O mundo muda, as descobertas apresentam novas formas de
viver e abrem possibilidades em diferentes esferas, inclusive nos
relacionamentos. As inovações estabelecem métodos, mostrando que o tempo passa
e deixa marcas de aprendizados que são incorporados pela cultura das
sociedades. Falando em cultura, é possível incluir as organizações que buscam
aperfeiçoamento e renovação para se manterem competitivas no mercado.
O passar do tempo revelou para as companhias a importância do respeito pelos
sentimentos e também formas de como melhor trabalhar com as diferenças
individuais. As pesquisas de clima organizacional são parte de ferramentas que
viabilizam a investigação da realidade, necessidades e novos direcionamentos
que podem ser dados para uma melhor administração das pessoas.
A modernidade deixou claro que os atestados médicos, a depressão, a ansiedade
são gritos barulhentos de pessoas manifestando seus limites, muitas vezes
ultrapassados pela urgência da performance.
Incontestavelmente, esse mundo teve que mudar e respeitar um ritmo que é
diferente para cada pessoa. Depois das ferramentas de pesquisas e busca para
melhor compreensão da dinâmica atual da sociedade trabalhadora, ficou claro que
o aprendizado do momento é a empatia.
Empatia significa a capacidade humana de estar com a outra pessoa tentando
entrar no mundo dela, empenhando para melhor compreender as necessidades, o
ponto de vista, as experiências e sentimentos. Todos apresentam seus mundos
internos com emoções sentidas de maneiras peculiares e únicas. Seria injusto
pensar ou dizer:
- Mãe, você fica nervosa com seus filhos?
- Claro! Ou - Nossa, você tem inveja?
- Sim! Inveja é um sentimento normal do ser humano. Ou
- Nunca imaginei que, às vezes, você gostasse de ficar sozinha!!
- Por que não?
O processo empático envolve o não julgamento, mesmo porque até os super heróis
mostram suas fragilidades e precisam de olhares empáticos e não só de
expectativas. O Super Homem, com sensibilidade à criptonita, possui conflitos
pessoais envolvendo a condição de "humano". O homem e super-herói
Batman, que contraditoriamente tem medo de morcegos, o que justamente lhe dá
mais poder. Seja Marvel ou DC Comics, os super heróis, também evidenciam seus
reveses. Com a missão de salvar a humanidade todos carregam conflitos e
demonstram reflexões intra e interpessoais.
A gestão de pessoas das empresas é salvadora das cabeças pensantes que
trabalham? Será que significa ser o super herói das organizações? Pode ser, mas
cuidado com as expectativas, porque na vida real não é diferente, forças e
fragilidades aparecem, como também a necessidade de serem compreendidas em
muitos e diferentes momentos da vida. Todos vivem tristezas, alegrias, tensões,
ansiedades, medos. Até super heróis precisam ser compreendidos.
Talvez a grande dificuldade de ver que outras pessoas têm um mundo próprio,
esteja na comunicação. Conversar ouvindo o que o outro está dizendo é
complicado e muitas vezes é mais fácil dizer "não" e impor
demarcações de territórios e não precisar refletir ou perceber o sentimento
alheio.
Mas, o processo empático está em alta, colocando em cheque dificuldades de
relacionamentos. Querendo ou não é momento de pensar no próximo. De tentar
buscar a essência e alegrar-se com as conquistas do vizinho. As organizações, o
mundo dos resultados, as grandes e pequenas corporações já entenderam que o
colaborador precisa ser ouvido. Em 2019, a consultoria Businessolver divulgou
uma pesquisa que realizou com 1850 trabalhadores profissionais de RH de
empresas americanas.
O resultado mostrou que 79% das empresas reconhecem o processo empático como
sucesso dentro das companhias. A capacidade de ouvir o lado do outro tem sido
benéfico para gestores e colaboradores. Outro bom exemplo de pesquisa que
comprova resultados favoráveis da empatia foi realizada pela empresa de
consultoria The Empathy Business, que analisou 170 empresas americanas,
indianas e europeias. As dimensões foram referentes ao clima organizacional e
liderança e demonstraram que as empresas que investiam em desenvolvimento de
empatia lucravam 50% mais do que aquelas que os líderes não conseguiam se
conectar com os colaboradores.
Atualmente, os gestores compreendem que, se verdadeiramente perceberem seus
liderados, terão boas consequências, incluindo diminuição dos problemas de
saúde mental.
Muitas organizações já adotaram programas específicos para desenvolvimento do
processo empático, o que tem sido favorável para colaboradores, gestores e
organização.
Aprender a ouvir e ver que a moeda tem sempre dois lados, tem sido tema de
ações importantes que implicam envolver, inclusive, famílias dos integrantes
das equipes. Se super-heróis tem fantasmas nos seus mundos internos e precisam
de tempo e "colo" empático, imaginem os humanos!
Elisa Leão - professora
doutora de Psicologia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, psicóloga
clínica e palestrante.
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