Pai de paciente do Boldrini encontra forças no filho na luta contra o câncer
Ederson e o filho Gabriel sempre juntos no enfrentamento do câncer.
Há cerca
de três anos, o operador de máquinas Ederson Buzatto viveu o que ele descreve
como “o dia mais estranho de sua vida”. Seu filho, Gabriel, na época com seis
anos, foi diagnosticado com câncer e começava uma batalha contra a doença, que
segundo o pai, é uma lição de vida e de amor dada pelo filho.
“O
Gabriel começou a ter dor na perna esquerda. Se queixava muito, levamos ele ao
hospital e nada. A dor passou. Até que uma semana depois do início da dor, eu
estava fazendo uma massagem na outra perna dele e descobri um caroço. Como ele
tinha uma consulta já agendada com a endocrinologista, ela mesma pediu o
ultrassom. Fomos a um ortopedista depois e ele pediu uma ressonância”, lembra.
O
resultado do ultrassom ficou pronto e a partir daí a vida da família mudou, que
ainda conta com a filha Julia, que na época tinha 2 anos. “Era uma sexta-feira,
quando minha esposa, Ivonete, levou o resultado na médica. Ela me ligou no
trabalho, em outra cidade, e me pediu para ir ao hospital. Ali eu já sabia que
algo estava errado. Chorei muito”, conta emocionado.
A médica
explicou que o ultrassom revelou um tumor e encaminhou Gabriel ao Centro
Infantil Boldrini. Contudo, era sexta-feira e o encaminhamento aconteceria só
segunda. “Me lembro de ter sido um final de semana muito triste e de muito
choro. Me desestabilizou. O nascimento do Gabriel foi o dia mais feliz da minha
vida, mas aquele, o dia do diagnóstico, foi o pior”.
A chegada
ao Boldrini
Ederson e o filho Gabriel em sua primeira internação.
Ederson
lembra que foi com a esposa e Gabriel ao Boldrini e que logo o primeiro
tratamento começou. “Sessões de quimioterapia, radioterapia e uma possível
cirurgia, que hoje sabemos que seria a amputação. Na época a dor já estava nas
duas pernas. Me lembro de estar chorando muito e uma mãe de paciente vir me
consolar, me confortar. É isso que acontece no Boldrini”, recorda.
O pai
sempre fez questão de estar ao lado do filho. Conta orgulhoso que antes da
doença levou Gabriel para fazer karatê e ao acompanhar as aulas, decidiu se
matricular também. “Somos muito parceiros. Sempre fiz questão de estar junto a
ele no tratamento. Ficar com ele nas internações à noite para ir trabalhar em
Nova Odessa durante o dia. Vejo que isso não é muito comum. Normalmente são
mães e avós que acompanham os filhos. Estar ao lado dele me dava forças”,
explica.
A cumplicidade
entre pai e filho é explícita. “No começo, ele tinha medo da injeção, de tirar
sangue para os exames e eu estava lá ao lado dele, muitas vezes tendo que
segurá-lo. Quando o cabelo dele começou a cair, fizemos um trato. Ele raspou a
minha cabeça e eu, a dele. Queria mostrar que estava tudo bem”, recorda.
Cúmplices, pai e filho rasparam a cabeça durante o tratamento de Gabriel .
E foi a
luta de Gabriel que incentivou Ederson nos momentos mais difíceis. “A primeira
rodada do tratamento foram seis meses de quimio. Depois descobrimos que a
metástase havia se espalhado por outros órgãos. E ele mudou o protocolo de
atendimento. Hoje, o Gabriel está no terceiro tratamento, sem interrupções. Mas
não perdemos a fé. Quando tudo começa, você tem uma sensação de impotência
muito grande. Você nunca imagina que isso pode ou vai acontecer com o seu
filho. Mas o pedido de pai e mãe para Deus tem valor e gente se apega nisso”.
A rotina
dos tratamentos no hospital Boldrini, segundo o pai, está sendo um ensinamento.
“A gente desenvolve relação, amizade mesmo, com outros pais. Eu sempre me
lembro daquela mãe que me confortou logo que chegamos ao Boldrini e busco fazer
o mesmo com os novos pais. A gente conversa, dá força, faz amizade. O Gabriel
também fez amigos. Um deles é o Arthur. Eles se encontram sempre. Até mesmo
quando não é dia de um tomar quimio o outro pede para ir para estar junto. Com
isso, nós, os pais, viramos amigos também. São histórias bonitas que se
constroem lá”, conta.
Enfrentando
a doença pela terceira vez, Gabriel não desanima e não deixa os pais
desanimarem. "Foi um aprendizado para todos nós. Mas, com certeza, os
papéis se inverteram e ele me ensina muito mais sobre a vida do que eu a ele.
Eu sinto muito quando não posso estar fisicamente com ele todos os dias no
hospital, mas sei que ele sabe que estou ao lado dele. Ele é um garoto muito
mais forte do que eu. Ele me ensina todos os dias. O maior desejo de Dia dos
Pais só pode ser um, ter ele bem conosco”, finaliza.
Família Buzatto, durante ida ao Boldrini. Clique na imagem para baixá-la em alta resolução.
Sobre o
Centro Infantil Boldrini
Centro
Infantil Boldrini − maior hospital especializado na América Latina, localizado
em Campinas, que há 42 anos atua no cuidado a crianças e adolescentes com
câncer e doenças do sangue. Atualmente, o Boldrini trata cerca de 10 mil
pacientes de diversas cidades brasileiras e alguns de países da América Latina,
a maioria (80%) pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Um dos centros mais
avançados do país, o Boldrini reúne alta tecnologia em diagnóstico e tratamento
clínico especializado, comparáveis ao Primeiro Mundo, disponibilidade de leitos
e atendimento humanitário às crianças portadoras dessas doenças. www.boldrini.org.br
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