Especialistas
sugerem a mescla de fontes renováveis e tradicionais na matriz energética em
prol da segurança e da confiabilidade do sistema brasileiro
Em agosto de 2017, a energia eólica chegou a
responder por 10% da produção de energia do país – é a primeira vez que a fonte
atinge dois dígitos da geração brasileira, conforme informações da Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e da Associação Brasileira de
Energia Eólica (ABEEólica).
Atualmente, a energia eólica e a biomassa
aumentaram sua representação na matriz energética brasileira, podendo saltar de
5,3% e 8,8%, respectivamente, para 6,5% e 9%, na comparação entre 2016 e 2017,
de acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME).
“O destino do Brasil é a energia renovável, é a
nossa vocação. Solar e eólica, por exemplo, tem crescido enormemente”, afirmou
o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Paulo Pedrosa,
no XXIV Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica
(SNPTEE). De acordo com ele, as grandes obras estruturantes – geralmente
hidrelétricas, acompanhadas pelas linhas de transmissão – devem ser
substituídas pelas energias renováveis. “Estamos trabalhando com a redução do
modelo de subsídios para dar transparência e informação adequada à sociedade”,
ressalta Pedrosa.
Na opinião do gerente de Operação e Manutenção das
Eólicas da Copel, Luiz Eduardo Linero, o apoio da administração pública é
fundamental para o incentivo a esses projetos. “A sinalização do governo
auxilia a todo o mercado. É importante continuar fomentando esses
empreendimentos, que são mais rápidos e geram menos impacto ambiental que uma
hidrelétrica”, afirma. No entanto, há consenso de que o país não pode
sobreviver apenas à base de energia eólica, solar e biomassa e, sim, com uma
mistura de diferentes fontes.
“É preciso haver casamento entre as energias
renováveis e a capacidade de armazenamento desse tipo de energia. Como a eólica
e a solar são intermitentes, é preciso manter outros tipos de fontes para
atender o consumidor de forma segura”, explica Paulo Esmeraldo, vice-presidente
da Xingu Rio Transmissora de Energia, um dos empreendimentos da State Grid. A
empresa opera no Brasil com transmissão de energia, mas, na China, a companhia
domina cerca de 80% do mercado, incluindo as energias renováveis.
Vantagens e desvantagens
A energia eólica, no Brasil, já é uma realidade.
Segundo Linero, o fator de capacidade dos geradores eólicos no Brasil pode
atingir 50%, enquanto na Europa ficam na ordem de 30% - esse termo representa o
período em que os equipamentos estão, de fato, gerando energia. Os estados do
Nordeste, como Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia, apresentam as melhores
performances, assim como o extremo sul do Rio Grande do Sul.
Por outro lado, tanto a energia eólica quanto a
solar têm uma dificuldade: a intermitência. Em outras palavras, o período em
que não estão produzindo energia. Durante a noite, é impossível de as placas solares
operarem, assim como um dia sem vento pode representar um problema no
abastecimento do país. “É preciso focar na segurança e na qualidade da energia,
investindo em estrutura para conceber grandes troncos de corrente contínua e na
possibilidade de armazenamento para que o sistema não seja instável”, revela
Esmeraldo.
Nesse contexto, há uma opinião comum de que é
preciso interligar os diferentes sistemas de geração de energia e, embora seja
um investimento pesado, pensar em mecanismos para estocar o que é produzido. “A
armazenagem ainda é o grande desafio”, diz Linero.
Geração distribuída
A energia oriunda da luz do sol, embora ainda tenha
uma representatividade pequena na matriz energética, apresenta um grande
potencial por meio da chamada geração distribuída – a produção própria por
residências e empresas.
Estimativas da Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel) mostram que, até 2024, cerca de 1,2 milhão de pontos do país vão
investir nesse tipo de prática.
As baterias solares, neste caso, são uma tendência.
Para os consumidores comerciais, existe a possibilidades de compensação de
energia elétrica, que permitirá à unidade injetar a potência excedente na rede,
recebendo desconto na tarifa ou abatendo o consumo de outra unidade com o mesmo
CNPJ.
No entanto, os preços desse tipo de equipamento
ainda são considerados caros no Brasil - um país considerado por muitos como um
dos mais palpáveis para a disseminação desse tipo de energia, com um período de
insolação superior a 3 mil horas por ano -, tornando-se um impeditivo para a
rápida disseminação nas residências do país. Uma das motivações apontadas para
isso está na alta carga tributária do Brasil, que encarece os painéis solares.
Por fim, a crise econômica, que diminuiu a demanda
por energia elétrica nos últimos anos, dificultou a expansão das fontes
renováveis, reduzindo a realização de leilões e outros mecanismos por parte do
governo federal para incentivar esse tipo de prática.
O exemplo da biomassa
A Copel, em parceria com o Centro Internacional de
Energias Renováveis-Biogás (CIBiogás), desenvolveu um projeto para o
aproveitamento de biogás proveniente de resíduos animais para a geração de
energia. Com investimento de R$ 17 milhões, o projeto vai interligar 19
propriedade suinocultoras da região de Entre Rios do Oeste por meio de uma rede
coletora de biogás, com 22 quilômetros de extensão. O biogás será canalizado
para uma Micro Central Termelétrica (MCT), com capacidade de 480 kW.
Prevista para ser entregue ao longo de 2019, o
principal benefício da iniciativa está em aproveitar os dejetos animais -
eventualmente desperdiçados e que se tornavam lixo orgânico - em biogás e
biofertilizantes. O uso da biomassa é vantajoso ao meio ambiente, pois evita
que o gás carbônico e o metano decorrentes da degradação dos resíduos cheguem à
atmosfera.
Estima-se que somente a quantidade de esterco
produzida pelos rebanhos suínos do Brasil seria capaz de gerar 1 milhão de MWh,
o suficiente para atender uma cidade com 5 milhões de habitantes.
Companhia Paranaense de Energia (Copel)
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