Pesquisa realizada pela FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) em conjunto com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), apontou que 88% dos pediatras do Brasil, entrevistados entre julho e agosto, disseram que as crianças têm apresentado alterações comportamentais, sendo as oscilações de humor as alterações mais frequentes na pandemia. Diante da situação, como os pais podem lidar com as emoções das crianças e ajudá-las a encarar o momento de maneira mais tranquila? Cláudia Onofre, educadora da Dentro da História, aborda as principais causas desses sentimentos e dá dicas de atividades que os pais podem e devem investir no dia a dia, entre elas a leitura!
Salas de aula vazias há praticamente seis meses,
crianças com uma rotina completamente diferente do que estavam acostumadas,
longe dos amigos, da socialização. De repente, aprender e brincar ficou
restrito apenas ao ambiente de casa. Essa mudança tem sido o fator dominante
para que as crianças passassem a apresentar trocas de humor mais frequentes,
tendendo para o lado negativo. Ainda de acordo com a pesquisa realizada pela FEBRASGO e SBP,
77% das mães relatam mau humor dos filhos durante a quarentena. O fato é que a
saúde mental dos pequenos tem sido uma preocupação constante na pandemia e a
falta da rotina que estavam habituados, tem significado um peso enorme. Segundo
a educadora Claudia Onofre, consultora da plataforma de livros Infantis Dentro
da História, aprender dentro de casa é algo possível e bastante indicado
nesses tempos. Para isso, vale desenvolver estratégias para deixar a rotina
mais amena, inclusive como forma de apoiar o aprendizado, desenvolver autonomia
e ajudar a criança a lidar com as próprias emoções.
:: PERÍODO SEM AULAS PRESENCIAIS NÃO
SIGNIFICA PERÍODO SEM APRENDIZADOS!
"As escolas de educação infantil perderam e
ainda estão perdendo até 80% dos seus alunos e a estimativa é que mais de 50%
fechem as portas," afirma Claudia. Um dos motivos para isso é que as
escolas também sentem pressionadas e tendem a passar uma quantidade gigante de
conteúdo. Como as crianças não têm maturidade ainda para lidar com tanta
demanda, é inevitável que a família seja envolvida no processo e fique
sobrecarregada.
"O melhor dos mundos seria a família e
escola darem as mãos e juntos olharem para um novo tempo que, mesmo com tantos
desafios, está sendo precioso por estimular a convivência diária, empatia,
respeito e valorizar em especial o vínculo afetivo que está sendo construído de
forma única".
Segundo a educadora, o aprendizado inserido na
rotina inclui: organização da casa, cozinhar, cuidar de si e do outro.
"Estes são conhecimentos adquiridos para a vida. As famílias que
exercitarem esse olhar contribuirão diretamente para cidadãos ativos,
participativos e certamente serão responsáveis pela construção de um mundo
melhor".
:: MAIS IMPORTANTES DO QUE NUNCA: OS
LIVROS!
As oscilações de humor das crianças têm solução!
Os pais podem administrar essas fortes emoções investindo em atividades ricas
em distração, aprendizado e aventura, como no momento da leitura. "O livro
acolhe, acalma e possibilita grandes viagens. Sempre indico que as famílias se
permitam viver ‘15 minutos de ouro’ por dia." A educadora ensina que neste
momento pais e filhos devem parar tudo que estão fazendo, desconectar do
celular, do computador, da televisão e se entregarem. Uma dica é escolher com a
criança um lugar para chamar de seu e que seja aconchegante. Jogar almofadas no
chão em cima de um tapete ou edredom e desfrutar desse momento. "Faça a
leitura, mostre as ilustrações, explore a história com gestos e tom de voz.
Depois, peça que a criança conte ou reconte a história, de asas à imaginação.
Tenho certeza de que irão se surpreender e esses 15 minutos de ouro
significarão um tempo maior de comunhão e afeto que só a leitura é capaz de
proporcionar", comenta Cláudia.
A educadora ainda destaca que, neste momento, a
leitura também aproxima, os familiares. "Avós, tios, padrinhos, podem
participar desses momentos, mesmo que virtualmente, contando histórias de algum
livro ou mesmo da vida real, que podem prender a atenção das crianças. Uma
ideia, por exemplo, é lembrar de quando receberam a notícia que os pais da
criança estavam grávidos, quando ela nasceu, o primeiro passeio etc.".
:: COZINHAR, CULTURA MAKER, E MUITAS OUTRAS
ATIVIDADES!
"Minha sugestão para que as crianças
continuem realizando atividades educativas, evitando inclusive o estresse
causado pelo tédio, é explorar a cozinha. Sim, cozinhar é o máximo!"
Para esta sugestão, a educadora lembra que a
internet está cheia de receitas incríveis, saudáveis e fáceis que as crianças
amam. Cozinhar é uma forma de explorar vários sentimentos, informações e
habilidades. Pode-se trabalhar a leitura da receita, a matemática das
quantidades de ingredientes, o controle da ansiedade com o tempo de preparo, a
magia de ver um bolo crescer dentro do forno, os sentidos do olfato, paladar,
visão.
Outras atividades educativas citadas pela
educadora envolvem explorar a cultura maker através de sucatas, e ainda
desafios que resultam em uma recompensa no final. "Existe uma infinidade
de blogs, incluindo o da Dentro da História, com muitas sugestões de
atividades que, inclusive podem estar ligadas à leitura do livro."
:: ATENÇÃO AO USO EXCESSIVO DOS ELETRÔNICOS!
O acesso à tecnologia, como uso de tablets e
celular, pode ser uma aliada dos pais, mas é importante haver equilíbrio. A
exposição em excesso às telas pode, inclusive, desencadear os sentimentos
negativos mostrados na pesquisa realizada pela FEBRASGO e SBP.
"Importante haver regras. Sugiro limitar
duas horas ao dia de uso de tablets e celulares. Importante também impor um
distanciamento mínimo da tela. A proximidade exagerada com a tela, mesmo
durante aulas on-line, pode levar a criança a ter sintomas de irritabilidade,
ansiedade, agressividade, isolamento e até mesmo queda do desempenho
escolar", explica Cláudia.
# 5 regrinhas para o bom uso das telas:
- Estabeleça um horário fixo no dia de acordo com
a faixa etária,
- Blinde os momentos da refeição,
- Selecione o conteúdo e acompanhe diariamente os
acessos,
- Interaja em alguns momentos, assistindo com a
criança os vídeos que ela mais gosta,
- Na hora de dormir, desconecte-se no mínimo uma
hora antes e não deixe a criança carregar o celular ou tablet no quarto.
# 5 dicas para rotina off-line
- Criança adora brincar! Os adultos podem e devem
reservar um tempinho para estimular brincadeiras, se entregando de corpo e alma
para o momento.
- Ensine as brincadeiras que mais gostava quando
criança: Roda, amarelinha, dança das cadeiras, corrida do ovo na colher.
- Quem conta com pouco espaço pode estimular a
criança a brincar com massinha, desenho, reciclagem de caixinhas em diversos
tamanhos e formatos.
- Música e dança são sinônimo de diversão. Que
tal brincar de estátua?
- Faça uma autocrítica e dê o exemplo. Se
o adulto estiver exagerando no uso do celular, será mais difícil convencer os
filhos
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