Venho estudando o universo da inovação há mais de
cinco anos. Me vi imersa em dezenas de processos de Design Thinking, lançando
mão de vários recursos para engajar as pessoas e criar novas ideias. Apesar de
toda a empolgação do momento, a descontração das pessoas e aquela sensação
maravilhosa de que é possível, a maior parte das ideias que ajudei a colocar
nos post-its nunca saíram de lá. Elas simplesmente viraram lixo alguns dias,
semanas ou até meses depois.
A frustração é grande. Muitas vezes, há recursos
financeiros disponíveis, gente disposta a fazer acontecer, capacidade técnica e
tudo o que aparentemente julgamos necessário para colocar aqueles insights
geniais em prática. Mas, por algum motivo que eu simplesmente desconhecia, nada
daquilo era suficiente para transformar ideias em resultados. Eu só não
conseguia entender porquê!
Foi quando conheci a ISO 56.002, de gestão da
inovação, que entendi exatamente o que faltava: processo! Em empresas de todos
os portes e segmentos, são os processos que ditam o que será feito, quando, por
quem, de que forma. Sem processos, ideias sensacionais simplesmente caem no
limbo.
A relutância - Confesso que, num primeiro
momento, achei a proposta totalmente contraproducente. Sempre acreditei que
inovação depende de ousadia, inconformismo e uma boa dose de rebeldia para
desafiar o status quo. “Uma norma? Isso não faz o menor sentido!”,
pensei. Essa reação não foi apenas minha, mas de muitas pessoas que, assim como
eu, desconhecem totalmente o papel de uma norma.
Não, sua função não é engessar ou burocratizar. Ao
contrário, ela cria processos fluídos, baseados em estratégias que foram amplamente
estudadas e testadas. No caso da ISO 56.002, foram 11 anos de pesquisas sobre
as melhores práticas de inovação dos 163 países membro da ISO, que é uma
organização sem fins lucrativos sediada na Suíça. Só depois de muitas idas e
vindas é que o documento foi oficialmente publicado, em julho de 2019.
O diferencial - Um
grande diferencial dessa norma em relação às mais conhecidas, como a ISO 9.001,
de qualidade, a 14.001, de meio ambiente, e a 45.001, de saúde e segurança,
é que essa é uma norma de diretrizes e não de requisitos, por isso, sua
numeração termina com o número dois, 56.002. A ISO entendeu que não existe
receita de bolo para a inovação. O que funciona muito bem em uma empresa pode
não funcionar em outra. Por isso, além de conhecer muito sobre normas, o quem
faz a implementação precisa saber muito de inovação, para que consiga criar
projetos que efetivamente tragam resultados.
A ISO 56.002 está ancorada em oito pilares: gestão
de risco, geração de valor, direcionamento estratégico, liderança visionária,
cultura adaptativa, resiliência, gestão de insights e gestão por processos. O
auditor avalia quais são as iniciativas da empresa dentro desses alicerces a
partir de evidências. Oportunidades de melhoria também são apontadas, como
forma de fazer com que a empresa realmente se beneficie do processo e não que
apenas ostente um “selo” na parede.
O pioneirismo - E, por
mais que os números do Brasil em relação à sua maturidade digital e de inovação
mostre que ainda temos muito a melhorar, precisamos também olhar a “metade
cheia do copo”. Felizmente, nosso país ficou entre os três primeiros que
conquistaram essa certificação. E, a conquista aconteceu na mesma semana em que
a norma foi oficialmente publicada. Motivo de muito orgulho para o nosso país!
É claro que ainda há muito por fazer. Em um mundo globalizado, quem não se
atualizar vai ficar para trás.
Não digo que a ISO 56.002 é o único caminho para
inovar. Muitas empresas podem sim criar fluxos e processos relevantes para
fazer com que a inovação aconteça de forma sistemática e não esporádica, como
infelizmente temos visto em muitas empresas com crescimento e queda meteóricas.
No entanto, o que a ISO apresenta é um compilado de conhecimentos e boas
práticas vindos de uma instituição com alta reputação e mais de 75 anos de
existência. Ou seja, ela simplifica o processo, encurta o caminho.
A chancela - Logicamente, essa
importante chancela faz com que a inovação possa ser mensurada e não que seja
apenas um discurso vazio, como muitas empresas vem alardeando sem fundamento
algum. Uma certificação com esse peso e renome promete finalmente separar o
joio do trigo no que tange a inovação. Até porque, segundo a própria norma,
toda novidade que não traz valor, “é uma invenção e não uma inovação”. Ou seja,
tem que usar a criatividade para emitir mais nota fiscal!
Além disso, como é reconhecida mundialmente, essa
norma tem um valor ainda mais especial para empresas que buscam a exportação. A
certificação internacional facilita o processo de homologação de fornecedores e
parceiros comerciais em todos os países membro porque uma empresa acreditadora,
auditada pela própria ISO, valida que todos aqueles pilares foram atendidos e
que a empresa certificada realmente é capaz de inovar. É, acho que depois de
tantos argumentos, eu já me convenci de que a ISO de inovação faz sentido sim!
E você?
Marília
Cardoso - sócia-fundadora da PALAS, consultoria pioneira
na implementação da ISO 56.002, de gestão da inovação.
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