Há alguns anos atrás, participei de uma grande convenção internacional e ouvi um dos palestrantes dizer que gente nas organizações é a grande solução, mas também é o grande problema.
Nunca me esqueci
dessa frase que foi motivo para muitas reflexões em várias direções.
Nesse texto, vou
utilizá-la para provocar um assunto delicado que é a Síndrome de Burnout.
Caracterizada principalmente pelo estresse crônico causado, muitas vezes, por
condição desgastante de trabalho, pode-se dizer que o grupo de risco é formado
justamente por profissionais que trabalham com pessoas.
Professores,
médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, líderes religiosos,
dentre outros profissionais que trabalham diretamente com pessoas estão mais
expostos às tensões que o trabalho com "gente" provoca. É claro que o
fator desencadeante não é o contato direto com pessoas, mas esse somado às
pressões, às cobranças e aos critérios de uma boa performance, cada vez mais
exigentes, faz, principalmente, àqueles com predisposições a transtornos de
humor, desenvolverem a Síndrome de Burnout. Presente na Cid-10 (Classificação
Internacional de Doenças) dentro do quadro de manejo da vida, ou seja, é uma
doença que exige a consideração de como está o ambiente de trabalho e os
impactos desse lugar para a vida do trabalhador. Interessante que o trabalho
com pessoas pode ser extremamente gratificante, pois é baseado em
interatividade o tempo todo.
Solução?
Mas, como tudo tem
limite, a interação também. Não é toa que muitas vezes depois de uma semana
desgastante, o trabalhador quer ficar em casa sem correr o risco de precisar
conversar com outras pessoas que não os membros da família. Mesmo assim, olhe
lá.
Tudo tem limite até
para aquelas pessoas que parecem não serem humanas e parecem ser capazes de
servir infinitamente, como por exemplo os líderes religiosos.
Eles merecem e
precisam descansar, sair com amigos e conversar banalidades numa atmosfera onde
não precisam ser os "pastores" cuidando das ovelhas. Precisam
descansar.
O mesmo com o
Professor, o Psicólogo ou o Médico. Antes de cuidarem de pessoas, eles são
pessoas. São profissionais que ajudam no encontro de saúde física e mental, mas
também podem adoecer se não cuidarem da própria saúde física e mental.
Os sintomas da
Síndrome de Burnout são muitos e fazem parte do grupo das depressões. O excesso
de trabalho pode causar palpitação, insônia, alteração no apetite, no humor, na
atenção e concentração, sentimentos de fracasso e insegurança, sentimento de
incompetência. Imaginem tudo isso sentido por um profissional exemplar, que
sempre "deu conta" de tudo com maestria?
Mais pressão por
todos lados. A pessoa não se reconhece e ouve com frequência:
"Você está
diferente!"
"Você está
triste?"
"Você não era
assim!"
Gente pode ser a
solução, mas também o problema. Nada acontece por acaso e não é por acaso que a
semana tem 2 dias para descanso, que é importante fechar os olhos e apagar para
acordar no outro dia e dar continuidade a vida. Que é preciso esquecer um pouco
da profissão para ter prazeres que a vida pode proporcionar.
Sair com amigos,
conversar, gargalhar, assistir filmes, beber vinho, dormir, podem funcionar
como remédios para essa doença da alma que, se cuidada, vai embora deixando o
recado de que tudo tem limite e o trabalho também precisa compreender o seu
lugar na vida de alguém. Mas, esse alguém também precisa entender que o
trabalho exige limite para ser solução e para fazer das pessoas, solução.
Elisa Leão - professora doutora de Psicologia da Faculdade
Presbiteriana Mackenzie Brasília, psicóloga clínica e palestrante.
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