Antes de partir para a vitória (afinal, era quase
sempre o desfecho de suas aparições nas pistas pelo mundo afora), Usain Bolt
dava sinais de estresse. Sim, apesar do que o semblante bem-humorado pudesse
suscitar nos milhões de espectadores que sempre o acompanharam, o maior
velocista de todos os tempos ficava estressado antes do tiro de largada - mesmo
depois de oito medalhas de ouro olímpicas. E tinha de ser assim. Mas na dose
certa.
Acredite,
o estresse não é necessariamente um inimigo - nem nas raias do atletismo nem
nas raias da vida corporativa. Ele é uma defesa natural aos estímulos externos
e também essencial para o conjunto de ações conhecidas como "instinto de
sobrevivência". Diante de uma situação de perigo, por exemplo, produzimos
adrenalina e cortisol, substâncias que nos deixam em situação de alerta,
prontos para reagir, independentemente do cenário no qual estamos inseridos.
No
mundo corporativo, o estresse está presente em boa parte do tempo dos
executivos - mais do que isso, parece fazer parte de nosso job description,
tratado quase como um status dos cargos de chefia. Só que isso pode gerar
diversos problemas de saúde, dentre os quais quadros de hipertensão, cardíacos,
ansiedade e insônia (em casos extremos, até quadros de depressão) - só para
citar os mais comuns.
A
questão, aqui como em qualquer instância da vida (tanto a pessoal quanto a
profissional), é bom senso. Ou seja, também é preciso estabelecer momentos
dedicados à desaceleração durante o expediente, momentos em que você precisa
relaxar, a despeito do turbilhão que possa estar ocorrendo à sua volta. Não é simples,
claro, mas esse autocontrole fará com que você consiga atravessar os desafios
mais rapidamente, de forma mais estruturada, sem emoção, e de modo mais
saudável.
É
fundamental também incluir na sua rotina, não apenas diária, mas durante as
férias, alguma atividade que te gere prazer (pode ser física ou não), bem-estar
e o famoso "desligar do mundo". Esses momentos são essenciais para a
saúde mental e física, além de parte do processo que leva ao sucesso profissional.
Mas
não se acalme tanto assim! É o estresse na medida correta que pode fazer a
diferença entre fracasso e sucesso.
Um
dos fatores mais interessantes do "bom" estresse (ou estresse
controlado) é que ele melhora o desempenho intelectual e a capacidade da
memória. Há estudos que
garantem até uma facilidade maior de aprendizado em homens e mulheres que vivem
com nível de estresse controlado. Para um executivo que depende de seus
neurônios a cada segundo de seu dia de trabalho, trata-se de uma notícia e
tanto. Isso porque o estresse é capaz de estimular a produção das chamadas
proteínas regenerativas, que favorecem o surgimento de novas conexões
cerebrais.
Segundo
consta, pesquisadores alemães da Universidade de Freiburg descobriram que o
estresse pode ser também um motivador de novas amizades. O estudo demonstrou que pessoas expostas a situações
estressantes tendem a socializar com mais facilidade, compartilhando suas
ideias e experiências.
Sem
falar nos benefícios ao sistema imunológico (o estresse, em níveis saudáveis,
leva o corpo a produzir anticorpos com maior velocidade e mantém o indivíduo em
estado de alerta). Entretanto se você ultrapassa essa medida, as funções de seu
corpo sofrem. Motivo? A adrenalina se junta ao cortisol, "fabricando"
uma mistura tóxica no organismo, capaz de causar lapsos de memória, taquicardia,
pressão alta, alergias, tensão muscular, irritação sem motivo aparente, falta
de concentração e até... medo.
Ao
perceber sinais de que está se aproximando de seu limite, pare o que estiver
fazendo - sim, permita-se uma pausa. Afinal, como diria o filósofo William
James, "a maior arma contra o estresse é nossa habilidade de escolher um
pensamento ao invés de outro". Portanto, respire ou exercite-se, ouça uma
música ou leia o capítulo de um livro que não tenha nada a ver com o que você
está fazendo, dê uma "volta" pelas redes sociais (sem compromisso) ou
jogue online por 10 minutos. Aposte nisso no ambiente de trabalho, mantenha seu
índice de estresse na coleira e você colherá bons resultados.
Os
especialistas são unânimes: momentos de hiperatividade devem ser sempre curtos,
jamais duradouros. Como o jamaicano Usain Bolt costumava demorar menos de 10
segundos (nos 100 metros rasos, sua prova mais forte) para cruzar a linha de
chegada e abocanhar a medalha de ouro - de novo e de novo e de novo! -, a
teoria parece mesmo fazer sentido.
Lucas Medola - CFO do PayPal para a América Latina
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