Chadwick Boseman faleceu essa semana devido à um câncer de colon, terceira neoplasia mais frequente e quarta causa de morte por câncer em homens. Ele lutava contra a doença há 4 anos, quando descobriu já em estágio III.
Infelizmente, perdemos não só um ícone da cultura
pop, mas também alguém que deixou sua marca na luta contra a desigualdade
racial, ao interpretar o primeiro super-herói negro da Marvel. Impressiona ter
partido tão jovem, apenas aos 43 anos, por uma neoplasia que acomete pessoas
acima de 50 anos em mais de 90% dos casos. Vamos relembrar um pouco sobre essa
doença.
As lesões precursoras de grande parte das
neoplasias colorretais são os pólipos adenomatosos. O pólipo adenomatoso, do
tipo viloso, é o mais propenso à malignização. Essa malignização acontece na
maioria das vezes através de um processo chamado sequência adenoma-carcinoma,
em que ocorre um acúmulo progressivo de alterações genéticas e epigenéticas que
inativam genes supressores de tumores e ativam oncogenes. Os genes mais
comumente envolvidos são o oncogene k-ras e os supressores de tumor APC e p53.
Esse processo pode levar anos.
Câncer de cólon em pacientes jovens. A grande
maioria dos CCR acima de 50 anos ocorrem de forma esporádica, mas sua
ocorrência, principalmente em pacientes mais jovens, pode estar associada a
síndromes genéticas, como a polipose adenomatosa familiar (PAF), síndrome de
Lynch (câncer colorretal hereditário não polipose), síndrome de Peutz-Jeghers e
Polipose de Cólon Múltipla. Existe ainda o Câncer Colorretal Familiar e outros
fatores de risco que podem levar ao CCR mais precoce, como portadores de doença
inflamatória intestinal e de endocardite por Streptococcus bovis. Infelizmente,
os CCR em jovens, apesar de menos comuns, geralmente são mais agressivos e diagnosticados
em estágios mais avançados.
Taxa de mortalidade global vem caindo, porém a
incidência em pacientes mais jovens (< 50 anos) está aumentando.
Recomendações de rastreio através de colonoscopia em pacientes acima de 50 anos
com detecção e remoção precoce de pólipos colônicos e tratamentos mais eficazes
provavelmente justificam a queda na taxa de mortalidade. Entretanto, a piora de
hábitos de vida da população mais jovem, como aumento do consumo de carnes
vermelhas e processadas, baixa ingestão de vegetais e frutas, sedentarismo,
obesidade, etilismo e tabagismo, pode estar causando um aumento da incidência
do CCR esporádico em jovens.
Estadiamento do câncer de cólon. Os principais
exames utilizados no estadiamento são TC de tórax e abdome, CEA e colonoscopia.
Podemos utilizar o estadiamento de Dukes ou o clássico TNM (T=extensão do
tumor, N=acometimento linfonodal, M=metástase à distância). Vamos relembrar o
estadiamento TNM do CCR bem resumidamente:
Estágio I: T1 ou T2, N0, M0
Estágio II: T3 ou T4, N0, M0
Estágio III: Qualquer T, N positivo, M0
Estágio IV: doença metastática (M1)
Segundo informações divulgadas pela família,
Chadwick foi diagnosticado em 2016 já com estágio III, ou seja, com
acometimento linfonodal, e acabou evoluindo nos anos seguintes para estágio IV,
ou seja, doença metastática. Os locais de metástase mais comum no CCR são
fígado, pulmões e peritôneo.
Tratamento do câncer de cólon. Dividimos em
tratamento da doença localizada (até estágio III) e da doença metastática
(estágio IV). Resumidamente, no caso de doença localizada, ele será composto
por cirurgia (varia com o local da lesão) e quimioterapia neoadjuvante (antes
da cirurgia) e/ou adjuvante (após a cirurgia) dependedo do estágio. No caso de
doença metastática, deve-se avaliar a extensão da doença, porém pacientes com
doenças metastáticas ainda podem ser tratados com intenção curativa, pois
dependendo do local e volume da metástase, ela pode ser ressecável. Existem
ainda como opções mais recentes as terapias biológicas e imunoterapia. Quando
houver alto volume de doença, o tratamento de escolha é a quimioterapia
sistêmica para aumentar o tempo de sobrevida. Para mais informações sobre o
tratamento cirúrgico específico.
Aproveite esse momento para conscientizar seus
pacientes e familiares sobre a importância do rastreamento do câncer de cólon.
Como fã dos filmes da Marvel, deixo aqui meus
sentimentos pela morte precoce desse grande ator. Descanse em paz.
Rodrigo Junqueira - sócio-executivo do Jaleko, Head
de Growth e Conteúdo, e médico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRJ.
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