O que
significa transformação digital em termos de qualidade de vida no trabalho?
“Transformação
digital” virou uma expressão-chave nas reflexões sobre o futuro das
organizações, e parece que ainda vais ser o assunto principal em 2020, em
particular na área de RH. Implementar novos processos, ferramentas mais rápidas
e eficientes, meios de comunicação ágeis e instantâneos para atender o cliente
cada vez mais rápido, e com um serviço cada vez melhor, já é algo natural.
Porém, engana-se quem acha que parou por aí.
A primeira parte do caminho já é um desafio em si:
identificar fraquezas, gargalos e oportunidades, idealizar a resposta com
ferramentas digitais, convencer os investidores e diretorias que esse é o
caminho certo frente a tantas outras opções, mobilizar os recursos tecnológicos
para de fato criar novas soluções... são tantas etapas para apenas iniciar a
transformação digital.
As funções de RH também estão profundamente
impactadas pela transformação digital, com a necessidade de aliviar o trabalho
administrativo, implementar People Analytics e, de forma geral, serem mais
eficientes.
Além da própria transformação, o RH também está
plenamente mergulhado em todas as transformações digitais acontecendo na
organização. Ele é responsável pela evolução da cultura organizacional, devendo
implementar uma “cultura ágil”, e achar no mercado os talentos compatíveis com
essas novas necessidades. Também se encarrega por encontrar os melhores cursos
de capacitação das novas ferramentas, mantendo as equipes sempre atualizadas, e
por aí vai.
Porém, ainda não se vê tanto o desenvolvimento do
braço “qualidade de vida” que deveria acompanhar essa transformação digital.
Por outro lado, a saúde mental está ocupando cada vez mais espaço na cena da
saúde corporativa. Observando os efeitos devastadores dos transtornos de
ansiedade, os casos frequentes de Burnout, e a depressão ocupando, em breve, o
primeiro lugar de causa de afastamento, as organizações aplicam toda a energia
para implementar políticas de qualidade de vida integrativas, orientadas para
as questões de saúde mental e bem-estar.
Mas e a ligação entre transformação digital e saúde
mental? Como pode suceder a tal da transformação digital sem se preocupar com a
sustentabilidade da transformação e dos seus impactos na saúde dos
colaboradores?
Impacto nos corpos
O início da era digital, com a generalização do
trabalho administrativo em escritório, no computador, trouxe o sedentarismo no
dia a dia de muitas pessoas. Esse novo estilo de vida veio junto a um grande
paradoxo: na era dos grandes avanços da medicina e da tecnologia, todos sempre sentimos
alguma dor, em algum lugar: pescoço travado, enxaqueca, lombar dolorida, dor
ciática, insônia, gastrite...
Com meios de comunicação cada vez mais
sofisticados, a tendência é que as pessoas precisem ainda menos se movimentar
para trabalhar. A democratização do acesso ao home office também vai nessa
direção: não precisamos nem sair de casa para trabalhar (não que essas
políticas não tenham aspectos extremamente positivos em termos de qualidade de
vida!). Uma pesquisa encomendada pela Fellowes (empresa americana, fabricante
de acessórios de escritório e de tecnologia) aponta os impactos no longo prazo
no corpo do trabalhador, do sedentarismo: pele pálida, olhos vermelhos e
ardidos, costas curvadas e doloridas, distúrbios digestivos e eczema, articulações
inchadas... uma lista assustadora de consequências sérias para saúde.
Com tudo isso - transformação digital e tecnologias
cada vez mais sofisticadas -, nosso corpo e nosso cérebro não deixam de ser a
nossa primeira ferramenta de trabalho. É urgente então desenvolver políticas
corporativas, e públicas, para compensar os efeitos desse estilo de vida
sedentário. Essa é a missão da Yogist e o seu método de yoga corporativo:
sensibilizar sobre os impactos das tecnologias no nível do estresse, ensinar a
se desconectar regularmente, e mostrar como movimentar o corpo, e compensar a
postura sentada, no próprio ambiente de trabalho.
Impacto na mente
Usar as tecnologias para sermos mais eficientes,
sim! Mas não pode ser feito de qualquer forma. Dentro da proposta de
treinamentos para o mundo digital, deve ser incluído as metodologias para usar
essas ferramentas de forma saudável e sustentável.
Sabemos hoje das consequências nefastas no estresse
e na produtividade das interrupções não solicitadas no trabalho. Um exemplo
disso é o estudo, de 2019, de pesquisadores da Universidade de Houston, da
Texas A&M University e da Universidade da Califórnia Irvine (UCI), que
apontou o efeito benéfico no nível de estresse, de checar os e-mails em algum
horário determinado em vez de reagir a cada notificação. Outros exemplos não
faltam: efeitos nocivos do uso excessivo das telas na qualidade do sono,
impacto no nível de estresse das solicitações permanentes por meios de
comunicação cada vez mais diversos etc.
A necessidade de sensibilização a esses temas, e do
ensinamento de métodos para saber gerenciar o estresse e usar as ferramentas
digitais de uma forma eficiente, é um assunto não somente de qualidade de vida,
mas até de produtividade da organização. Estamos integrando cada dia mais uma
ferramenta sem saber utilizar de forma correta a primeira delas, que é o e-mail
(quem nunca trocou dezenas de e-mails para resolver um assunto que teria sido
resolvido em uma chamada telefônica de 5 minutos?).
Impacto nas relações sociais
Com todos esses avanços tecnológicos, o talento e o
cérebro humano não deixam de ser a peça-mestre para o sucesso de qualquer
projeto. Liderança, capacidade de trabalhar em equipe e inteligência emocional
são competências procuradas e valorizadas. A utilização de ferramentas digitais
deve, então, ser feita em prol desses objetivos maiores, e não contra.
Encontramos aqui novamente a necessidade de fomentar relações reais, humanas e
concretas. Isso se traduz em inúmeras situações: reuniões onde as pessoas estão
presentes e não resolvendo ao mesmo tempo algo no notebook, conversas livres de
interrupções de celular, ou seja, momentos de presença e atenção plena... o
famoso conceito de “mindfulness”, mais relevante do que nunca!
Por questões de qualidade de vida no trabalho, mas
também de atração, retenção e otimização dos talentos, a transformação digital
deve se fazer junto a um acompanhamento “offline”. É crucial para que o digital
se encaixe onde ele potencializa o cérebro humano, e não onde ele prejudica o
bem-estar físico, mental e social dos colaboradores, como ainda é o caso,
muitas vezes, hoje, nas organizações. Uma reflexão a ser levada também para
fora do trabalho!
Armelle Champetier
- diretora da Yogist no Brasil, empresa que desenvolveu um método
exclusivo de yoga corpotativo, que pode ser praticado em qualquer ambiente, sem
vestuário ou materiais específicos
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