Especialista
avalia ainda que mercado deve ter fuga de investidores e que atividade
econômica de alguns setores pode se retrair
O anúncio do primeiro caso do coronavírus (Covid-19)
no Brasil bagunçou ainda mais com o mercado financeiro, que já não andava bom.
O dólar, que já havia batido a casa dos quatro reais, agora chega perto dos
cinco, em cotação recorde desde a criação da moeda, com o Plano Real. E a
tendência é que a situação ainda piore um pouco, enquanto a epidemia no mundo
não é deflagrada com respostas médicas eficazes. Essa é a avaliação do
especialista em direito empresarial, Marcelo Godke Veiga, professor de Direito
Comercial e doutorando da Universiteit Leiden, na Holanda.
“Numa crise mundial, a tendência é que os
operadores internacionais façam o movimento chamado flight-to-quality, isto é,
vendem o que consideram investimentos de maior risco e compram investimentos
mais seguros. Nesse sentido, o dólar costuma se valorizar em relação a todas as
moedas e não somente em relação ao real”, explica Godke.
Segundo ele, as próximas semanas serão cruciais
para avaliar maiores riscos do mercado financeiro como um todo, que já sofre
consequências imediatas. “O dólar ainda deve subir mais e os papéis irão se
desvalorizar. Para quem atua no mercado, a queda pode ser uma boa oportunidade
de compra, para aguardar uma revalorização. Mas tudo vai depender da resposta
dos governos, e também do comportamento do vírus nas próximas semanas”.
O momento também não é bom para quem estava
planejando comprar dólar, devido à alta. Fora do mercado financeiro, a economia
no Brasil também pode sofrer alguns baques, como o setor de turismo, devido à
diminuição de viagens internacionais. E como a China é um grande produtor
industrial, a diminuição de sua atividade econômica não é nada alvissareira
para a economia mundial. E muito menos para o Brasil. “Exportamos muitos
commodities para a China, como alimentos. Esse setor pode ter um impacto grande,
assim como o de turismo. Outro impacto direto para o Brasil deve ser a
importação. Importamos muita farinha de trigo e muito aço, esse especialmente
da China. Com a disseminação do vírus pelo mundo, os negócios podem ser
afetados e os preços, subirem. É um efeito cascata”, avalia Godke.
A maneira como os governos estão enfrentando a
situação, segundo o advogado, também influencia os mercados. “A impressão é que
o governo brasileiro passa segurança em suas medidas. Isso ajuda a diminuir a
sensação de medo e acaba afetando os mercados. Na verdade, a maneira como os
governos de todos os países estão lidando com a situação influencia muito os
mercados. Dizem que teremos uma vacina daqui a um ano. Teremos que esperar
outras respostas da medicina e aguardar para ver como o vírus se comporta”,
conclui.
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