A estimativa da Organização Mundial da Saúde é de que, a cada ano, cerca de 800 mil pessoas tirem a própria vida no mundo. O índice mostra que, apesar de ser ato individual, o suicídio é um problema de saúde pública. O tema é grave e urgente, por isso Organização Mundial de Saúde criou, em 2015, o Setembro Amarelo, efeméride cujo objetivo é engajar diferentes atores e instituições da sociedade na promoção de medidas preventivas ao suicídio.
Metre em psicologia clínica pela Unisinos, Fernanda Bittencourt Romeiro diz que
as estatísticas sobre suicídio podem esconder números ainda maiores, já que as
chances de subnotificação são altas.
"As estatísticas de que dispomos talvez não representem um dado real, na
medida em que muitos casos não são notificados ou registrados em boletins de
óbito como suicídio, mas como morte por violência autoprovocada e outros. Além
disso, nos registros oficiais há elevada taxa de indefinição dos meios
utilizados para o ato, o que prejudica a precisão e a estratificação dos
dados", explica a especialista.
O suicídio alcança indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades,
gêneros e orientações sexuais, já que decorre de uma combinação de fenômenos
alheios a tais características, incluindo transtornos mentais.
Para Romeiro, é importante estar atento à mensagem por trás da ideação suicida.
"Quando a morte se torna uma escolha, evidencia-se um grande sofrimento
emocional, em que a pessoa possui um repertório de enfrentamento muito reduzido
de estratégias para lidar com os problemas", relata.
Poder contar com profissionais de saúde mental, como psiquiatras, psicólogos e
psicólogas é fundamental para impedir que um transtorno superável culmine no
ato extremo do suicídio. São inúmeros os relatos de acompanhamento psicológico
que leva a pessoa a enfrentar seus problemas e encontrar meios de superá-los
que não seja tirando a própria vida.
"As psicoterapias, por exemplo, exercem um papel protetivo e preventivo de
doenças mentais. Precisamos atuar na prevenção muito mais do que no ‘incêndio’
do problema, evitando tantos desfechos negativos como a depressão e suas
consequências emocionais", frisa Fernanda Romeiro.
É preciso, contudo, vencer a barreira do preconceito. "Fazer terapia ainda
é, para muita gente, ‘coisa de quem está louco’", desabafa a profissional.
Para a psicóloga, a forma como lidamos e tratamos da questão está longe do
ideal, mas tem avançado à medida que o tema tem sido cada vez mais debatido
como problema de saúde pública. Nesse ponto, a campanha do Setembro Amarelo
adquire papel fundamental.
Advocacia - Com a finalidade de dar apoio psicológico à advocacia, evitando
desfechos trágicos, a Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo mantém a
plataforma de saúde mental CAAPsico, da qual a própria Fernanda Bittencourt
Romeiro faz parte.
"Toda ação que se propõe a discutir medidas de prevenção e prestar apoio
emocional a pessoas em risco de vida contribui para redução de casos de
suicídio e outros tipos de violência contra a própria vida", enfatiza a
psicóloga.
Acessível pelo site da Caixa de Assistência (www.caasp.org.br),
o serviço é indicado para quem deseja obter apoio psicológico ou mesmo aqueles
interessados em informações científicas sobre saúde emocional. A advocacia
também tem acesso a cartilhas e e-books sobre bem-estar e ao
"estressômetro" - um teste on-line para aferir o nível de estresse. O
acesso a tudo isso é gratuito. Quem necessita de atenção individualizada pode
recorrer a orientação on-line com profissionais de psicologia na própria plataforma,
todos credenciados ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) - mais de 1 mil
consultas já foram realizadas. O preço da consulta é menos de 50% do valor
praticado no mercado.
No Brasil há serviços públicos disponíveis para acolher aqueles em sofrimento
psíquico, como os Centros de Atenção Psicossocial e as unidades de saúde do SUS
(Sistema Único de Saúde). Outra unidade de referência no assunto é o Centro de
Valorização da Vida (CVV), responsável por promover apoio emocional e prevenção
do suicídio, atendendo gratuitamente, sob total sigilo, por telefone (188),
e-mail e chat 24 horas todos os dias.
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