Com diagnóstico precoce e tratamento
correto, condições como edema macular diabético e degeneração macular
relacionada à idade podem ter outro final que não a perda da visão
Há 22 anos é comemorado o Dia Mundial da Retina, em 29 de
setembro, data criada para aumentar a conscientização sobre a saúde dos olhos e
alerta para os cuidados em torno desse órgão tão complexo. O primeiro relatório
global sobre visão da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que 2,2 bilhões
de pessoas vivem com deficiência visual ou falta de visão e, ainda, mais de 1
bilhão de casos poderiam ter sido evitados ou tratados1.
Os problemas de visão não são exclusividade de uma determinada faixa etária,
mas, segundo a OMS, 80% das 45 milhões de pessoas cegas no mundo têm idade
superior a 50 anos2. "Há uma conformidade por parte dessa população em
aceitar algumas das condições que os acometem, como quando começam a ter dificuldade
para enxergar, por exemplo. Esse conformismo tem diminuído com a progressão da
expectativa de vida, ao mesmo tempo em que a perda de visão causada por doenças
crônicas tem aumentado3", completa Maurício Maia, Presidente da Sociedade
Brasileira de Retina e Vítreo (BRAVS), e Professor Adjunto, Livre-Docente em
Oftalmologia do Setor de Cirurgia de Retina e Vítreo da Universidade Federal de
São Paulo.
Doenças crônicas comuns
A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) está entre as doenças crônicas
mais comuns que podem causar perda de visão ou cegueira, ocorre em uma parte da
retina chamada mácula e leva a perda progressiva da visão central4-6. É, depois
do glaucoma, a principal causa de perda de visão irreversível na população
idosa e estima-se que afete 196 milhões de pessoas em todo o mundo, um número
que deve aumentar para 288 milhões em 2040 7.
A DMRI é uma doença que pode ser confundida com diversas outras. Por isso, é
importante sempre conversar com um oftalmologista. O diagnóstico da DMRI é,
muitas vezes, feito através do Exame Oftalmológico.8,9,10. Devido à idade dos
pacientes, os sintomas da DMRI podem ser mascarados, dificultando o
diagnóstico. A doença é descoberta através da realização do exame de fundo de
olho11 a partir da suspeita clínica por parte do médico. Ele então pode
realizar um exame clínico e avaliação de acuidade visual e uma Tomografia de
Coerência Óptica. Nesse exame o paciente coloca o rosto apoiado no tomógrafo da
retina, olha para frente, para uma cruz que aparece na tela do aparelho. O
médico oftalmologista, de preferência que tenha especialização em doenças da
retina e vítreo (chamado de retinólogo), consegue fazer o exame e ver as
diversas camadas da retina, bem como fazer o diagnóstico.
Existem dois tipos da doença: a DMRI úmida (ou neovascular), menos comum com
cerca de 10 a 20% dos casos, com uma evolução rápida e severa com maiores
chances de perder a visão12,13,14,15,16; ou DMRI seca, que é responsável por
90% dos casos e apresenta uma evolução mais lenta com menos chances de perda de
visão12,13,14.
"A DMRI úmida ocorre quando há crescimento de vasos sanguíneos imaturos na
camada coroide, abaixo da retina, e acabam por estourar, danificando a mácula7.
A seca, acontece pela perda progressiva de células que tem a função de nutrir
essa camada (abaixo da retina). O acúmulo de depósitos de gordura, chamados
drusas, que aparecem nos exames como pequenos pontos amarelos, entre a camada
de células do epitélio pigmentado da retina (EPR) e a membrana de Bruch afeta a
capacidade da célula do EPR de nutrir e manter as células fotorreceptoras de
cone (responsáveis por reconhecer as cores), causando um declínio na
visão17", explica o Dr. Marcelo.
Até o momento, não existem terapias disponíveis para a DMRI seca, porém é possível
prevenir com a mudança de alguns hábitos de vida. A adoção de um estilo de vida
mais saudável pode reduzir o risco de DMRI e retardar a progressão da doença.
Já foi demonstrado que parar de fumar, manter uma dieta equilibrada e controlar
o peso, podem ser medidas benéficas8,9,10.
No caso da DMRI úmida (neovascular), a intervenção cirúrgica foi a principal
estratégia de tratamento no passado, mas atualmente a terapia anti-VEGF - que
bloqueia o Fator de Crescimento Endotelial Vascular (VEGF) - tornou-se a opção
de terapia mais comum e eficaz17.
No Brasil, apenas os medicamentos anti-VEGF que integram o rol da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e apresentam indicações específicas para o
tratamento da DMRI em sua bula, estão disponíveis gratuitamente pelos governos
de alguns estados18.
Impacto do diabetes na visão
Só no Brasil são 16 milhões de pessoas com a doença19, que é crônica. De acordo
com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), após 20 anos convivendo com a
doença, 90% dos pacientes com tipo I e 60% com o tipo II desenvolvem
Retinopatia Diabética (RD) e a principal causa do declínio visual é o edema
macular (EMD). O Prof. Mauricio Maia, chama a atenção para o fato de que quase
metade dos pacientes não sabem que são diabéticos. "Além do
desconhecimento sobre a doença, as pessoas também não sabemcomo o diabetes
afeta a retina, causando a retinopatia diabética em cerca de 30-40% de todos os
pacientes que convivem com a doença. E o mais agravante é que, em 8% dos casos,
ela resulta em cegueira legal em pessoas em idade produtiva no Brasil. O que
torna esse cenário um importante problema de saúde pública com enormes impactos
nas economias dos países, em especial, os em desenvolvimento, como o
Brasil", afirma.
A terapia com anti-VEGF impede a atividade desta proteína e retarda o progresso
do edema macular. "O ideal é que o paciente acompanhe de perto seu
diabetes, procure manter níveis controlados e trate os danos da visão assim que
começar a nota que há algo de errado", alerta o médico.
"Além de todas essas questões, apesar dos esforços governamentais, o
acesso dos pacientes de degeneração macular relacionada à idade e retinopatia
diabética ao tratamento com anti-angiogênicos, ainda é um problema de enorme
importância no Brasil, devido às dimensões continentais e peculiaridades do
nosso país", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo.
Cuide da saúde dos seus olhos
"As pessoas que têm o hábito de realizarem consultas de rotina todos os
anos, dificilmente incluem uma visita ao oftalmologista se não for necessário
ou apresentarem um sinal visível. No entanto, uma irritação, coceira ou até
mesmo vista embaçada, que pode durar segundos, são sinais de que a ida ao
consultório é necessária. Cuidar da visão, mesmo que não faça parte de algum
grupo de risco, é extremamente importante para evitar problemas graves e
irreversíveis no futuro", recomenda o retinólogo.
A Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo, apoiada pelo Conselho Brasileiro de
Oftalmologia e empresas privadas, criou a ONG PRO.VER, que tem como objetivo
incluir os pacientes portadores de retinopatia diabética e degeneração macular
relacionada à idade no tratamento com anti-angiogênicos, e minimizar, portanto,
os casos de cegueira por essas doenças no Brasil.
Novartis
Referências:
1. Em primeiro relatório global sobre cegueira, OMS diz que mundo poderia evitar metade dos casos. Disponível em: http://news.un.org/pt/story/2019/10/1690122. Acesso em agosto de 2020.
2. Dia Mundial da Visão tem como foco o idoso. Disponível em: http://hc.unicamp.br/dia-mundial-da-visao-tem-como-foco-o-idoso/. Acesso em Agosto de 2020.
3. 5 Diseases That Can Lead to Blindness. Disponível em: http://health.usnews.com/conditions/eye-disease/articles/diseases-that-can-lead-to-blindness. Acesso em Agosto 2020.
4. American Optometric Association. Age-related macular degeneration. Disponível em: http://www.aoa.org/patients-and-public/eye-and-vision-problems/glossary-of-eye-and-vision-conditions/macular-degeneration?sso=y Acesso em julho de 2020.
5. NIH- National Eye Institute. Facts about age-related macular degeneration. Disponível em: http://nei.nih.gov/health/maculardegen/armd_facts Acesso em julho de 2020.
6. American Academy of Ophthalmology. What is macular degeneration? Disponível em: http://www.aao.org/eye-health/diseases/amd-macular-degeneration Acesso em julho de 2020.
7. Wong, W. L. et al. Global prevalence of age-related macular degeneration and disease burden projection for 2020 and 2040: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob. Health2, e106-e116 (2014).
8. Kanski JJ. Oftalmologia clínica: uma abordagem sistemática. 6a ed. Rio de Janeiro:Elsevier, 2008;
9. MitchellP, Liew G, Gopinath B,Wong TY. Age-relatedmacular degeneration.Lancet. 2018 Sep 29;392(10153):1147-1159.
10. Ambati J, Ambati BK, Yoo SH,Ianchulev S, Adamis AP. Age-related macular degeneration: etiology, pathogenesis, and therapeutic strategies. Surv Ophthalmol. 2003 May-Jun;48(3):257-93
11. Schmidt-Erfurth U, et al. Br J Ophthalmol. 2014;98:1144-67;
12. Arroyo JG. Available at: http://www.uptodate.com/contents/age-relatedmacular-degeneration-clinical-presentation-etiology-and-diagnosis. Acesso em março de 2020.
13. Yonekawa Y, et al. J Clin Med. 2015;4:343-59.
14. National Eye Institute. Age-Related Macular Degeneration. Disponível em: http://www.nei.nih.gov/learn-about-eye-health/eye-conditions-anddiseases/age-related-macular-degeneration. Acesso em março de 2020
15. Spilsbury K, et al. Am J Pathol 2000;157:135-44
16. Ambati J, Ambati BK, Yoo SH, Ianchulev S, Adamis AP. Age-related macular degeneration: etiology, pathogenesis, and therapeutic strategies. Surv Ophthalmol. 2003 May-Jun;48(3):257-93.
17. Wong, W. L. et al. Global prevalence of age-related macular degeneration and disease burden projection for 2020 and 2040: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob. Health2, e106-e116 (2014).
18. ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Disponível em: http://www.ans.gov.br/ Acesso em março de 2019.
19. Sociedade Brasileira de Diabetes. O Que é Diabetes? Disponível em: http://www.diabetes.org.br/publico/diabetes/oque-e-diabetes. Acesso em setembro de 2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário