Quando se fala em aumento dos investimentos no
Ensino Superior como solução para a educação brasileira, me lembro da história
do senhor que tomava analgésico constantemente para amenizar uma intensa dor no
pé. Ora, o total investido no Ensino Superior no Brasil é quase quatro vezes
maior que o dedicado ao Ensino Fundamental. Em percentual do PIB, esse valor já
é relativamente alto, sendo superior ao mínimo constitucional e comparável ao
de países com elevado nível educacional. No entanto, permanece o desafio de
melhoria da qualidade da educação e um índice baixíssimo de brasileiros com
Ensino Superior.
Não estou dizendo que sou a favor de cortes de
investimentos nas universidades. Estou apenas sugerindo que, se o senhor da dor
no pé tirasse a pedra de dentro do seu sapato, talvez não precisasse mais tomar
analgésicos... a questão é atacar o problema pela raiz, encontrar os gargalos
da educação brasileira, como a evasão universitária.
Dados divulgados pela Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no documento "Education at a Glance
2019" dão conta de que apenas 33% dos estudantes brasileiros que ingressam
numa Instituição de Ensino Superior se formam dentro da duração esperada do
curso. Mas o que acontece com quase 70% dos alunos que foram selecionados em
concursos, muitas vezes disputadíssimos, ocuparam a cadeira de outro estudante
e desistiram no meio do caminho?
Os números são alarmantes. Mais da metade dos que
ingressam nas universidades trocam de turma, curso ou instituição, ou
simplesmente abandonam os estudos. Essas atitudes dão luz à problemas como a
demora na qualificação profissional da população em condições de trabalhar; o
desperdício de grande massa de força de trabalho, que fica desempregada ou
subempregada, quando podia estar ajudando a produzir; o aumento dos gastos do
governo com programas sociais e ajuda financeira aos desempregados; o baixo
crescimento do Produto Interno Bruto; e o atraso na redução da pobreza.
Para as Instituições de Ensino Superior (IES), as
consequências dessa alta evasão são desastrosas, pois os custos, tanto públicos
quanto privados, se tornam muito elevados. A alta evasão faz com que o custo
por aluno efetivamente formado seja bem maior que o custo por aluno
matriculado. Assim, nas universidades públicas o gasto público acaba sendo bem
maior – e as instituições privadas são forçadas a cobrar mensalidades mais
altas para pagar a ociosidade de vagas, ociosidade de investimentos, perda de
capacidade lucrativa e necessidade de reorganizar suas estruturas e cursos a
serem ofertados.
Uma série de fatores leva esses estudantes a
desistirem no meio do caminho. Uma parcela significativa dos universitários
apresenta dificuldades nas matérias que exigem um maior aprofundamento,
raciocínio ágil, capacidade crítica ou interpretativa, muitas vezes por conta
da falta de preparo no Ensino Básico. Além disso, para a maior parte da
população jovem adulta, os estudos precisam ser conciliados com o trabalho. No
entanto, os modelos tradicionais de ensino exigem uma grande dedicação em horas
de estudo, o que faz com que muitos alunos desistam dos estudos. Para esse
problema, o aumento da qualidade dos cursos em EAD pode trazer excelentes
resultados.
A taxa de evasão mais elevada no setor privado
aponta para os custos com mensalidade, especialmente em épocas de crise. Mas a
alta desistência no ensino público, que é gratuito e com um processo de entrada
altamente seletivo, se deve a outros fatores, entre eles a falta de
conhecimento dos alunos a respeito dos cursos. Uma pesquisa realizada com mais
de 10 mil estudantes do Ensino Médio em agosto de 2019 pela Universidade
Positivo revelou que 33% deles ainda estavam indecisos quanto à escolha do
curso superior.
Ou seja, para facilitar o acesso do brasileiro ao
Ensino Superior, não basta aumentar ou manter os investimentos. É preciso
pensar em maneiras de deixar o aluno escolher a profissão um pouco mais tarde;
aprimorar o processo de seleção nas universidades, levando em conta também
habilidades sócio-emocionais; expandir o crédito universitário; melhorar a
qualidade dos cursos de Educação a Distância; e, por fim, mas não menos
importante, melhorar a qualidade da Educação Básica.
Paulo
Arns da Cunha - diretor-executivo do Colégio Positivo.
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