Atitudes dos líderes em tempos de pandemia
Estamos em julho de 2020 e completamos quatro meses
de quarentena. Nesse período vimos a quantidade de contaminados com o Covid-19
no Brasil superar 2.500.000 de casos e o número de mortes ultrapassar a triste
marca de 90.000 pessoas. Para piorar a situação, estamos sofrendo as
consequências dessa pandemia através da queda brutal da atividade econômica.
Segundo o IBGE, o varejo brasileiro em abril de 2020 apresentou um volume de
vendas 17% menor se comparado com o mesmo período do ano anterior. Quase 600
mil empresas encerraram suas atividades com a eliminação de milhares de
empregos. Somente postos de trabalho com carteira assinada já foram ceifados
1.200.000 mil empregos, segundo dados do CAGED, fora os trabalhadores
informais, que movimentam a economia do nosso país. Estima-se alguns milhões
impactados pela crise.
Diante dessas notícias, o que temos observado
diariamente nos noticiários são posicionamentos contraditórios das nossas
lideranças políticas, sanitárias, governamentais e empresariais.
Desde declarações infelizes (com raras exceções)
dos nossos governantes, que invariavelmente colocam a população em grande
dúvida de como devem se portar ou agir diante desse temido vírus, à ineficácia
nas ações por parte dos responsáveis pelas finanças federais, estaduais e
municipais, fazendo com que os empresários percam sua confiança e perspectiva
de futuro, até atitudes individualistas por parte de alguns empresários e setores
que os representam que demonstram nessa hora um verdadeiro “cada um por si”.
Vimos alguns exemplos negativos de abertura precoce de lojas em determinadas
cidades com um agravamento no número de contaminados na sequência e outros
tentando encontrar uma brecha na legislação para manterem seus negócios abertos
alegando serem itens de necessidade essencial. Por meio de casos como esse, que
observamos que uma grande parte dos líderes não está preparada para agir em
momentos de adversidade, pois foram moldados para o sucesso e não possuem
repertório para atuarem com cenário adverso, com algumas boas e raras exceções.
Ora, em momentos de adversidade o que esperamos das
lideranças é que nos encorajem, nos mostrem o caminho e que sejam transparentes
para conseguir o engajamento das pessoas. Nessa linha, merece um destaque a
Primeira Ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden, que tem dado um ótimo
exemplo à frente da crise do coronavírus. Ela diariamente concede coletivas de
imprensa, apresenta a evolução dos casos, mostra tudo com transparência e faz
com que o comprometimento seja bastante elevado, com uma altíssima taxa de
adesão ao confinamento e, consequentemente, a quase eliminação do vírus naquele
país.
Outra atitude inovadora vem das Lojas Renner,
criando uma estrutura de concessão de crédito aos pequenos e médios empresários
(fornecedores da empresa) para permitir a eles um fôlego financeiro para
suportar esse período de baixa nas vendas. Dessa forma, a empresa conseguiu
manter funcionando sua cadeia de fornecedores sem ter interrupções na sua linha
de distribuição e ajudou o fomento do empresariado local com a manutenção de
empregos fazendo com que a economia naquela região não se degradasse ainda
mais. Essa atitude foi motivada pela necessidade em socorrer esse pequeno
empresário, que não obteve acesso ao burocrático programa de crédito,
disponibilizado pelo governo federal, evitando com que toda uma cadeia de
distribuição quebrasse.
A verdadeira liderança é testada quando as coisas
não correm conforme o planejado ou quando saem do controle do líder, afetando a
capacidade de inspirar e envolver as pessoas para cumprir a promessa da
estratégia. A adversidade testa tanto o caráter de um líder quanto a força do
comprometimento e do envolvimento dos membros da equipe. O cenário com o “vento
a favor” facilita exercer a liderança, porém isso não é garantia de sucesso –
quando a organização passa por momentos de adversidades, dificilmente seus
líderes possuem repertório para superar esse desafio, cada vez mais comum no
dia a dia das empresas e potencializado nesse momento de pandemia.
Então, como mudar esse cenário? O que um líder deve
fazer quando surge uma adversidade? Em primeiro lugar, líderes eficazes mantêm
a calma e não deixam que aqueles que lidera acreditar estar em pânico e mais:
- Líderes eficazes dedicam um tempo para avaliar as
opções para lidar com as adversidades;
- Depois, eles ajustam a estratégia ou planejam
lidar com o desafio inesperado;
- E, por fim, eles se comunicam, se comunicam, se
comunicam! Isso significa diálogos abertos e transparentes sobre a adversidade
e planos para lidar com ela. O que também denota fornecer abertura para que
outras pessoas façam perguntas e comentários sobre o impacto dessa tal
adversidade em suas funções profissionais.
Líderes que não estão em contato com quem são e o
que sentem são menos eficazes. Eles podem rejeitar o feedback, deixar de ver
consequências negativas potenciais ou reais de suas ações, responder mal ao
estresse ou perder sinais importantes de relacionamento de outras pessoas.
Talvez o mais significativo seja que eles não lidam bem com a mudança. Somente
quando os líderes se entendem e reconhecem suas contribuições e limitações é
que eles demonstram resiliência e capacidade de adaptação.
Exemplo disso, escrevo sobre esse tema, como
coautor, em um capítulo do livro Liderando Juntos, publicado pela
Literare Books International, onde narro minha experiência vivenciada em
exemplos de como as lideranças se portaram mediante momentos de adversidade e
apresento um exemplo de sucesso que vale a reflexão.
Luiz Gustavo Tozo - Executivo
de carreira, foi de office-boy a CEO de empresa e ocupa posição de liderança em
grandes empresas há mais de 25 anos no segmento de seguros e meios de
pagamento. Atuou nas áreas de vendas, produtos, planejamento, estratégia e
gestão geral de negócios. Administrador de empresas com dois MBAs em Gestão
Empresarial, sendo um pela Fundação Dom Cabral e outro pela Fundação Getúlio
Vargas. Coautor do livro Liderando Juntos - Um novo olhar para a gestão
das gerações atuais, lançado pela Literare Books International
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