Professora especialista em diversidade
da escola de negócios da Duke University analisa efeito dos protestos de
combate ao racismo no mundo corporativo e dá orientações para que a mudança
seja efetiva
Há três meses, o mundo vem dando voz a milhões de pessoas no
combate ao racismo. A morte de George Floyd estimulou protestos em inúmeros
países e, com isso, muitos executivos passaram a condenar urgentemente o
racismo dentro de suas organizações.
Para a professora especialista em diversidade
da Fuqua School of Business, da Duke University (EUA), Ashleigh Shelby Rosette,
essas declarações públicas são um começo, mas para promover um diálogo
autêntico e uma mudança real, os líderes empresariais precisam, primeiramente,
voltarem-se para dentro e avaliar o quão preparados estão para liderar esse
debate internamente.
"Raça é um dos tópicos mais difíceis de
discutir em nossa sociedade, especialmente quando se trata da experiência
negra", diz Rosette, cuja pesquisa concentra-se em liderança, negociação e
diversidade. "Historicamente, não nos sentimos à vontade ao olhar no
espelho as injustiças cometidas contra os negros e nem em reconhecê-las, de
modo que, com frequência, não dizemos nada. Presumimos que o que temos são uma
democracia verdadeira em nossa república e meritocracias reais em nossas
organizações, quando todos os indicadores sociais da saúde, da economia e da
educação sugerem inequivocamente que isso não é verdade", resume.
Em live promovida no LinkedIn da
Duke Fuqua, Rosette trouxe cinco perguntas que todo líder empresarial deve
responder para determinar se está realmente preparado para liderar discussões
legítimas sobre o racismo em suas organizações:
1. Você reconhece que as minorias raciais não são um grupo monolítico?
Rosette: Nas últimas semanas, vi pessoas
não-negras se esforçando para dizer as palavras negras ou afro-americanas ao
falar sobre raça. Não há problema em falar de um grupo.
Quando usamos o termo [politicamente correto em
inglês] people of color, devemos garantir que o fenômeno racial que descrevemos
afeta todas as pessoas não brancas de maneira que possa ser comparável. Se isso
não acontecer, não há problema em rotular e nomear o grupo racial de interesse.
George Floyd, Ahmaud Arbery e Breonna Taylor
eram todos negros americanos que morreram recentemente em incidentes que
demonstram o racismo incorporado em nossos sistemas. Portanto, neste momento,
muitas discussões estão focadas especificamente na experiência negra, enquanto
alguns elementos desses incidentes também podem se aplicar de maneira mais
ampla a todas as pessoas não brancas. É importante reconhecer que diferentes
grupos raciais e étnicos têm experiências muito diferentes e é importante
entender essas diferenças.
Esses são fenômenos fundamentalmente diferentes
e precisam ser tratados de maneiras fundamentalmente diferentes. E isso não
deve ser motivo de separação, mas sim de unidade, solidariedade e aliança.
2. Você sente empatia por pessoas de raças diferentes?
Rosette: Você está melhor preparado para
liderar a mudança se for capaz de ter empatia racial. Se seu colega, superior,
par ou subordinado, seja negro, asiático ou latino vem até você e diz que teve
uma experiência recente relativa à raça, é porque a experiência foi sobre raça.
Primeiro, reconheça a coragem que levou essa
pessoa, provavelmente de uma raça diferente da sua, a chegar em você para lhe
contar sobre algo que ela acredita ter sido racialmente motivado.
Muitas vezes, a resposta a esses relatos é de
descrença e demissão, rotulando-se a pessoa que compartilhou sua experiência
como "muito sensível". Mas lembre-se que você não conhece a história
dela, não conhece a dor dela e o que pode parecer um incidente inofensivo para
você, pode causar muita angústia no contexto vivido pelas minorias raciais.
3. Com que frequência você se coloca no lugar dos outros?
Rosette: A chave para liderar a mudança é
entender a história de outra pessoa. Os dois lados - tanto as pessoas brancas
devem trabalhar para entender as histórias das minorias raciais quanto as
minorias precisam buscar compreender a perspectiva das pessoas brancas.
Olhe ao seu redor para ver de quem você procura
aconselhamento com maior frequência. Eles se parecem com você? Pensam como
você? Tem o mesmo conhecimento que você? Eles são da mesma raça que você? Nesse
caso, você pode não estar preparado adequadamente para lidar com as discussões
sobre raça em sua organização.
As duas últimas décadas levaram a algum
progresso, mas o fato é que os homens brancos ainda compõem a grande maioria
dos executivos corporativos.
Isso significa que os homens brancos tendem a
selecionar e promover outros homens brancos. Ou seja, qualquer discussão sobre
raça que você possa ter pode não ter a perspectiva adequada ou, talvez, que
considerações raciais não sejam adequadamente levantadas em sua organização.
4. Você sabia que discutir raça é mais arriscado para as minorias?
Rosette: Falar sobre raça é inerentemente
arriscado, e ainda mais arriscado para as minorias raciais. Quando comparados
aos brancos, as minorias são desproporcionalmente convocadas a participar de
iniciativas de diversidade.
Isso significa que essas pessoas têm de fazer
seu trabalho normal e contribuir para a diversidade. Sempre trabalhando
bastante e, muitas vezes, sem o mesmo reconhecimento recebido pelos colegas
brancos. Além disso, o impacto emocional é grande quando se está envolvido em
um trabalho para a promoção da diversidade em paralelo à carga normal de
trabalho.
Por último, pesquisas recentes mostraram que
membros de minorias raciais que se dedicam ao trabalho de valorização da
diversidade eram percebidas como menos competentes e recebiam avaliações de desempenho
inferiores de seus chefes em comparação com pessoas dessas mesmas minorias que
não realizavam trabalhos sobre diversidade. O estudo não mostrou diferença nas
percepções de competência ou classificações de desempenho para brancos que
fizeram trabalhos de diversidade e inclusão.
5. Você entende que os protestos recentes são mais do que apenas sobre
George Floyd?
Rosette: As mortes, nos EUA, de Ahmaud Arberry
e Breonna Taylor e as ameaças contra Christian Cooper, um patrono negro do
Central Park, demonstram uma longa história de tratamento díspar contra negros
por autoridades de todo o país.
Lembre-se de que muitos desses crimes não foram
capturados em vídeo e transmitidos para todo o mundo, mas foram experimentados
por numerosos negros americanos e seus antepassados em todo o país.
Quando se pergunta a um colega negro sobre suas
experiências com o racismo, boa parte dessas histórias ocorreram no trabalho,
tema que estudei recentemente.
Os líderes que estão prontos para colocar a
mudança em andamento devem começar procurando lugares dentro de suas
organizações onde preconceitos, discriminação e o racismo possam acontecer -
contratação, promoções e salário.
Faça uma análise legítima e se comprometa com
mudanças reais. E, aqueles que não têm autoridade para tomar decisões dentro da
organização, devem saber que podem liderar mudanças, como voluntário e aliado.
Entre em contato com seus superiores e inicie discussões sobre raça. Não fique
calado.
Ashleigh Shelby Rosette - professora de diversidade da Fuqua School of Business
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