Avanços
em testes genéticos para o diagnóstico de síndromes de predisposição
hereditária ao câncer, propiciam melhor seleção de homens para o rastreamento
do câncer de próstata
“Novembro
Azul” é uma campanha de conscientização, realizada por diversas entidades no
mês de novembro, sendo dirigida à sociedade e, em especial, aos homens, para a
prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de próstata.
O
câncer de próstata é o câncer mais comum e a segunda maior causa de morte por
câncer nos homens. Conforme informações da Organização Mundial de
Saúde (OMS), cerca de 1.201.619 novos casos e 335.643 óbitos são previstos no
mundo pela doença, o que corresponde ao aumento em relação ao ano de 2012 de
9,7% e 9,2%, respectivamente.
No
Brasil, a estimativa para este ano é de 61.200 casos novos e cerca de 13.772
óbitos (Segundo tumor que mais mata os homens. O primeiro é o câncer de
pulmão). É o câncer mais comum no Brasil (excluindo-se os cânceres de pele) e
representa cerca de 4 em cada 10 cânceres que atingem a população masculina
brasileira com mais de 50 anos de idade.
Segundo
o oncologista, coordenador do Serviço de Oncologia do
Hospital das Clínicas da UFMG e diretor clínico da Personal -
Oncologia de Precisão e Personalizada, André Márcio Murad, os principais
indicadores de um estágio avançado do câncer de próstata são os problemas para
urinar, sensação de que a bexiga não se esvazia completamente e
sangue na urina. Dores ósseas, principalmente nas costas, sugerem a presença de
metástases, fase em que a doença já é incurável. “O diagnóstico sempre deve ser
obtido antes que os sintomas surjam, para que o tratamento tenha altas chances
de cura”, explica.
Vários
estudos sugerem que maus hábitos alimentares, como uma dieta rica em gordura e
proteína de origem animal, alimentos industrializados, enlatados, adocicados e
embutidos artificialmente conservados elevam os índices de substâncias
potencialmente cancerígenas no organismo, como a nitrosamina e o IGF, que é um
fator similar à insulina, com propriedades estimuladoras do crescimento de
células tumorais. A obesidade e o sedentarismo igualmente aumentam os riscos. Portanto,
uma dieta saudável, rica em verduras, legumes, frutas, grãos e peixes, além da
prática regular de atividades físicas e manutenção do peso ideal, seriam as
principais medidas preventivas.
De
acordo com o médico André Murad, não existe consenso entre as organizações de
saúde a respeito do rastreamento do câncer de próstata, como o que utiliza as
dosagens periódicas do PSA (antígeno prostático específico) e a realização do
toque retal. Aquelas contrárias argumentam que não existem evidências conclusivas
de que a detecção precoce tenha influência na mortalidade específica pelo
tumor, além do fato de pacientes em rastreamento, estarem expostos às
complicações e aos efeitos colaterais de um possível tratamento cirúrgico ou
radioterápico desnecessário. Aquelas a favor da prática argumentam que existem
evidências de que o rastreamento é responsável pelo declínio da mortalidade em
determinadas áreas. As Sociedades de Urologia Americana, Europeia e Brasileira
indicam o rastreamento, baseadas em estudos randomizados de grande porte e
longo seguimento.
O
rastreamento universal de toda a população masculina (sem considerar idade,
raça e histórico familiar) não parece ser a melhor abordagem. “Apesar de
associado ao diagnóstico precoce e diminuição da mortalidade, pode trazer
malefícios a muitos homens, como cirurgia ou radioterapia desnecessárias, com
todos as suas complicações inerentes a estes procedimentos, como a
incontinência urinária e a disfunção erétil”, ressalta, André Murad.
Em
outubro de 2011, o US Preventive Services Task Force (USPSTF) publicou
uma modificação de suas recomendações para o rastreamento em câncer de
próstata, sugerindo a sua não realização pelo menos de forma indistinta, para
todos os homens. Por isso, a recomendação atual é a de se individualizar a
abordagem, realizando-a apenas em homens considerados como de alto risco para
desenvolver a doença. Embora indivíduos obesos e de descendência africana
tenham maior risco de desenvolver o câncer de próstata, hoje, através dos mais
recentes estudos genéticos sobre a doença, sabemos que o principal fator de
risco é o hereditário e ocorre devido a mutações herdadas em genes como o
BRCA-1 e o BRCA-2 (menos frequentemente o ATM e o RAD5).
Estudos
de grande porte demonstram que o câncer de próstata hereditário é responsável
por até 57% dos casos e tendem a ser mais agressivos e a surgir em idade mais
jovem (abaixo dos 50 anos). O risco de câncer de próstata é 4 vezes maior nos
portadores de mutação no gene BRCA-1 e 9 vezes maior nos portadores de mutação
do gene BRCA-2. As mutações destes genes aumentam também o risco de cânceres de
mama (inclusive nos homens), ovário, pâncreas e pele (melanoma).
As
técnicas mais modernas de sequenciamento genômico tem tornado estes exames cada
vez mais precisos e acessíveis, inclusive com custos menores e a possibilidade
de realização de painéis com múltiplos genes ao mesmo tempo. O exame é feito
com material da saliva ou sangue.
Recomenda-se
a pesquisa destas mutações quando houver histórico de câncer de próstata com
escala de Gleason maior ou igual a 7 (esta classificação é feita em função das
características celulares e histológicas que constituem o tumor, de acordo com
seu grau de agressividade: Gleason igual ou maior que 7 corresponde a tumores
de agressividade alta ou intermediária) e mais as seguintes situações: 1) pelo
menos um parente de primeiro grau com histórico de câncer de mama, ovário ou
próstata com diagnóstico feito em idade abaixo dos 51 anos, 2) pelo menos 2
parentes com histórico de cânceres de mama, ovário ou próstata em qualquer
idade.
Para Murad, o ideal é que se faça o teste genético
primeiramente em um paciente que teve o câncer. Uma vez detectada uma mutação
específica, esta alteração deve ser também pesquisada nos familiares consanguíneos,
visando o planejamento de um rastreamento ativo com dosagens seriadas de PSA e
mesmo outros exames para a detecção precoce também dos demais tumores que
compõem a síndrome, com início idealmente em idade abaixo dos 40 anos
(recomenda-se o início do rastreamento na idade 5 anos, abaixo daquela em que
foi diagnosticado o câncer no familiar cujo diagnóstico ocorreu em idade mais
jovem). “Todas estas condutas e exames, bem como o aconselhamento genético pré
e pós testes devem ser realizados por especialistas com larga experiência em
Oncogenética”, finaliza o oncologista André Murad.
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