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terça-feira, 1 de setembro de 2020

Wakanda forever!

 


 Chadwick Boseman faleceu essa semana devido à um câncer de colon, terceira neoplasia mais frequente e quarta causa de morte por câncer em homens. Ele lutava contra a doença há 4 anos, quando descobriu já em estágio III.

Infelizmente, perdemos não só um ícone da cultura pop, mas também alguém que deixou sua marca na luta contra a desigualdade racial, ao interpretar o primeiro super-herói negro da Marvel. Impressiona ter partido tão jovem, apenas aos 43 anos, por uma neoplasia que acomete pessoas acima de 50 anos em mais de 90% dos casos. Vamos relembrar um pouco sobre essa doença.

As lesões precursoras de grande parte das neoplasias colorretais são os pólipos adenomatosos. O pólipo adenomatoso, do tipo viloso, é o mais propenso à malignização. Essa malignização acontece na maioria das vezes através de um processo chamado sequência adenoma-carcinoma, em que ocorre um acúmulo progressivo de alterações genéticas e epigenéticas que inativam genes supressores de tumores e ativam oncogenes. Os genes mais comumente envolvidos são o oncogene k-ras e os supressores de tumor APC e p53. Esse processo pode levar anos.

Câncer de cólon em pacientes jovens. A grande maioria dos CCR acima de 50 anos ocorrem de forma esporádica, mas sua ocorrência, principalmente em pacientes mais jovens, pode estar associada a síndromes genéticas, como a polipose adenomatosa familiar (PAF), síndrome de Lynch (câncer colorretal hereditário não polipose), síndrome de Peutz-Jeghers e Polipose de Cólon Múltipla. Existe ainda o Câncer Colorretal Familiar e outros fatores de risco que podem levar ao CCR mais precoce, como portadores de doença inflamatória intestinal e de endocardite por Streptococcus bovis. Infelizmente, os CCR em jovens, apesar de menos comuns, geralmente são mais agressivos e diagnosticados em estágios mais avançados.

Taxa de mortalidade global vem caindo, porém a incidência em pacientes mais jovens (< 50 anos) está aumentando. Recomendações de rastreio através de colonoscopia em pacientes acima de 50 anos com detecção e remoção precoce de pólipos colônicos e tratamentos mais eficazes provavelmente justificam a queda na taxa de mortalidade. Entretanto, a piora de hábitos de vida da população mais jovem, como aumento do consumo de carnes vermelhas e processadas, baixa ingestão de vegetais e frutas, sedentarismo, obesidade, etilismo e tabagismo, pode estar causando um aumento da incidência do CCR esporádico em jovens.

Estadiamento do câncer de cólon. Os principais exames utilizados no estadiamento são TC de tórax e abdome, CEA e colonoscopia. Podemos utilizar o estadiamento de Dukes ou o clássico TNM (T=extensão do tumor, N=acometimento linfonodal, M=metástase à distância). Vamos relembrar o estadiamento TNM do CCR bem resumidamente:

 

Estágio I: T1 ou T2, N0, M0

Estágio II: T3 ou T4, N0, M0

Estágio III: Qualquer T, N positivo, M0

Estágio IV: doença metastática (M1)

 

Segundo informações divulgadas pela família, Chadwick foi diagnosticado em 2016 já com estágio III, ou seja, com acometimento linfonodal, e acabou evoluindo nos anos seguintes para estágio IV, ou seja, doença metastática. Os locais de metástase mais comum no CCR são fígado, pulmões e peritôneo.

Tratamento do câncer de cólon. Dividimos em tratamento da doença localizada (até estágio III) e da doença metastática (estágio IV). Resumidamente, no caso de doença localizada, ele será composto por cirurgia (varia com o local da lesão) e quimioterapia neoadjuvante (antes da cirurgia) e/ou adjuvante (após a cirurgia) dependedo do estágio. No caso de doença metastática, deve-se avaliar a extensão da doença, porém pacientes com doenças metastáticas ainda podem ser tratados com intenção curativa, pois dependendo do local e volume da metástase, ela pode ser ressecável. Existem ainda como opções mais recentes as terapias biológicas e imunoterapia. Quando houver alto volume de doença, o tratamento de escolha é a quimioterapia sistêmica para aumentar o tempo de sobrevida. Para mais informações sobre o tratamento cirúrgico específico.

Aproveite esse momento para conscientizar seus pacientes e familiares sobre a importância do rastreamento do câncer de cólon.

Como fã dos filmes da Marvel, deixo aqui meus sentimentos pela morte precoce desse grande ator. Descanse em paz.

 

Rodrigo Junqueira - sócio-executivo do Jaleko, Head de Growth e Conteúdo, e médico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ.

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