A linguagem é um recurso exclusivo do animal homem,
pelo qual se dá a comunicação entre os humanos usando um instrumento
maravilhoso: a língua, suas palavras e as normas de construção de pensamentos e
raciocínios. As palavras e a maneira de organizá-las seguem um código
esquemático de significados e funções. Assim, é conduta reprovável o desprezo
pelo estudo da língua, seus vocábulos, sua lógica, sua gramática e a miríade de
possibilidades que a linguagem nos proporciona.
Infelizmente, um país em que um governante maior da
nação quase se orgulha de falar errado e demonstra que não se interessa pelo
idioma nacional, sob o aplauso de asseclas que acham isso charmoso, é um país
culturalmente miserável, que quase renuncia à exploração desse dom do ser
humano: a linguagem. As palavras têm significado e exprimem conceitos, que são
a representação mental de um objeto abstrato ou concreto para identificar,
descrever e classificar os diferentes elementos e aspectos da realidade do
objeto.
Há duas palavras que, embora completamente
diferentes, vêm sendo usadas como se fossem iguais, prestando-se a confusões
dialéticas: globalização e globalismo. As diferenças entre as duas
são abissais, irreconciliáveis. Não dá para usá-las como sinônimos nunca.
Globalismo é um conceito político, enquanto globalização é conceito econômico.
Em economia, há duas teorias para explicar as
vantagens do comércio entre as nações. Uma é chamada de “vantagens absolutas”;
a outra, de “vantagens relativas”. Quanto a esta última, a questão é simples: cada
país deve dedicar seus recursos e seus esforços para produzir aquilo que faz
melhor e mais barato que os demais e, por meio das trocas, vender o excedente
em relação ao consumo interno e importar aquilo que outros países fazem com
mais eficiência.
A globalização econômica é a abertura comercial dos
países para exportar e importar bens, serviços e tecnologias, e há fartas
provas de que ela promoveu melhorias no padrão de vida e ajudou a reduzir a
pobreza. Um exemplo interessante é o de uma simples camisa fabricada na
Malásia, utilizando máquinas feitas na Alemanha, algodão proveniente da Índia,
forros de colarinho do Brasil, tecido de Portugal, e vendida no varejo no
Canadá e outros países.
Globalização econômica significa livre comércio e
se trata de um arranjo que não necessita da intervenção de governos e
burocratas – aliás, funciona muito melhor sem eles. Globalismo é outra coisa: é
um arranjo que só existe e funciona por causa de políticos e burocratas, é uma
política internacionalista pela qual organismos mundiais e seus burocratas
querem controlar o mundo e interferir na vida das populações por meio de
decisões e resoluções autoritárias, em assuntos como imigração, racismo,
descriminalização de drogas, educação, ideologia de gênero, aborto, maioridade
penal e por aí vai.
O globalismo, ao tentar fazer imposições iguais
para todos os países sem considerar as diferenças entre os povos, enfraquece o
Estado-nação e a soberania interna, e significa a centralização do poder
político em escala mundial. Para julgar e adotar posição individual a respeito
de qualquer coisa, especialmente sobre temas complexos, a pessoa deve conhecer
o significado das palavras, estudar o conteúdo e os efeitos dos instrumentos
que delas derivam, para aí, sim, conforme sua crença, assumir a defesa desta ou
daquela proposição. Sem isso, o debate fica empobrecido. Infelizmente no
Brasil, essa é a norma.
José Pio Martins - economista, é reitor da Universidade Positivo.
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