No dia 26
de março foi celebrado no Brasil o Dia do Cacau. E não faltam motivos para
comemorar:
- A produtividade do Cacau no Pará, Estado que lidera a produção brasileira, é de 911 kg/hectare, maior que a média mundial (550 kg/hectare);
- A produção nacional do fruto não é suficiente para atender a demanda do país, mas há expectativa de que entrega da matéria-prima local à indústria aumente 10% neste ano;
- O outro motivo é a estimativa de crescimento de 8% no faturamento com cacau em 2018, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
O momento, no entanto, pede uma reflexão sobre o futuro do cultivo do
cacaueiro. A planta está sob a ameaça das mudanças climáticas e da crescente
demanda por chocolate. Cientistas acreditam que, em função desses fatores, o
cacau pode tornar-se tão raro e caro quanto o caviar em poucos anos. Mas há
alento para esse cenário e ele vem da biotecnologia.
O chocolate inicialmente era uma bebida exótica consumida por povos
sul-americanos há milhares anos. De lá para cá, tornou-se um dos doces mais
apreciados do mundo. Nos dois casos, é produzido a partir das amêndoas do fruto
do cacaueiro. O nome científico da planta é Theobroma cacao (do
grego theobroma, alimento dos deuses). Os frutos são
fibrosos e contém amêndoas, cobertas por uma polpa branca adocicada.
É uma cultura extremamente sensível a pragas, doenças, ao calor
excessivo e à falta de umidade. Cresce somente em uma faixa 20 graus ao norte e
20 graus ao sul da linha do Equador. Ou seja, em ecossistemas com chuvas
frequentes nos continentes americano, africano e asiático.
Costa do Marfim e Gana, responsáveis por mais da metade do cacau do
mundo, devem ter redução significativa da produção em 2018. As principais causas
são a seca e o calor acima da média. Segundo a agência Bloomberg, entre janeiro
e fevereiro deste ano, foram registrados os menores índices pluviométricos dos
últimos 30 anos nesses países.
As diversas variedades de cacau estão classificadas em três grupos:
- crioulo (muito sensível a pragas, mas com excelentes amêndoas);
- forasteiro (mais cultivado, porém com amêndoas de qualidade inferior);
- trinitário (um híbrido dos dois).
Como a biotecnologia pode ajudar a salvar o cacau
Com o aumento gradual da temperatura global, a erosão e a contaminação
do solo, o cultivo, que por si só é complexo, tem se tornado cada vez mais
difícil. Especialmente porque 90% da produção é feita em pequenas propriedades
da mesma forma há centenas de anos. Em consequência disso, o chocolate pode
virar um produto raro nos próximos anos, alertam pesquisadores.
Apesar desse cenário negativo, pesquisas de melhoramento genético da
planta estão sendo desenvolvidas para tentar reverter esse quadro. O primeiro
passo foi dado em 2011, com o sequenciamento do genoma do vegetal. Um dos
objetivos era encontrar genes responsáveis por características de interesse (a
exemplo da resistência a pragas) na própria espécie e, assim, chegar a novas
variedades.
Uma outra alternativa para a salvação da lavoura é a biotecnologia. A
iniciativa privada, por exemplo, em parceria com pesquisadores da Universidade
Berkeley, está investindo pesado nessa vertente. A principal meta é criar
uma planta transgênica mais resistente ao calor e à umidade. Um desses
trabalhos estuda inserir no genoma do cacaueiro genes de mandioca responsáveis
por inibir a produção de toxinas em altas temperaturas.
Segundo a diretora-executiva do Conselho de Informações sobre
Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani, a
transgenia é uma ferramenta poderosa para a preservação da biodiversidade. “Por
meio dela podemos identificar e transferir genes que permitiriam a
sobrevivência de espécies em condições antes inviáveis. Se essa espécie for o
cacau, estaria aí uma chance superar os riscos que rondam a cultura”, afirma.
Todos esses esforços pretendem garantir, no longo prazo, a produção do
chocolate. A demanda pelo doce é extremamente alta e deve continuar assim nas
próximas décadas. Segundo relatório da consultoria Euromonitor, a demanda
global por chocolate apresentou um crescimento de 10% nos últimos cinco anos.
A pesquisa brasileira a favor do cacau
No Brasil, a ciência também tem sido uma aliada na busca por um cacau
mais resistente. O intuito é desenvolver sementes que não sejam sensíveis ao
fungo causador da vassoura-de-bruxa. Essa praga dizimou lavouras no fim dos
anos 1980. Por conta dela, a produção brasileira, de 320 mil toneladas por ano
em meados dos anos 1980, despencou para 190 mil toneladas em 1991.
Estudo do Instituto de Biologia e do Centro de Biologia Molecular e
Engenharia Genética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descobriu o
porquê de tamanha sensibilidade. Todos os cacaueiros baianos são originários de
um número muito pequeno de sementes da variedade forasteiro. Essas plantas, embora
tenham amêndoas de excelente qualidade, são pouco resistentes às pragas. A boa
notícia é que recentemente foram identificadas árvores resistentes à doença e
com maior variação genética do que aquela encontrada na maioria dos cacaueiros
brasileiros.
O futuro do cacau e seu principal produto, o chocolate, estão em
risco. Mas esse quadro pode ser revertido graças aos esforços de cientistas que
usam o melhoramento genético e a biotecnologia para encontrar soluções para o
problema.
Conselho
de Informações sobre Biotecnologia (CIB)
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