Mentir é um hábito comum, mas
excesso pode ser a Síndrome de Pinóquio
Psicóloga aponta os principais aspectos da mentira e como o
hábito pode tornar-se uma Mitomania, a mentira patológica
Com
a aproximação do 1º de abril, vemos que a mentira está mais presente no nosso
dia a dia do que imaginamos. De acordo com o estudo da Online Psychology
Degree¹, em média, mentimos quatro vezes por dia, somando cerca de 1.460 por
ano. Além disso, a pesquisa aponta que aprendemos este comportamento desde
cedo: a partir dos 2 anos de idade.
A
psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental, Tatiane
Paula Souza, afirma que o ato de mentir é
considerado um padrão disfuncional de comportamento associado à insegurança,
como forma de compensar uma aceitação no meio em que a pessoa vive.
Abaixo,
algumas das situações mais comuns em que ocorre a mentira:
·
Pessoas com baixa autoestima
podem reproduzir este comportamento para lidar com um complexo de
inferioridade;
·
No caso de haver vícios, sejam
lícitos ou ilícitos, pode ser uma forma de esquivar de cobranças sociais;
·
Se não sente-se aceito no ambiente
social, se apresenta como um método de aceitação.
No contexto profissional, em situações
em que a área de atuação requer a habilidade de persuasão, como a área de
vendas, muitas vezes o profissional pode se dispor a potencializar as
informações que possui para obter sucesso. A psicóloga afirma que “nestes casos
não se trata de mentir, propriamente. Como analogia, o camaleão não se camufla
para mentir, mas sim por sobrevivência no meio em que ele habita”.
Porém, Tatiane alerta para este
comportamento quando o assunto é relacionamentos interpessoais. “A partir do
momento em que sujeito se relaciona com outras pessoas através de uma
personalidade fictícia envolto de histórias que fogem da realidade, com certeza
teremos sérios prejuízos na qualidade do vínculo. Uma vez identificado o
estereótipo da pessoa que mente como pessoa não confiável, fica complicado
manter relações duradouras, já que caracteriza uma quebra de confiança e, por
consequência, distanciamento natural das pessoas próximas, culminando em
isolamento social”.
Quando a pessoa se enrola em uma
mentira que se desdobra em outras, as complicações podem se estender para
consequências mais severas. “Ao usar de mecanismos fictícios como método de
aproximação das pessoas e o indivíduo passa a acreditar nas próprias histórias,
cria-se uma realidade paralela. Trata-se, inclusive, de uma linha de
funcionamento bastante perigosa, uma vez que à medida em que o mentir torna-se
parte do comportamento da pessoa, poderá levá-la à depressão e a questionar a
própria vida”, ressalta a especialista.
Mitomania:
a mentira por compulsão
Transcendendo
o comportamento comum, o hábito de mentir pode atingir o nível de Mitomania, nome
dado à tendência patológica da mentira, popularmente conhecida como Síndrome de
Pinóquio.
O
mitômano acaba por mentir em todas as situações da vida, e passa a ter esse
comportamento como padrão, bem como parte de sua identidade. A especialista em saúde
mental afirma que “esta pessoa é facilmente estigmatizada como não confiável e
desencadeia sérios prejuízos sociais. Apesar disso, se mantém com o mesmo
comportamento nas relações e na vida, mesmo diante dos prejuízos”.
Tatiane
explica que nosso cérebro possui uma área responsável por registrar as
lembranças boas e ruins, a amígdala, funcionando como uma espécie de freio
natural em situações sociais em que estamos diante de algo prazeroso ou
aversivo. “Conforme o sujeito acredita nas mentiras como realidade e não há o
sentimento de culpa associado, o freio natural deixa de ser ativado e passa a
gravar a mentira como padrão natural”, complementa.
A seguir, alguns traços que podem
identificar um potencial mitômano:
·
Inventa histórias fantasiosas e, quando
desmascarado, emite outra mentira para suprir a situação de flagra, se
desdobrando em longas histórias sem fim e sem evidência de realidade;
·
O mitômano se descreve sempre em
destaque no desfecho final das histórias;
·
A pessoa tem baixa autoestima e pode apresentar
transtornos psiquiátricos;
·
Usa da mentira como mecanismo de
defesa, distorcendo fatos sobre si mesma e sobre o mundo, podendo também criar
personagens.
A
Mitomania pode ser tratada com psicólogos especialistas em saúde mental,
aplicando técnicas de psicoterapia eficazes para capacitar o indivíduo a
identificar os comportamentos que antecedem a mentira compulsiva. Assim, a
pessoa deverá saber lidar com as atividades de sua vida diária, desenvolvendo
um novo repertório de comportamentos mais saudáveis e eficazes nas situações em
que contextualizava a mentira.
Tatiane Paula Souza - Psicóloga
com formação na abordagem Cognitiva-Comportamental pela Unifesp e especialista
em Psicopatologia e Dependência Química pelo Instituto de Pesquisa de São
Paulo, Tatiane Paula Souza possui ampla experiência clínica em avaliação,
encaminhamento, acompanhamento em internação domiciliar e instituições privadas.
Atuou em Hospital Psiquiátrico como Psicóloga Clínica a pacientes em regime de
internação continuada e, atualmente, atende como Psicóloga Clínico
Cognitivo-Comportamental, em consultório particular, com ênfase em:
Transtornos, Saúde Mental, Dependências e Compulsões. Além disso, Tatiane Paula
Souza desenvolve programas para empresas, corporações, palestras, workshop,
treinamento e desenvolvimento, na área da dependência química, voltado para
prevenção e tratamento.
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