O 8º Fórum Mundial da Água terminou na última semana e, a
partir de agora, as nações seguem com o desafio de colocar em prática as
sugestões apresentadas no encontro para a melhoria e defesa dos recursos
hídricos do planeta. No Brasil, as políticas e os investimentos em recursos
hídricos precisam ser eficientes para proteger as bacias, preservar as
florestas, os rios e os mananciais. Outro desafio é promover, também, o
tratamento do esgoto em todas as cidades brasileiras.
Aliás, um dos maiores desafios na defesa dos recursos
hídricos está justamente nas cidades. De acordo com dados da Agência Nacional
de Águas (ANA), as cidades brasileiras consumiram cerca de 500 mil litros de
água por segundo, dos mais de dois milhões de litros retirados na natureza para
o abastecimento do país em 2016.
Quanto ao descarte da água após o uso pela população, os
números da ANA revelam um cenário preocupante: dos 500 mil litros de água
retirados da natureza por segundo ao ano, quase 400 mil são descartados como
esgoto. Destes, menos de 40% são coletados e tratados.
O especialista em Engenharia Ambiental da Universidade de
Brasília (UnB), Sérgio Koide, lembra que a falta de saneamento básico de
qualidade nas cidades é o maior fator poluente no país. “Nós temos muitos
problemas a superar. Eu acho que nesse sentindo, de maneira geral, tanto o
governo Federal quanto os governos estaduais têm falhado no país”, explicou.
O governo Federal estuda editar uma Medida Provisória para
ajustar o marco regulatório do saneamento básico e tornar as regras do setor
mais simples e padronizadas. O objetivo é facilitar a aplicação de recursos na
fomentação de saneamento e atrair parcerias privadas nos projetos de
infraestrutura hídrica nos estados. De acordo com a Casa Civil da Presidência
da República, o documento está sendo elaborado por uma equipe interministerial
formada por técnicos de várias pastas do governo e ainda não tem data para ser
divulgado.
Além disso, é necessário que haja maior conscientização da
população para uso e o descarte corretos da água, como lembra a especialista em
Políticas Industriais, Ilana Dalva Ferreira. “A população precisa entender a
importância do saneamento para a vida dela. As pessoas precisam entender que,
se elas não tiverem uma água de qualidade na casa delas, e se, quando elas dão
descarga aquilo não vai para um lugar adequado, elas vão ficar doentes”, disse.
Ainda de acordo com dados da ANA, em cada grupo de 100
pessoas no Brasil, 43 têm acesso à coleta e ao tratamento de esgoto; 18 à
coleta apenas; 12 dão solução por conta própria ao saneamento e 27 não têm nem
a coleta e tão pouco o acesso ao tratamento de esgoto.
A maior disponibilidade de saneamento básico está nos
estados da região Sul do país, onde 65 pessoas, em cada grupo de 100, têm
atendimento adequado de coleta e tratamento de esgoto nas cidades. A maioria da
população da região Nordeste não tem acesso aos serviços de coleta e
tratamento, e no Norte, menos de 35 pessoas – em um grupo de 100 - têm acesso a
saneamento básico.
Utilização da água
Outro ponto de discussão no 8º Fórum Mundial da Água teve a
ver com a forma como esses recursos hídricos são utilizados. No Brasil, mais de
dois milhões de litros de água são retirados por segundo da natureza para o
abastecimento de todo o país, por ano. As cidades consomem cerca de 23% do
recurso disponível, quase 500 mil litros por segundo, ano. Desse total, quase
80% são descartados na natureza como forma de esgoto.
O consumo de água nas indústrias, por exemplo, é de apenas
192 metros cúbicos por segundo ao ano, menos da metade daquilo que é usado
pelas cidades e menos de 10% do total distribuído em todo país. Ademais, do
total de água usado na produção das indústrias, apenas 45% é descartado como
esgoto.
A comparação de consumo entre as cidades e as indústrias
comprova que ações de defesa dos recursos hídricos precisam ser adotadas de
forma prioritária nas áreas urbanas.
O especialista em Engenharia Ambiental da UNB, Sérgio Koide, acredita que os estados precisam criar normas para punir as pessoas que mais desperdiçam água nas cidades para conter o uso irresponsável do recurso. “Aquele que desperdiça água tem que ser mais penalizado pelo seu uso. As áreas de renda mais alta têm consumo exagerado, quase três vezes o recomendado pela OMS”, revelou.
O especialista em Engenharia Ambiental da UNB, Sérgio Koide, acredita que os estados precisam criar normas para punir as pessoas que mais desperdiçam água nas cidades para conter o uso irresponsável do recurso. “Aquele que desperdiça água tem que ser mais penalizado pelo seu uso. As áreas de renda mais alta têm consumo exagerado, quase três vezes o recomendado pela OMS”, revelou.
Em todos os estados, cerca de 58% das cidades são
abastecidas com água dos rios, lagos ou reservatórios artificiais. A água
retirada de poços subterrâneos abastece 42% das áreas urbanas.
O esgoto gerado pela população das cidades brasileiras
supera a marca de nove toneladas dia. “O grande poluente no Brasil hoje é a
questão do saneamento porque ele não está fazendo o dever de casa. É mais fácil
cobrar de uma indústria do que cobrar do serviço público, dos governos, que
eles tratem bem os seus efluentes”, explicou Sérgio Koide.
A quantidade de água retirada dos recursos naturais cresceu
cerca de 80% nos últimos 20 anos no Brasil. A estimativa é de que esse número
aumente em 30% na próxima década. Estimativa e o números são do relatório
Conjuntura dos Recursos Hídricos 2017, divulgado pela Agência Nacional de Águas.
Cristiano Carlos
Fonte: Agência do Rádio Mais
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