Nos Estados Unidos, produtos de perfil mais
saudável e natural já estão especificando no rótulo quando são adoçados com
açúcar de cana, como um diferencial
Frente
ao significativo aumento da obesidade e das doenças crônicas em escala mundial,
investigações sobre os potenciais fatores que influenciam esse crescimento se
multiplicam. No âmbito da alimentação, muitos ingredientes têm sido estudados,
e alguns, como o açúcar, foram colocados na berlinda.
Mas,
de acordo com a nutricionista Marcia Daskal, “antes de apontar o dedo para o
açúcar, dois pontos precisam ser elucidados”.
1.
Diversos tipos de açúcares podem ser encontrados
nos alimentos, tanto naturalmente quanto adicionados. Além do mel e do
açúcar de cana (sacarose, açúcar, açúcar cristal, demerara, de confeiteiro,
mascavo, branco e de mesa), edulcorantes (adoçantes diversos), frutose,
xarope de malte, xarope de milho, xarope de milho com alto teor de frutose,
xarope de glicose, dextrose, lactose, açúcar invertido, glucose de milho, glicose, néctar, melado, melaço,
caldo de cana, maltodextrina, açúcar líquido, maltose, são todos substâncias
adoçantes que são utilizadas nos alimentos industrializados.
A indústria escolhe qual ingrediente ou combinação é mais
interessante para cada produto. Os xaropes, por exemplo, conferem estabilidade, textura, cor, solubilidade e consistência, além
de potencializar o sabor. Por isso são amplamente usados pela indústria, de
produtos que vão de pães a ketchup, passando por bebidas e confeitos.
2.
Justamente
por terem a mesma função – adoçar – é que são todos chamados de açúcar. Assim,
quando um estudo cita os efeitos do açúcar na saúde, estes ingredientes estão
todos agrupados, ou seja, o “açúcar” citado nos estudos não é somente o
açúcar de cana, aquele que usamos em casa, o do nosso açucareiro, mas sim
ingredientes diversos, alguns disponíveis apenas para a indústria de alimentos.
Marcia
explica: “aos poucos, os pesquisadores demonstram a preocupação em separar o
joio do trigo: é preciso compreender os diferentes ingredientes que adoçam
alimentos e ainda observá-los separadamente, para então chegar às conclusões
corretas”. Pesquisas recentes tem apontado que os malefícios à saúde
atribuídos ao “açúcar” são na realidade preponderantemente observados no
consumo exagerado da frutose.
Nos últimos anos, pesquisadores vêm estudando a contribuição
do xarope com alto teor de frutose e observaram que, quando consumido de forma exagerada, pode gerar
consequências negativas à saúde. Isso acontece por conta das características
particulares do metabolismo da frutose, que, para ser absorvida, não precisa da
insulina, como acontece com a glicose. Ou seja, a frutose é metabolizada de
maneira diferente do que a glicose e outros carboidratos, sendo mais lipogênica
que outros açúcares, isto é, se transforma em gordura mais facilmente.
A
frutose está relacionada a rápidas modificações metabólicas ligadas à síndrome
metabólica e a alterações cardiovasculares negativas, como menor resistência à
insulina, aumento de ácido úrico, obesidade, diabetes tipo 2, elevação de lipídeos
sanguíneos, aumento de volume de gordura visceral e esteatose hepática (gordura
no fígado).
Um
estudo do Departamento de Psicologia de Queens College, de Nova Iorque
(2017), indicou que a frutose produz uma desregulação metabólica e pode até alterar
a sinalização de dopamina (um neurotransmissor cerebral, cuja sinalização
aparece reduzida na obesidade e pode estar relacionada ao comer em excesso e ao
comer compulsivo), mesmo na ausência de obesidade.
Em vista das descobertas recentes, houve aumento no interesse
sobre a contribuição dos xaropes, especialmente com alto teor de frutose, no
aumento dos quadros de obesidade e problemas cardiometabólicos, já que seu
consumo aumentou em paralelo ao crescimento das taxas de sobrepeso e obesidade.
Xaropes
versus açúcar de cana
“Embora
a frutose seja o açúcar naturalmente presente nas frutas, não é com elas que
precisamos nos preocupar, pois a frutose nas frutas vem naturalmente empacotada
com fibras, vitaminas, minerais e outras substâncias benéficas, como os
fitoquímicos. A grande preocupação é com a frutose isolada e com os xaropes,
que podem causar alterações metabólicas indesejáveis, dependendo da
sensibilidade do indivíduo”, diz a nutricionista Marcia Daskal.
Ela
ainda adverte sobre a importância de se entender quais opções contém mais
índices do ingrediente, para então escolher os alimentos de forma mais
consciente. “Ler rótulos é fundamental, e ao encontrar produtos adoçados,
preferir os que privilegiam ingredientes naturais, como mel e açúcar de cana,
do que os adoçados com xaropes”.
“O
Brasil é um país produtor de cana de açúcar. Por este motivo, muitos dos nossos
produtos industrializados usam mais o açúcar do que o xarope. Assim, refrigerantes,
sucos e outros alimentos feitos em fábricas brasileiras costumam ter uma
composição mais interessante do que o mesmo produto na versão ‘gringa’, pois
aqui se usa menos xaropes. Nos Estados Unidos, por exemplo, alguns
produtos com perfil mais saudável e natural já estão especificando no rótulo
quando são adoçados com açúcar de cana, como um diferencial. Essa tendência
deve chegar em breve por aqui”, finaliza.
Sobre a Campanha Doce Equilíbrio:
A Campanha Doce Equilíbrio, é uma iniciativa da
União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e tem como objetivo promover a
informação sobre o equilíbrio na alimentação e estilo de vida. Equalizando o
debate sobre o açúcar como componente que pode e deve fazer parte de uma vida
saudável, a campanha visa o bem-estar da sociedade. Nas plataformas de blog (http://www.campanhadoceequilibrio.com.br/), Facebook (www.facebook.com/campanhadoceequilibrio) e Instagram (http://instagram.com/campanhadoceequilibrio), o público pode acompanhar e participar interativamente dos
conteúdos relacionados ao universo do açúcar. O projeto conta ainda com o apoio
da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (SIAMIG), do
Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (SIFAEG), e
do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool do Estado da Paraíba
(SINDALCOOL).
Referências:
1. Moeller SM1, Fryhofer SA, Osbahr AJ 3rd, Robinowitz CB; Council on Science and Public Health, American Medical
Association. The effects of high fructose syrup. J Am Coll Nutr. 2009
Dec;28(6):619-26.
2. Hannou SA, Haslam DE, McKeown NM, Herman MA. Fructose metabolism and metabolic disease. J Clin Invest. 2018
Feb 1;128(2):545-555.
3.Taskinen MR, Söderlund S, Bogl LH, Hakkarainen A et
al. Adverse effects of fructose on cardiometabolic risk factors and hepatic
lipid metabolism in subjects with abdominal obesity. J Intern Med. 2017
Aug;282(2):187-201.
4. Meyers AM, Mourra D, Beeler JA. High fructose corn syrup induces metabolic
dysregulation and altered dopamine signaling in the absence of obesity. PLoS One. 2017
Dec 29;12(12):e0190206.
5. Stanhope KL, Schwarz JM, Keim NL et al. Consuming fructose-sweetened, not
glucose-sweetened, beverages increases visceral adiposity and lipids and
decreases insulin sensitivity in overweight/obese humans. J
Clin Invest. 2009 May;119(5):1322-34.
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