
distância na educação oficial é de inconteste necessidade pelas vantagens
oferecidas. A tecnologia proporciona ao professor mais ferramentas para
ilustrar a aula facilitando o aprendizado muito mais do que no sistema
presencial. Estudos especializados e avaliações indicam que os alunos
apresentam formação de melhor qualidade na comparação com o modelo tradicional,
o aluno em sala de aula encontra mais dificuldade pela carência de material de
apoio, o que não ocorre com a disponibilidade dessas ferramentas via internet.
Há outro diferencial comprovado: o aluno estuda mais, se esforça mais, porque o
professor no sistema EAD é apenas indutor, o estudante tem a obrigação de
pesquisar e isso auxilia no raciocínio, ele aprende a pensar. Com o avanço da
tecnologia o processo ganhou agilidade e vantagens para o estudante, que não
precisa ficar à frente da televisão ou do computador, podendo utilizar qualquer
dispositivo com acesso à internet – tablets, smartphones e outros.
A EAD, no âmbito do ensino
público, não deve ser pensada apenas como modelo de alfabetização ou para
segundo grau. A metodologia associada à moderna tecnologia da informação mostra
avanço significativo, são oferecidos cursos de graduação e pós-graduação com
alto aproveitamento. Outro importante aspecto que a administração pública
(federal, estadual e municipal) deve considerar (e aproveitar) é o treinamento
de seus corpos docentes através da EAD e toda sua gama de ofertas em
facilidade, agilidade e capilaridade. A maioria das Prefeituras
Municipais, responsáveis pelo ensino básico, não tem condições de proporcionar
cursos em conhecimento e atualização aos seus professores. Os cursos
online preenchem essas carências de forma eficiente e a um custo quase zero.
Então, a modalidade resolveria essa falha no preparo, capacitação,
aprimoramento sem prejuízo do tempo que os professores devem dedicar à rotina
em sala de aula.
Aponto ainda outro
argumento para adequada utilização desse sistema: a educação continuada que
pode e deve alcançar também o universo de funcionários públicos dos três níveis
que em sua maioria necessitam de reciclagem. O
sistema EAD poderia suprir outra falha no ensino no Brasil que é a dificuldade
de encontrar professores preparados para as matérias de física, química e
biologia com complementação de aulas dessas matérias como reforço para o aluno.
Lembro que para o governo
um programa de ensino a distância tem custo ínfimo, visto que o MEC dispõe de
condições e estrutura, mantendo rede tecnológica incluindo televisão. Defendo
ainda que o sistema seja aproveitado também para um curso de formação política,
nos moldes do ensino de Moral e Cívica, que foi matéria da grade curricular no
passado. Sugiro que uma instituição isenta, como a OAB, por exemplo, poderia
montar um módulo específico, com conteúdo único para todo o país, o que
contribuiria para não o correr discrepância entre cursos ou até mesmo para
evitar que professores imponham ideologia pessoal. Matéria desse tipo seria
muito útil para despertar nos jovens o interesse na participação política,
oferecendo formação cidadã com noções políticas para o aprendizado prático do
sistema político-eleitoral orientando a juventude no sentido de aprender a
votar.
Por fim, lembro que o
ensino a distância promove a inclusão social, abre oportunidade a todos
indistintamente, dos cursos básicos a pós-graduação, especialização, mestrado,
doutorado. É também essencialmente democratizante, todos participam em
igualdade de condições, seja um aluno da Avenida Paulista em São Paulo ou de
remota localidade na Amazônia, ambos têm a mesma oportunidade, o mesmo
conteúdo, o mesmo tutor e o mesmo diploma validado e reconhecido pelo
Ministério da Educação.
Para os brasileiros
crescerem em conhecimento a educação brasileira precisa se modernizar, abrir e
ampliar caminhos, deve possuir capilaridade, promover efetivamente a inclusão
social e ter por meta a democratização do ensino, do conhecimento. A educação a
distância atende a esses primados, preenche tais requisitos. Para cumprir esses
princípios depende tão somente de vontade política.
Luiz Carlos Borges da Silveira -
empresário, médico e professor. Foi Ministro da Saúde e Deputado Federal.
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