Levantamento aponta surgimento de novo canal de
compras e tendência de consumo mais conservador no pós-crise
Milhões de chineses estão há semanas com a
rotina completamente alterada por conta de ordens de restrição devido ao
COVID-19, conhecido popularmente como coronavírus. Durante este período, a forma
e as prioridades de consumo também sofreram drásticas mudanças. Diante disso, a
Kantar, líder global em dados, insights e consultoria, recolheu dados de
forma online de mais de 1.000 lares entre 6 e 9 de fevereiro em todo o país
asiático, inclusive na região de Hubei, epicentro da crise, para entender como
a população tem se comportado.
Aos entrevistados, foi perguntado se haviam
reduzido, mantido ou aumentado seus gastos nas compras de 24 indústrias e como
pretendem retomar os gastos quando a normalidade for restabelecida.
Pela impossibilidade de sair de casa, as
indústrias de entretenimento e turismo são as que mais sofrem: 75% dos chineses
disseram ter cancelado compras destas categorias e 17% reduziram os valores
desde o início da crise. Em segundo plano, produtos relacionados também têm
perdido mercado, como, por exemplo, bebidas alcoólicas (-57%), cosméticos
(-56%) e vestuário (-67%). Em contrapartida, os gastos com alimentos e bebidas
cresceram em 40% dos lares, produtos de limpeza em 48% e seguro saúde em 38%,
especialmente na província de Hubei.
No entanto, quando finalmente puderem deixar
suas casas, 82% dos chineses pretendem retomar as refeições na rua, 78% têm
planos de viajar e 77% de investir em entretenimento fora de casa (out of
home). A retomada não indica índices tão positivos para a indústria de
luxo, que deverá ter as maiores perdas a curto e médio prazo, já que 61%
afirmaram ter reduzido ou eliminado estes itens do orçamento e 21% pretendem
continuar diminuindo a compra com o fim da crise. Este comportamento pode ser
reflexo das mudanças de perspectiva de consumo que as pessoas apresentam após
esse tipo de evento.
Como os chineses têm feito suas compras?
Como é preciso passar o maior tempo possível
em casa, 55% dos chinestes têm usado as plataformas de e-commerce para
abastecer as prateleiras, apesar de os supermercados ainda serem o canal mais
usado por pequena diferença.
Um comportamento curioso é que as pessoas têm
se juntado em grupos de vizinhos, amigos ou familiares para trocar produtos ou
fazer compras coletivas. Para isso, têm se organizado usando a plataforma de
mensagens instantâneas WeChat. De acordo com o levantamento, 35% das famílias
citaram os grupos como um novo canal de compra.
Como os chineses têm passado o tempo em casa?
Este é provavelmente o mais longo período da
história em que milhões de chineses têm sido obrigados a ficar em casa. Além de
aulas online para crianças e adolescentes e trabalho remoto, as atividades que
mais preenchem o tempo são na maioria relacionadas às telas: 58% optam por
vídeos de longa duração, 56% por vídeos curtos e 41% estão ligados na TV. Já
para 54% dos entrevistados, descansar tem sido a principal maneira de driblar o
confinamento. Na sequência, 28% das pessoas têm aproveitado o período para
cozinhar mais, 23% para curtir os filhos, 30% para estudar online e 26% para
ler.
Por conta de mais tempo disponível para estar
conectado, 40% citaram visitar mais vezes plataformas informativas de vídeos,
34% têm usado mais as redes sociais, principalmente o WeChat, e 26% plataformas
online de música. Alguns serviços online também ganharam novos clientes, já que
84% dos chineses consumiram algum produto online de forma inédita durante a
crise. Por exemplo, 34% participaram de uma consulta médica à distância pela
primeira vez, 33% experimentaram cursos online e 26% decidiram fazer uma
assinatura e pagar por entretenimento digital.
O que deve mudar no consumo com o fim da
crise?
Apesar de ainda não haver previsão para que
as restrições quanto ao coronavírus terminem, os chineses já sabem o que querem
fazer quando este dia chegar. Para 65%, a primeira compra será um jantar fora
de casa com outras pessoas, enquanto 58% pretendem visitar lojas e shoppings e
45% viajar.
A preocupação com a saúde tambem é item
amplamente citado. Para 83% dos consumidores, estocar máscaras e produtos
desinfetantes será prioridade, assim como usar máscara diariamente (65%), ter
mais atenção às bactérias no cuidado com a higiene pessoal (76%) e comprar
equipamentos que ajudem a manter a casa limpa (63%).
De forma geral, a pesquisa indica que o
consumo na China deve se tornar mais conservador, já que muitos lares
aumentaram a preocupação em guardar dinheiro para emergências e reduzir gastos
desnecessários. Em paralelo, a atenção em valorizar o que o dinheiro não compra
também foi citada, como passar mais tempo com família e amigos e ter um
universo espiritual mais rico. Ainda neste segmento, as pessoas afirmaram que
pretendem pagar mais por marcas que sejam mais socialmente e ambientalmente
responsáveis.
Kantar
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