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Homem sobre manchas, 1969 - Guache sobre papel 37,7 x 21cm. Local: Dops (Departamento de Ordem Política e Social) |
“Podem me matar,
seus covardes, que vocês estão matando um brasileiro."
Carlos Takaoka
A exposição Imagem Testemunho:
experiências artísticas de presos políticos durante a ditadura civil-militar
será realizada no Centro MariAntônia da USP, em São Paulo, com abertura oficial
no dia 27 de abril de 2023 às 19h. A mostra conta com curadoria de Priscila
Arantes, e apresenta imagens-testemunhos de presos políticos que foram criados
em diferentes presídios do Estado de São Paulo durante as décadas de 60 e 70.
Entre desenhos, colagens, xilogravuras, bilhetes trocados entre os
encarcerados, anotações e serigrafias, as obras foram reunidas durante anos
pelo jornalista e ex-preso político Alípio Freire, e que agora integram o
acervo documental da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
O evento faz parte das comemorações
dos 30 anos do Centro MariAntonia, inaugurado em 27 de maio de 1993, que tem
como vocação a resistência democrática, a defesa dos direitos humanos e a
memória política. O diretor do Centro MariAntonia, José Lira, salienta que em
um momento no qual a democracia vê-se novamente ameaçada “É
imprescindível retornamos ao testemunho dos que ousaram se levantar contra a
tirania. Pois sua voz, seu olhar, suas mãos, seus corpos, muitas vezes
fustigados pelo aparato repressivo do regime, guardam tesouros da memória e da
imaginação sociais”.
A exposição Imagens Testemunhos, é
uma homenagem aos artistas como Rita Sipahi, advogada, ex-presa política e esposa
de Freire, também uma das principais figuras desta exposição, além de Aldo Arantes,
Ângela Rocha, Artur Scavone, Carlos Takaoka, José Wilson, Manoel Cyrillo, Regis
Andrade, Sérgio Ferro, Sérgio Sister e Yoshiya Takaoka, que lutaram
contra a repressão e a censura durante a ditadura brasileira.
Suas obras são testemunhos da resistência
e da luta pela liberdade, pela anistia e pelos direitos humanos no Brasil.
A expressão
Imagem-Testemunho, escolhida para o título da exposição, pontua o valor desta
produção enquanto testemunho e fonte histórica dos duros anos de ditadura
civil-militar no país. As obras retratam a resistência no espaço prisional e a
solidariedade criada dentro e fora das prisões. Muitas vezes, estes
testemunhos, quando saíam das prisões, funcionavam como um dispositivo de
divulgação da existência de presas e presos políticos no país”, diz
Priscila Arantes.
Composta por um conjunto de desenhos
criados em diferentes presídios do Estado de São Paulo, incluindo Tiradentes,
Carandiru, Hipódromo e Presídio Militar Romão Gomes (Barro Branco), além de
algumas vezes dentro do próprio Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
Essas obras foram produzidas por presos de diferentes organizações políticas,
alguns desses artistas antes de serem presos, enquanto outros só tiveram essa
experiência durante o período de confinamento.
São 41 trabalhos que retratam o
cotidiano na prisão, as relações entre os próprios presos políticos, as redes
de apoio fora do espaço carcerário, e a solidariedade criada dentro e fora das
prisões. As obras incorporam técnicas diversas e muitas vezes foram realizadas
com materiais encontrados dentro do espaço prisional ou trazidos por amigos
para dentro da prisão. Completam a exposição 16 outros documentos, 7
depoimentos em vídeos especialmente produzidos para a mostra e um conjunto de
atividades culturais e educativas a ela relacionadas. Algumas delas dialogam
com assassinatos de companheiros fora do espaço prisional, enquanto outras
apresentam imagens que, mais do que abstratas, nos conduzem a um silêncio
ensurdecedor. “É importante destacar que os trabalhos artísticos, realizados no
cotidiano das celas, foram identificados como instrumentos de memória, com
potencial de demonstrar – quando expostos – as graves violações cometidas
contra aqueles que resistiram ao terror da ditadura civil militar.”
completa Rita Sipahi que atualmente é advogada de presos políticos e
conselheira da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça.
Entre os artistas presentes na
exposição, destaca-se Alípio Freire, um dos principais responsáveis pelo acervo
da exposição, falecido por complicações decorrentes da COVID-19 em 2021, que em
depoimento para o livro "Tiradentes, um presídio da ditadura. Memórias de
presos políticos" (org. por Alípio Freire, Izaías Almada e J.A. de
Granville Ponce) afirmou que "Por trás de algumas dessas manifestações (em
branco) residiam intenções de alguns daqueles artistas, que visavam ao mesmo
tempo dois alvos: primeiro, abrir um espaço onde o espectador pudesse preencher
com sua imaginação a comunicação pretendida, o que era entendido então como
parte da fruição do espectador ante a obra - a fruição era entendida por alguns
como também uma (re)criação pelo espectador. Segundo, refletir o indizível,
ainda não simbolizável - algo próximo chamado de 'inefável'."
Durante os anos 80 e 2000, a
coleção contou com inúmeras mostras e muitas imagens fizeram parte de livros,
catálogos e revistas. No contexto do ano de 2023, acrescentam-se novos sentidos
à exposição desta coleção. Homenagear Alípio Freire e as inúmeras vítimas que
morreram em 2021, pelo descaso da política negacionista do governo Bolsonaro.
“Reafirmar a importância desta coleção como documento deste período obscuro da
nossa história. Mas, especialmente, através das experiências artísticas
realizadas por militantes políticos que resistiram ao regime militar, reafirmar
a importância destes testemunhos como espaços de luta e resistência.” finaliza
Priscila.
Integrantes da
mostra
Aldo Arantes/ Alípio Freire/
ÂngelaRocha/ Artur Scavone/ Carlos Takaoka/ José Wilson/ Manoel Cyrillo/ Regis
Andrade/ Sérgio Ferro/ Sérgio Sister/ Rita Sipahi/ Yoshiya Takaoka
Depoimentos
De Aldo Arantes, Ângela Rocha, Artur
Scavone, Manoel Cyrillo, Rita Sipahi, Sérgio Ferro, Sérgio Sister, que integra,
o acervo do Núcleo do Museu da Pessoa MariAntonia..
Quem é a
curadora
Priscila Arantes é crítica, curadora,
professora e pesquisadora no campo da arte, curadoria, museu e estética
contemporânea. Formada em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), com
mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) e pós-doutorado pela Penn State University (EUA)
e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente é diretora da
Faculdade de Filosofia, Letras e Artes da PUC-SP e pesquisadora-colaboradora do
Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Foi diretora e curadora do Paço das
Artes de 2007 a 2020. Entre 2007 e 2011 foi diretora adjunta do Museu da Imagem
e Som (MIS) atuando na curadoria de programação. Integra o conselho editorial
de diversas publicações científicas e é vice-presidente da Associação
Brasileira dos Críticos de Arte (ABCA) desde 2022 e membro da Associação
Nacional de Artes Plásticas (ANAP). Entre os prêmios recebidos destacam-se o da
Society of Latin American Studies para integrar a Conferência em Liverpool
(Londres/2016), da Fundación Cisneros/Getty Foundation/ (2016), da Getty
Foundation ( 2012) e finalista do 48º Prêmio Jabuti pelo livro Arte@Mídia:perspectivas
da estética digital (Fapesp/Senac). É autora de diversos livros e curadora de
mostras em Portugal e em diversas instituições culturais no país.
Serviço
Exposição Imagem-Testemunho: experiências artísticas de presos políticos na ditadura civil-militar
Quando | Abertura 27 de abril - a partir das 19 horas
De 28 de abril a 10 de dezembro de 2023
Onde | Centro MariAntonia – Edifício Joaquim Nabuco
Rua Maria Antônia, 258 – Vila Buarque – São Paulo, SP (próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô)
Visitação | terça a domingo, e feriados, das 10 às 18 horas
Quanto | Grátis
Informações | (11) 3123-5202