quarta-feira, 30 de setembro de 2020

QUARENTENA: COMO LIDAR COM AS OSCILAÇÕES DE HUMOR DAS CRIANÇAS E OUTROS DESAFIOS

 Pesquisa realizada pela FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) em conjunto com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), apontou que 88% dos pediatras do Brasil, entrevistados entre julho e agosto, disseram que as crianças têm apresentado alterações comportamentais, sendo as oscilações de humor as alterações mais frequentes na pandemia. Diante da situação, como os pais podem lidar com as emoções das crianças e ajudá-las a encarar o momento de maneira mais tranquila? Cláudia Onofre, educadora da Dentro da História, aborda as principais causas desses sentimentos e dá dicas de atividades que os pais podem e devem investir no dia a dia, entre elas a leitura!


Salas de aula vazias há praticamente seis meses, crianças com uma rotina completamente diferente do que estavam acostumadas, longe dos amigos, da socialização. De repente, aprender e brincar ficou restrito apenas ao ambiente de casa. Essa mudança tem sido o fator dominante para que as crianças passassem a apresentar trocas de humor mais frequentes, tendendo para o lado negativo. Ainda de acordo com a pesquisa realizada pela FEBRASGO e SBP, 77% das mães relatam mau humor dos filhos durante a quarentena. O fato é que a saúde mental dos pequenos tem sido uma preocupação constante na pandemia e a falta da rotina que estavam habituados, tem significado um peso enorme. Segundo a educadora Claudia Onofre, consultora da plataforma de livros Infantis Dentro da História, aprender dentro de casa é algo possível e bastante indicado nesses tempos. Para isso, vale desenvolver estratégias para deixar a rotina mais amena, inclusive como forma de apoiar o aprendizado, desenvolver autonomia e ajudar a criança a lidar com as próprias emoções.


:: PERÍODO SEM AULAS PRESENCIAIS NÃO SIGNIFICA PERÍODO SEM APRENDIZADOS!

"As escolas de educação infantil perderam e ainda estão perdendo até 80% dos seus alunos e a estimativa é que mais de 50% fechem as portas," afirma Claudia. Um dos motivos para isso é que as escolas também sentem pressionadas e tendem a passar uma quantidade gigante de conteúdo. Como as crianças não têm maturidade ainda para lidar com tanta demanda, é inevitável que a família seja envolvida no processo e fique sobrecarregada.

"O melhor dos mundos seria a família e escola darem as mãos e juntos olharem para um novo tempo que, mesmo com tantos desafios, está sendo precioso por estimular a convivência diária, empatia, respeito e valorizar em especial o vínculo afetivo que está sendo construído de forma única".

Segundo a educadora, o aprendizado inserido na rotina inclui: organização da casa, cozinhar, cuidar de si e do outro. "Estes são conhecimentos adquiridos para a vida. As famílias que exercitarem esse olhar contribuirão diretamente para cidadãos ativos, participativos e certamente serão responsáveis pela construção de um mundo melhor".


:: MAIS IMPORTANTES DO QUE NUNCA: OS LIVROS!

As oscilações de humor das crianças têm solução! Os pais podem administrar essas fortes emoções investindo em atividades ricas em distração, aprendizado e aventura, como no momento da leitura. "O livro acolhe, acalma e possibilita grandes viagens. Sempre indico que as famílias se permitam viver ‘15 minutos de ouro’ por dia." A educadora ensina que neste momento pais e filhos devem parar tudo que estão fazendo, desconectar do celular, do computador, da televisão e se entregarem. Uma dica é escolher com a criança um lugar para chamar de seu e que seja aconchegante. Jogar almofadas no chão em cima de um tapete ou edredom e desfrutar desse momento. "Faça a leitura, mostre as ilustrações, explore a história com gestos e tom de voz. Depois, peça que a criança conte ou reconte a história, de asas à imaginação. Tenho certeza de que irão se surpreender e esses 15 minutos de ouro significarão um tempo maior de comunhão e afeto que só a leitura é capaz de proporcionar", comenta Cláudia.

A educadora ainda destaca que, neste momento, a leitura também aproxima, os familiares. "Avós, tios, padrinhos, podem participar desses momentos, mesmo que virtualmente, contando histórias de algum livro ou mesmo da vida real, que podem prender a atenção das crianças. Uma ideia, por exemplo, é lembrar de quando receberam a notícia que os pais da criança estavam grávidos, quando ela nasceu, o primeiro passeio etc.".


:: COZINHAR, CULTURA MAKER, E MUITAS OUTRAS ATIVIDADES!

"Minha sugestão para que as crianças continuem realizando atividades educativas, evitando inclusive o estresse causado pelo tédio, é explorar a cozinha. Sim, cozinhar é o máximo!"

Para esta sugestão, a educadora lembra que a internet está cheia de receitas incríveis, saudáveis e fáceis que as crianças amam. Cozinhar é uma forma de explorar vários sentimentos, informações e habilidades. Pode-se trabalhar a leitura da receita, a matemática das quantidades de ingredientes, o controle da ansiedade com o tempo de preparo, a magia de ver um bolo crescer dentro do forno, os sentidos do olfato, paladar, visão.

Outras atividades educativas citadas pela educadora envolvem explorar a cultura maker através de sucatas, e ainda desafios que resultam em uma recompensa no final. "Existe uma infinidade de blogs, incluindo o da Dentro da História, com muitas sugestões de atividades que, inclusive podem estar ligadas à leitura do livro."


:: ATENÇÃO AO USO EXCESSIVO DOS ELETRÔNICOS!

O acesso à tecnologia, como uso de tablets e celular, pode ser uma aliada dos pais, mas é importante haver equilíbrio. A exposição em excesso às telas pode, inclusive, desencadear os sentimentos negativos mostrados na pesquisa realizada pela FEBRASGO e SBP.

"Importante haver regras. Sugiro limitar duas horas ao dia de uso de tablets e celulares. Importante também impor um distanciamento mínimo da tela. A proximidade exagerada com a tela, mesmo durante aulas on-line, pode levar a criança a ter sintomas de irritabilidade, ansiedade, agressividade, isolamento e até mesmo queda do desempenho escolar", explica Cláudia.


# 5 regrinhas para o bom uso das telas:

- Estabeleça um horário fixo no dia de acordo com a faixa etária,

- Blinde os momentos da refeição,

- Selecione o conteúdo e acompanhe diariamente os acessos,

- Interaja em alguns momentos, assistindo com a criança os vídeos que ela mais gosta,

- Na hora de dormir, desconecte-se no mínimo uma hora antes e não deixe a criança carregar o celular ou tablet no quarto.


# 5 dicas para rotina off-line

- Criança adora brincar! Os adultos podem e devem reservar um tempinho para estimular brincadeiras, se entregando de corpo e alma para o momento.

- Ensine as brincadeiras que mais gostava quando criança: Roda, amarelinha, dança das cadeiras, corrida do ovo na colher.

- Quem conta com pouco espaço pode estimular a criança a brincar com massinha, desenho, reciclagem de caixinhas em diversos tamanhos e formatos.

- Música e dança são sinônimo de diversão. Que tal brincar de estátua?

- Faça uma autocrítica e dê o exemplo. Se o adulto estiver exagerando no uso do celular, será mais difícil convencer os filhos


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