Especialista
fala sobre os malefícios a médio e longo prazo para a saúde de quem toma
remédios sem prescrição
Uma pesquisa
realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto
Datafolha, constatou que a automedicação é um hábito comum entre 77% dos
brasileiros. A mesma pesquisa apontou que 32% dos pacientes têm o hábito de
aumentar as doses prescritas por médicos para potencializar os efeitos terapêuticos. Segundo a
infectologista e professora da Estácio, Dra Karis Rodrigues, essa prática pode
ter consequências inesperadas e graves.
De acordo com a
especialista, durante o inverno, com o aumento das infecções respiratórias,
além do surgimento da Covid 19, a procura pela automedicação sempre aumenta,
principalmente com relação às infecções virais respiratórias mais brandas que
são eventos que se repetem anualmente, com alguma frequência.
- É comum que as
pessoas usem medicamentos que já utilizaram anteriormente. A propaganda de
medicamentos para sintomas respiratórios, vinculadas nos meios de comunicação,
também contribui para automedicação, bem como reforça a autonomia do paciente,
dizendo que o médico deverá ser consultado apenas se os sintomas persistirem - comenta a
infectologista.
A automedicação
também pode ser uma forte aliada dos diagnósticos mais tardios, como
pneumonias, otites, meningites, sinusites, entre outros, pois as pessoas
insistem no uso de alguns remédios aguardando uma melhora, daí acabam não
percebendo um quadro um pouco mais grave. Na visão da Dra Karis Rodrigues, essa
situação se torna ainda mais preocupante, quando se incluem nesses
medicamentos, os antimicrobianos. Porque além dos efeitos adversos que podem ocorrer,
o impacto no aumento da circulação de microrganismos resistentes aos
antimicrobianos também é um dano relacionado à tal prática. Para ela,
felizmente, o maior controle da compra destes remédios, realizado por meio da
exigência das receitas médicas, diminui esse risco. A equação é bem simples:
quanto mais se cumprir a norma, exigindo as receitas, menor deverá ser a
automedicação.
Segundo alguns
especialistas, o uso desenfreado por antibióticos e os tratamentos
interrompidos por conta própria trouxe consequência drástica e contribuiu para
que as bactérias criassem resistências aos antibióticos e hoje então temos as
superbactérias.
- É importante
ressaltar que o uso de antimicrobianos em si contribui para a seleção de
bactérias mais resistentes a esses medicamentos. Dessa forma, devemos
restringir ao máximo seu uso, para minimizar esse problema. Quanto mais
antimicrobianos usarmos, maior será o impacto na seleção das bactérias e,
portanto, maior a chance de surgimento das chamadas "superbactérias, que
são microrganismos para os quais há pouca ou nenhuma opção para tratamento. O
uso inadequado, exagerado, contribui para esse efeito, sem trazer absolutamente
nenhum benefício - afirma a especialista da Estácio.
Outro alerta importante é evitar a
compra, por conta própria, de anticoagulantes nas farmácias, acreditando que
poderá tratar a Covid-19 sem nenhum acompanhamento médico. A Dra Karis
Rodrigues enfatiza que os anticoagulantes são medicamentos usados em situações
clínicas muito específicas, sob supervisão médica e que em nenhuma hipótese
podem ser utilizados como automedicação. Hemorragias são efeitos adversos
desses medicamentos, mesmo quando são indicados nas situações clínicas
específicas.
Riscos iminentes à
saúde
Os principais riscos
da automedicação são a intoxicação, afetando principalmente o aparelho
digestivo; a interação medicamentosa, cujo efeito se dá devido ao consumo
simultâneo de medicamentos ou medicamento e alimento, causando a
potencialização ou atenuação do mesmo; a criação de resistência de
microrganismos aos antibióticos, e a dependência física e psíquica de remédios,
levando a crises de abstinência e tolerância ao medicamento.
A Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) calcula que 18% das mortes por envenenamento
no Brasil podem ser atribuídas à automedicação, e 23% dos casos de intoxicação
infantil estão ligados à ingestão acidental de medicamentos armazenados
em casa de forma incorreta. Os analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios
estão entre os que mais intoxicam.
Automedicação em
tempos de Covid-19
Em
tempos de pandemia, há uma busca desenfreada por medicamentos contra a
COVID-19, alimentada por uma avalanche de "fake news" nas
redes sociais que geram no paciente um estímulo para a prática da automedicação
e uso abusivo e irracional de medicamentos. Mesmo antes de sólidas comprovações
científicas de drogas eficazes contra a doença, remédios como ivermectina e
hidroxicloroquina desapareceram das prateleiras das farmácias, prejudicando
pacientes com indicações precisas para tais medicamentos, como doenças
reumáticas graves e verminoses.
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