Pediatra aponta a
importância da empatia no tratamento de crianças com obesidade
Qualidade de vida
da criança com obesidade pode ser pior do que a da criança com câncer
Julgamento, críticas e rejeição. Se esses tipos de
comportamentos com um adulto já são doloridos, imagina uma criança ser tratada
assim? A falta de empatia e o bullying são algumas das reações à obesidade
infantil, muito frequentes na escola e até mesmo no núcleo familiar.
Uma das características físicas que mais levam ao
bullying é a obesidade. Esse tipo de agressão é mais comum entre as meninas e
isso tem piorado nos últimos anos. O estudo Getting Worse do início dos anos 2000 mostra que a rejeição da criança obesa piorou
40% desde a década de 60.
A Dra. Denise Lellis, PHD em Pediatria pela Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), conta que a violência sofrida
pela criança obesa é um dos principais motivos que levam as famílias a
procurarem ajuda para o tratamento da obesidade.
“Muitos de nós, até mesmo profissionais da área da
Saúde, acabamos tendo um comportamento que estigmatiza e maltrata o paciente
obeso. Achar que o bullying pode motivar o paciente a procurar ajuda não é
verdade. A violência psicológica gera estresse e o estresse faz a criança comer
mais. Muitas dessas crianças acabam descontando a sua tristeza na comida, é o
comer emocional”, explica Dra. Denise.
Empatia – O posicionamento da Academia Americana de Pediatria de 2018 mostra
como é importante que os profissionais envolvidos com obesidade infantil saibam
conversar, falar, agir e se comportar frente ao paciente com obesidade.
Uma das referências desse artigo retrata que a
qualidade de vida da criança com obesidade pode ser pior do que a qualidade de
vida da criança com câncer. “As crianças com câncer têm um
apoio muito grande da sociedade, é claro. São vítimas de uma doença grave, não
existe julgamento, só empatia, rede de apoio, e a criança é acolhida. Já a
criança que está acima do peso recebe o contrário disso”, comenta a pediatra.
Ainda segundo ela, há estudos que mostram que
médicos e nutricionistas costumam julgar muito mal o comportamento e até o
caráter de crianças e adultos que sofrem de obesidade. “Isso precisa mudar
porque muitos desses comportamentos que são julgados como errados, muitas
vezes, são causados pelas nossas condutas porque nós, médicos, não conseguimos
avaliar se a família está pronta para seguir algumas de nossas orientações”,
enfatiza a especialista.
Na Escola - A criança aprende imitando o comportamento do adulto. Se ela frequenta
um ambiente onde é comum tirar sarro de alguém, acabará achando que é normal e
permitido. Isso também acontece no ambiente escolar.
“As crianças precisam ser tratadas com igualdade
de respeito. As escolas precisam parar de pesar e medir as crianças uma na
frente das outras e trabalhar a consciência da imagem corporal, o respeito
pelas diferenças, ações que mostrem como as crianças e adultos que são julgados
podem sofrer, o quanto o bullying pode atrapalhar um tratamento de obesidade, a
conscientização de que a obesidade não é uma escolha e pode ser, sim, o
resultado de um ambiente onde essa criança vive juntamente com a genética que a
acompanha. Tudo isso pode ser explorado pela escola e família. Por mais que
precisemos baixar os índices de obesidade, elas primeiro precisam ser vistas
como crianças”, orienta Dra. Denise.
Dicas da Especialista - Destacar os talentos dessas crianças para que elas não tenham a
autoestima comprometida é algo apontado como muito valioso e que vai impactar
para o resto da vida: na inteligência emocional, nas relações socioemocionais.
“Outra dica é sempre falar em saúde e não em perda
de peso. Todos precisam ter uma alimentação saudável e não apenas as crianças
que estão acima do peso. É o que chamamos de prevenção conjunta: ao mesmo tempo
que prevenimos obesidade infantil trabalhamos o transtorno alimentar”, explica
Dra. Denise. Além de alimentação saudável, a prática de atividade física é
muito importante.
A médica sinaliza que a empatia é uma ferramenta
tão importante quanto uma competência técnica no combate à obesidade. Mas há
quem não a desenvolva, até mesmo na área da Saúde. “Nesses casos, indicamos que
essas pessoas tentem não se pronunciar para não gerar danos e sofrimento
emocional. Se for um profissional de Saúde, a indicação é que encaminhe a
criança que precisa de tratamento para perda de peso para um outro especialista
capacitado e não tente conversar com a família, com a criança e nem fazer
cobranças. O recado final que deixo é: criança com obesidade, antes de tudo, é
uma criança e precisa ser tratada com carinho, respeito e empatia”, conclui
Dra. Denise.
Dra. Denise Lellis –
Doutora em Pediatria pela USP, é membro do departamento de Obesidade Infantil
da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome
Metabólica), pediatra da Liga de Obesidade Infantil da FMUSP e Coordenadora do
curso de Nutrologia Pediátrica para consultório do CAEPP (Centro de Apoio ao
Ensino e Pesquisa em Pediatria).
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